Rita Veloso concluiu a licenciatura em Psicologia na Universidade do Porto em 2004. Entre múltiplas funções, foi diretora do serviço de gestão de doentes do IPO do Porto. Hoje, é doutoranda em Tecnologias da Informação e Comunicação e vogal executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Porto.
Diz-se que quem corre por paixão não cansa. Então ao lado de quem se gosta, aquilo que já se anteveria fácil, torna-se “muito fácil”. Numa sociedade em que muito se fala sobre vocação, uns encontram-na no berço, outros vão-na adquirindo, com a experiência. Para Rita Veloso, o amor pela profissão é algo que não se pode forçar. Ainda que seja um amor difícil de definir por palavras, “é muito fácil de reconhecer” quem o sente de forma verdadeira. “A paixão surge, tendencialmente, de uma forma natural e que pode ser transportada entre os vários cenários ao longo da vida.”
Numa altura em que cada vez mais se expõe a importância da saúde mental, quer em contexto pessoal, quer em contexto profissional, Rita Veloso acredita que o psicólogo tem de ser alguém em quem “instantaneamente confiamos, acreditamos e reconhecemos esse lado humano e científico”. No fundo, um psicólogo é como um amigo. Também ouve, também protege, também ajuda. A diferença é que “fá-lo partindo de uma posição e de um saber diferente em que a relação de proximidade é estabelecida pela empatia, pelo reconhecimento dessa posição, sem se focar apenas nos problemas, mas em todo o fun- cionamento do comportamento dentro de um determinado contexto, tendo por base técnicas suportadas em evidência científica de acordo com a teoria que mais se adequa ao tratamento da problemática.”
Apesar da psicologia ser a sua grande paixão, seria redutor dizer que Rita Veloso é “apenas” psicóloga. Como se a profissão já não fosse árdua o suficiente, a doutoranda em Tecnologias da Informação e Comunicação é também líder, numa sociedade em que poucas mulheres o são. “Nem sempre tem sido fácil. Muitas foram as reuniões em que senti que me tinha de preparar previamente e dotar-me da melhor informação possível, para que a minha tomada de decisão enquanto mulher fosse tida em conta.”
Ainda que, hoje em dia, a sensibilização para a igualdade de género seja mais evidente, muitas foram as vezes em que Rita Veloso se sentiu “fator-surpresa, principalmente em temas ligados à tecnologia precisamente por ser mulher”, como se “não fosse suposto ter interesse e conhecimentos técnicos numa área que tem vindo a ser dominada pelo género masculino.
Como Rita Veloso defende, a liderança “não se explica, sente-se”. Sempre com a “autodeterminação e autoconsciência” de uma líder de sucesso, mas com a “humildade” de quem é capaz de reconhecer a capacidade de “pessoas que irão saber muito mais sobre os mais diversos temas.”
Para além de ser líder em contexto profissional, a ex-diretora do Serviço de Gestão de Doentes do IPO do Porto, acumula as funções de mãe, mulher e aluna. Embora os dias de Rita apenas tenham, como não poderia deixar de ser, vinte e quatro horas, os mesmos desdobram-se em vários “turnos”, que fazem com que tudo seja possível de conciliar.
“Devo confessar que nunca me senti “menos” profissional por ter de sair mais cedo do trabalho para, por exemplo, ir assistir a uma atividade dos meus filhos e nunca me senti “menos” mãe por ter de deixar os meus filhos a almoçar/jantar sozinhos para dar resposta a algo relacionado com o meu trabalho. Também tive de ir aprendendo a dizer “não” ou “não agora” para que este equilíbrio pudesse existir. Passar a pensar, antes de agir e tomar decisões que impliquem este dois papeis, também tem ajudado. Facilmente descobrimos a cada momento, em que devemos apostar a nos- sa atenção e aprender a compensar.”
Uma coisa é “liderar” crianças. Outra tarefa completamente diferente é fazer o mesmo com adultos, também eles pais. Ou então não. Para Rita Veloso, “são inúmeros os exemplos em que estas lideranças se cruzam”. Enquanto líder, a vogal executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Porto dá o exemplo de uma situação em particular que demonstra a proximidade destes dois tipos de liderança.
“Tinha o meu filho de cerca de 5 anos a sair do carro e pedi-lhe que vestisse o casaco. Perguntou-me porquê. Eu respondi que está frio. Ele volta a perguntar porquê. Eu digo “porque eu estou a dizer”. Na verdade, quem nunca se confrontou com uma situação idêntica junto das suas equipas? Por vezes, por muito que tentemos ouvir e explicar as nossas decisões, e apesar de sabermos que quem nos ouve compreendeu claramente a mensagem, o objetivo das questões é apenas desafiar. Nesses momentos, a autoridade inerente ao papel, tem de surgir naturalmente.”
Liderar uma casa é difícil. Liderar uma equipa também. Quando esta tem mais de 150 trabalhadores, ainda mais. No entanto, ser difícil não significa que é impossível. Muito menos para Rita Veloso. “Apenas” é preciso estar “diariamente com a equipa, conhecendo de forma muito próxima cada um dos elementos”, mas com o dis- tanciamento desejado, para que “se possa ser justa”, o que nem sempre é fácil “quando não se está o suficientemente afastada das opiniões dos outros”.
No fundo, para Rita Veloso, tudo se resume a algo muito simples, porém apenas acessível a alguns: fazer a diferença. Seja no trabalho ou em casa, a (também) Professora na pós-graduação em Gestão de Unidades de Saúde no ISAG, gostava que o maior ensinamento que os alunos levassem do seu período enquanto docente, fosse a vontade de fazer melhor e de inspirar o próximo.
Psicóloga. Líder. Professora. Mãe. Mulher. Sendo isso tudo e muito mais, Rita Veloso fala com conhecimento de causa. Com base nesse conhecimento, aconselha todos os que pretendem ser bem-sucedidos nas várias dimensões da vida, a acreditar inabalavelmente nas suas competências, pois “se sabem que conseguem, se sabem o que querem e se estão disponíveis para lutar, será só uma questão de tempo.”
Afinal de contas, “no final do dia, faltará sempre menos um dia.”