Com uma vasta experiência profissional a nível nacional e internacional, Margarida Damião Ferreira afirma que o maior desafio é ter, por mérito, a oportunidade para perseguir o objetivo determinado.
A MARGARIDA ESTEVE UM PERÍODO FORA DE PORTUGAL. ISSO DEVEU-SE A DESAFIOS MAIORES NO EXTERIOR OU A FALTA DE OPORTUNIDADES POR CÁ?
Emigrei no final de 2008, quando tinha uma vida perfeitamente organizada e trabalhava numa das maiores sociedades de advogados em Portugal. Foi a vontade de ter uma experiência de vida fora que me fez emigrar. Uma vez lá fora, tive desafios maiores que agarrei e que me fizeram crescer muito profissionalmente.
AO LONGO DO SEU PERCURSO PROFISSIONAL DEPAROU-SE COM QUANTAS MULHERES EM CARGOS DE LIDERANÇA, NAS EMPRESAS POR ONDE PASSOU? O QUE ISSO SIGNIFICOU PARA A PROGRESSÃO DA SUA CARREIRA?
Atualmente nas sociedades de advogados é muito comum as mulheres ocuparem posições de liderança, muito embora só me lembre de uma ter assumido o lugar de Managing Partner de uma grande sociedade. Já no setor da construção a posição de liderança das mulheres é ainda muito incipiente. Este não foi certamente um fator significativo na minha progressão de carreira, mas procuro sempre exemplos com que me identifique e estou atenta a líderes, mulheres ou homens, que me inspirem.
ATUALMENTE TRABALHA NUMA EMPRESA CUJO RAMO É MAIORITARIAMENTE DOMINADO PELO GÉNERO MASCULINO. PARA SI, QUAIS AS VANTAGENS DAS MULHERES OCUPAREM CARGOS DE GESTÃO NAS EMPRESAS?
Entendo que a liderança das mulheres não é igual à liderança dos homens, não tem de ser e não deve procurar sê-lo. Homens e mulheres são diferentes, pelo que resultarão sempre em líderes com características diferentes, e isso é bom. Acho que as mulheres imprimem um cunho particular na gestão de uma empresa com a ponderação de fatores não ponderados pelos homens. Não se trata de ponderar mais fatores, apenas de ponderar outros fatores na tomada de decisão. A determinação com que a mulher foca o objetivo, fá-la relevar muitos eventos no dia a dia de uma empresa, sem esforço racional ou emocional. Há uma mestria na persistência com que encara e aguarda a construção diária que é muito eficaz para alcançar objetivos de longo prazo e a garantir a sustentabilidade de decisões estratégicas. Há, regra geral, o tão raro bom senso, um afincado sentido de comunidade, a contínua procura do bem comum na gestão da empresa e, talvez, uma maior preocupação pela organização interna que se reflete em resultados. Mas tudo isto em regra, porque há inúmeras exceções.
QUAIS OS MAIORES DESAFIOS QUE ENCONTROU AO LONGO DA SUA CARREIRA? CONSIDERA QUE SERIAM DIFERENTES SE NÃO FOSSE MULHER?
Reconheço que o caminho da mulher, dentro de uma organização, é mais longo do que o do homem. Ainda é. Uma mulher tem de se destacar mais, tem que fazer com que as suas capacidades se notem de uma forma tão evidente que seja impossível não as reconhecerem. A ascensão profissional do homem é mais rápida, mais fácil, porque já se conta com ela. Não é provável, pelo que não é expectável que a mulher assuma uma posição de líder numa empresa. É preciso encontrar pela frente quem esteja disponível para ouvir ideias diferentes. Acredito que o maior desafio é sempre o de ter (de lhe ser dada) por mérito a oportunidade que se quer.
NESTA ÉPOCA EM QUE CELEBRAMOS O DIA DA MULHER, QUE MENSAGEM PODE DEIXAR A TODAS AS NOSSAS LEITORAS?
Foco. É o chamado Eyes on the Prize. É preciso saber para onde se quer ir. Estabelecer a meta, determinar o objetivo. E depois é só trabalhar todos os dias um bocadinho mais para o alcançar. Parece que é sempre muito mais fácil quando se sabe o que se quer fazer na vida desde pequenino. Na verdade, não é mais fácil, trabalha-se é desde cedo nisso, há mais tempo de trabalho e por isso chega-se lá mais cedo. Portanto, muito trabalho e competência. Muita persistência, confiança e nunca, nunca desistir.