O desafio de coordenar a secção de Marketing de dois mercados

Cátia Pitrez é a atual Chief Marketing Officer da ConsumerChoice – Escolha do Consumidor que lida, todos os dias, com dois mercados muito diferentes – o de Portugal e de Espanha. A marketeer fala-nos um pouco do seu percurso, dos principais desafios enfrentados na ConsumerChoice e dá o seu exemplo como mulher num cargo de liderança por escolha.

Cátia Pitrez licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se em Marketing Management, uma área do qual nunca mais saiu. Quando começou o seu percurso profissional, o marketing ainda não tinha migrado para o digital e, por isso mesmo, chegou a desenvolver funções mais tradicionais em cargos como relações públicas na Câmara Municipal de Vila Real e marketeer na AEIOU.

É já na OgilvyOne – agência de marketing relacional do grupo Ogilvy&Mather – que Cátia passa pela sua primeira experiência de marketing digital, tendo tido a oportunidade de migrar toda a comunicação da Nestlé, que até ali era feita em papel (alguns exemplos fornecidos por Cátia são “folhetos, cartas, catálogos”), para o digital, isto é, “sites, emails, apps, redes sociais.”

“Esta mudança ensinou-me que, independentemente dos canais e meios que temos
para comunicar, temos de ter sempre uma estratégia; só assim poderemos ter sucesso”

A marketeer refere que esta passagem do marketing tradicional para o digital aconteceu de forma muito natural, sendo que surgiu a “necessidade de me adaptar aos desafios e projetos em que me ia envolvendo.”

“Na verdade, já não me recordo o que é trabalhar na era “pré-digital”

Esta necessidade de adaptação levou a que Cátia também se especializasse em outras áreas, através de formações, sendo elas o Programa Geral de Gestão, o de Facebook &  Instagram Ads, o de Inglês e o de Fotografia. A chief marketing officer utilizou a expressão “o saber não ocupa lugar” para justificar todas a formações que foi fazendo, para além de ter que responder positivamente aos desafios que foram surgindo na sua carreira.

“É cada vez mais importante ter conhecimentos em áreas diversas para estarmos aptos a lidar com os desafios do mercado atual”

Contudo, Cátia alerta que as formações não são tudo e é necessário haver muito empenho na realidade prática para que tudo resulte. A formação e a experiência complementam-se.

Hoje, os profissionais de marketing mais jovens acabam por ter uma vantagem em relação aos mais antigos, uma vez que já cresceram num ambiente onde existiam redes sociais e internet. Estes nativos digitais acabam por ter uma maior compreensão das várias ferramentas digitais e utilizam-nas de forma mais eficiente. Isto não quer dizer que a anterior geração não seja tão boa profissional quanto a nova, porque é essencial ter outras competências para se poder ter sucesso profissionalmente: “a capacidade de nos adaptarmos às mudanças constantes, a criatividade, a capacidade de comunicação e a compreensão dos objetivos de negócio”, como explica Cátia Pitrez.

“Acredito que para sermos um bom marketeer não precisamos de dominar as ferramentas digitais do ponto de vista técnico, mas devemos saber que existem, e devemos entender as suas potencialidades e de que forma as podemos aproveitar para alavancar os nossos produtos/serviços”

Foram todas estas competências e conhecimentos que Cátia foi aplicando ao longo de 10 anos na ConsumerChoice – Escolha do Consumidor e agora mais recentemente como Chief Marketing Officer, coordenando tanto o marketing da agência em Portugal, como em Espanha. A profissional de marketing revela que todos os conhecimentos adquiridos permitiram-lhe “criar estratégias de comunicação 360, abordando os diversos touchpoints da relação B2B e B2C” para a ConsumerChoice e “ter ferramentas de gestão de equipas e projetos” que a ajudaram a ter maior eficiência e produtividade no trabalho, para além de ter sido fulcral para resolver os desafios que iam surgindo.

Assumindo as funções de direção de Marketing da empresa, como Chief Marketing Officer, Cátia revela que ganhou uma nova liberdade, mas também uma nova responsabilidade. É a partir desta que Cátia define os seus principais objetivos para o plano de Marketing da empresa, sendo o primeiro “encontrar soluções criativas para chegarmos de forma pertinente aos nossos clientes e consumidores”. Esta necessidade de criatividade é cada vez mais essencial para se poder destacar dos seus concorrentes e, hoje em dia, com tanta informação, ser criativo não é uma tarefa fácil. Contudo, Cátia deixa algumas dicas para se conseguir destacar no mercado: são elas a “criação constante de novos produtos”, que consigam responder às necessidades do mercado, a “implementação de marketing de conteúdo”, partilhando com o cliente e com o consumidor “conteúdo de alta qualidade e relevante” e, por fim, estar sempre ao lado, mais uma vez, do consumidor, tanto através das redes sociais como na vida real, praticando marketing mais tradicional.

Não nos podemos esquecer que Cátia Pitrez atua no mercado português e no espanhol, que por si só acaba por ser ainda mais desafiante. São dois países muito diferentes e consecutivamente os seus mercados também. “Os maiores desafios podem ser as diferenças linguísticas e culturais e o tamanho do mercado, que é bem diferente do nosso”, explica a coordenadora de marketing. Cátia compara esta situação à da emigração, revelando que é como “começar de novo” – “Temos de criar novos laços (parcerias), conhecer os vizinhos (concorrentes), fazer amigos (clientes).” Inserir-se no mercado espanhol foi toda uma nova aprendizagem, em que teve de criar de raiz toda a sua estratégia de marketing e entender a que velocidade tudo acontece em Espanha. Em contrapartida, Cátia confessa estar tudo a correr bem, tendo a ajudá-la uma grande equipa.

Recentemente a profissional de marketing também tirou a formação de “Hapiness Manager”. Esta formação já não soa a desconhecido, isto porque é a integrante da agência “Your Happy Mode”, em que a CEO é a colega de trabalho de Cátia, Teresa Preta – a atual Iberia Managing Director da Escolha da Consumidor. Entende- se que a agência está a apostar em colaboradoras que acreditam que a felicidade está na base do sucesso de uma organização e que é na Escolha de Consumidor que encontrarão também uma organização feliz.

“Posso dizer que trabalho numa organização feliz que premeia outras organizações, também elas felizes”

Apesar de a Escolha do Consumidor já ser uma organização feliz, tenta tornar a felicidade num processo contínuo, de modo a aumentar, cada vez mais, a felicidade e satisfação dos colaboradores. Para além disso, ainda promove este conceito a outras organizações com os Happy Awards. Cátia Pitrez afirma que as organizações acreditam, cada vez mais, que “funcionários felizes e satisfeitos tendem a ser mais produtivos e mais comprometidos com as suas funções e responsabilidades, e isso leva claramente a melhores resultados no negócio.” Para além disso, se é conhecido que uma organização tem um bom ambiente de trabalho, inevitavelmente irá atrair novos talentos e manterá uma maior reputação no mercado em que atua. Para a coordenadora de marketing, o conceito de felicidade engloba muitos aspetos, entre eles está “o equilíbrio trabalho família, a realização pessoal e profissional, a remuneração, identificação com os valores da organização”, entre muitos outros, até pessoais de cada colaborador.

A ConsumerChoice – Escolha do Consumidor, como vimos até agora, tem à frente de cargos de chefia e de liderança várias mulheres e apoia-as na sua vida profissional e pessoal.

“Somos todas (90%) mulheres, líderes e mães e conseguimos gerir o nosso tempo, de forma a não sofremos ou ficarmos frustradas quando não conseguimos estar em todas as frentes”

A Chief Marketing Officer afirma que a ConsumerCoice vai contra todo o tipo de preconceito e desigualdade e tenta passar esta mentalidade com campanhas de comunicação – a mais recente focou-se no mote “As tuas escolhas fazem a diferença”, independentemente se é mulher ou homem, o que é interessa é que “se faça ouvir”, acrescenta.

Cátia apresenta também uma nova perspetiva de ter mulheres em cargos de liderança: A mesma refere que o sexo feminino traz à empresa um novo ponto de vista e uma nova forma de fazer as coisas, não sendo pior, nem melhor, mas sim algo novo: um acrescento.

“Somos diferentes; sentimos, vivemos e gerimos de forma diferente”

No entanto, na maioria das organizações existem muitos mais homens a ocupar cargos
de liderança em que, por vezes, torna-se mais difícil para uma mulher aceder a esses cargos. Foi o caso de Cátia, que depois de ser mãe, sentiu grandes dificuldades em conseguir aceder a cargos de liderança, algo que a surpreendeu, não tenho “grande noção que essas desigualdades existiam”.

A coordenadora de marketing afirma que apesar de já haver muita promoção da igualdade de género no mercado de trabalho, ainda há um grande caminho a percorrer para que esta realmente exista. Este caminho passa pelas organizações implementarem “políticas de igualdade salarial, programas de formação e desenvolvimento para mulheres, garantindo a diversidade e a inclusão em todos os níveis da organização”, acrescenta Cátia.

Entretanto uma mulher em posição de destaque é considerada notícia, mesmo para incentivar a mudança de mentalidade. E quando esta situação irá ser considerada normal? “Acho que a solução passa pelos homens poderem engravidar!”, brinca Cátia Pitrez, que considera que deviam ser criadas mais políticas de apoio à maternidade, uma maior flexibilidade de horários e um incentivo ao teletrabalho. Em contrapartida, a Chief Marketing Officer também reconhece que já foi percorrido um longo caminho, iniciado este pelas nossas avós: “Isso enche-me de orgulho e de esperança, pois acredito que as minhas filhas já terão direito às suas verdadeiras oportunidades!”

E o foco está sempre em alcançar o topo. Cátia Pitrez, recorrendo a Fernando Pessoa, deixa um único conselho às mulheres em início de carreira que pretendem alcançar uma posição de chefia na área do Marketing:

“Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo”