HÁ QUÍMICA ENTRE SER PROFISSIONAL E MULHER?

Carla Padrel de Oliveira, Reitora da Universidade Aberta
Independente, decidida e capaz. É assim que se apresenta Carla Padrel de Oliveira, uma Mulher de sucesso e conquistas sem fronteiras que encara a própria condição como privilégio e oportunidade, sempre reconhecendo as desigualdades que prevalecem.
Atualmente Reitora da Universidade Aberta, ingressou na área da Engenharia Química e tem um currículo repleto que, humildemente, encara como um conjunto de etapas do seu percurso académico. É Reitora, Mulher e acredita que está perante desafios superáveis.

Carla Padrel de Oliveira considera-se uma Mulher independente que sempre foi estimulada a sê-lo. Apesar de se ter dedicado estudar a junção das moléculas e as reações químicas dos compostos que nos originam enquanto Ser Humano, acredita que a melhor motivação e inspiração que podemos ter para alcançar grandes vitórias está nas ligações covalentes que surgem desde o berço e que as bases são transmitidas pelos educadores, começando em casa. Integrante do mundo educativo, vê a educação como a arma: “A educação e o exemplo dos meus pais foram muito importantes.”

Apesar da ausência de pressões, diz ter sido “estimulada a escolher o caminho, a pensar pela própria cabeça e a fazer bem o que tinha de fazer.” Foi com este sentimento de orientação e independência que, no momento em que ingressou na Universidade de Lisboa, foi a Faculdade de Ciências que escolheu para construir as bases de um conhecimento sólido na área da Engenharia Química.

Atuou como engenheira durante vários anos, tendo-se cruzado com colegas, na maioria homens, mas sempre se sentiu segura das suas valias e a ameaça de temas como o assédio ou a desigualdade de género no local de trabalho, não a encarou: “desconheço por completo essa realidade (…), nunca me senti discriminada nem excluída.”

Apesar disso, assume a presença destes temas gritantes da sociedade, que permanecem atuais passados tantos anos de luta e continuam a ser alvo de preocupação constante: “Com isto não quero dizer que não existam situações de desigualdade ou assédio. (…) Ninguém deve exercer pressões ou abusar verbal e fisicamente de outro ser humano. (…) O assédio existe e deve ser combatido porque põe em causa os Direitos fundamentais e de integridade de uma pessoa.”

Regressando às memorias da sua experiência além-fronteiras, nomeadamente em projetos de cooperação com PALOPS (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), entende existirem países em que este tema ocupa lugares de destaque pela presença imponente de atos discriminatórios contra as Mulheres e pela prevalência de focos de desigualdade no que respeita à educação e atuação profissional. “Existem ainda inúmeros países onde as mulheres continuam em segundo plano e em que são menorizadas. É uma luta que está longe de chegar ao fim e exige um esforço continuado (…). Na minha experiência profissional em Africa já fui confrontada com situações desta natureza.”

Contudo, reitera estar perante um assunto transversal a outros aspetos da realidade Humana, como trabalho não remunerado, por exemplo, pelo que acredita ser um tema englobado na questão dos Direitos Humanos.

Apesar de ver a ameaça ao lugar da Mulher como um tópico mundial, no nosso país a situação releva-se-lhe, na generalidade, menos preocupante. Um olhar sobre o passado e a aposta que tem sido feita na instrução e sensibilização, acredita que “a sociedade portuguesa tem evoluído e o fosso entre homens e mulheres tem vindo a diminuir.”

Com o tema do desafio feminino em vista, a Reitora acredita nas conquistas histórias que conduzem à atual diminuição das assimetrias de género sem descartar a possibilidade de melhoria. A política, a educação e a consciencialização são ferramentas tidas como indispensáveis a uma luta de guerreiras que se querem afirmar, posicionar e ser bem-sucedidas profissionalmente sem negligenciar a vida pessoal, numa conciliação de aptidões inatas à condição de ser Mulher na Liderança. “Temos de conhecer o nosso valor e ter confiança nas nossas capacidades.”