SOCIEDADE VS PARENTALIDADE. QUEM É QUE MANDA, AFINAL?

Joana Namorado, Clinical Director & Co-founder @thekindology Clinical Psychologist & Hypnotherapist

Mãe, pai, posso ter um telemóvel? Os meus amigos têm e eu não…” De repente, faz-se silêncio na sala, enquanto olhamos um para o outro como quem diz “lá se foi o plano por água abaixo…”

E assim começa a desenhar-se a vida de um pequeno ser que, certo das suas escolhas e comportamentos até então, sucumbe à pressão social (como não?) de ter o que os outros têm. Sucumbe ele e vergam-se os pais, que não têm alternativa se não ceder à pressão social de corresponder às expectativas do grande grupo. Vamos ser nós, pais “ranhosos”, a colocar o nosso filho fora do círculo? Sob os holofotes da vergonha? A fazê-lo sentir-se inferior?

Não há dúvida: não podes vencê-los, junta-te a eles!

Quer dizer, não é bem assim, mas a verdade é que o caminho da adolescência já é tão cheio de adversidades e desafios para resolver, que se há papel importante que os pais devem desempenhar é o de não colocar mais pedras no caminho.

A solução é garantir que entregamos aos nossos filhos uma extraordinária capacidade de pensarem pela sua própria cabeça, de serem confiantes e independentes nas suas tomadas de decisão.

Mas isto de propor soluções que não resultam em 95% das situações, é o mesmo que fazer promessas antes das eleições – já ninguém acredita.

Desengane-se quem pensar que, ao estar integrado numa determinada sociedade, consegue impor uma visão diferente e inquebrável. Quando nascemos, é-nos imediatamente colocada sobre as mãos uma caixa cheia de sugestões, expectativas, regras e preconceitos, onde se incluem os pais, os avós, os amigos, a vizinhança, a Escola ou as redes sociais.

É uma daquelas caixas que nos prega um susto sempre que se abre a tampa, por ter lá dentro um fantoche vestido de palhaço preso com uma mola… sabem? E, confesso, o único motivo pelo qual sou tão literal nesta descrição é porque, realmente, às vezes me assusto com o que sai de dentro da caixa.

O que vestir, o que comer, que carreira seguir, que consola comprar, que brinquedos ter… e a formação em “sociedade e tempos modernos” continua de forma antagónica com o que realmente importa: o reforço da autoconfiança, da autoestima e da autonomia, para que aquela criança cresça e faça as suas escolhas apesar e independentemente do mundo lá fora.

Então, o que é que depende de nós?

Bem, se por um lado a sociedade coloca pressão para obter resultados académicos e agir em conformidade com as expectativas do mercado, por outro lado os pais devem desenvolver as skills socio-emocionais e o espírito crítico dos filhos. O papel dos pais assenta em, declaradamente, proteger os filhos da exposição e das influências negativas, que se envolvem entre estereótipos e valores superficiais, numa tarefa tantas vezes inglória. Mas são também os pais que têm o poder de influenciar e moldar o futuro dos seus filhos e da sociedade, ao estabelecer um bom equilíbrio entre o amor incondicional e a aplicação de regras.

Bem sei que esta não é uma tarefa fácil, numa época em que as regras do jogo estão em permanente transformação e debaixo de um constante escrutínio, o que torna o crescimento numa aprendizagem para pais e filhos.

É uma montanha-russa e não há mãe ou pai que resista ao gap geracional que nos distancia do que acreditamos ser o acertado, porque “been there, done that”, mas já diziam os nossos pais: “eles precisam de bater com a cabeça para aprenderem à sua maneira”

– e perdoem-me os estrangeirismos, mas o TikTok está cheio deles, pelo que ou aprendemos ou perdemos. Não existe uma forma correta ou errada de criar filhos (sendo que eu não adoro a palavra criar – gosto mais de acreditar que ofereço ferramentas que os adolescentes podem utilizar da forma que quiserem – eles é que estão a criar) mas antes uma variedade de estilos parentais que podem funcionar em diferentes famílias e contextos.

No entanto, é importante que os pais sejam sempre sensíveis às necessidades e características dos seus filhos e que procurem oferecer um ambiente amoroso e harmonioso, de apoio e ajuda para que os filhos se desenvolvam de forma saudável, positiva e empática.