Fernanda da Conceição Ferreira

Fernanda da Conceição Ferreira tem o orgulho de possuir um currículo repleto de experiências, qualidades e valências. É engenheira mecânica, professora, autora, mentora social e familiar, terapeuta de bem-estar emocional, política e fundadora da associação Amar Eva. Mas antes de tudo isso, é Mulher.

 

Fernanda da Conceição Ferreira é, entre muitas outras coisas, autora do livro Eva entrega a costela a Adão. Um livro narrado na voz do amor, que nos mostra que temos o poder de mudar tudo o que desejarmos à nossa volta.
No decorrer do livro, o leitor é levado a percorrer a história olhando-a pelos olhos do amor e não do julgamento, e a compreender que todas as suas ações interferem com o seu mundo envolvente, e em especial, com a família.
Este livro vem criar um questionamento no subconsciente de cada mulher que o lê.
Leva-nos a questionar se, nós, mulheres, carregamos a culpa de Eva, ou se continuamos num papel de submissão ao homem, por causa de termos a sua costela.
Refletindo sobre a sua vida, e sobre o seu mais recente livro, Fernanda tem apenas uma ambição, a de que o mundo seja um lugar onde os direitos não sejam um privilégio, mas sim um dado adquirido.

No período inicial da sua vida académica estudou engenharia mecânica, curso este, predominantemente frequentado por homens. Fernanda foi a primeira da família a ingressar no ensino superior e a primeira a romper com a tradição, vigente principalmente nos meios mais pequenos, que ditava que as meninas tinham de ficar em casa a fazer coisas rotineiras, enquanto os rapazes tinham mais hipóteses de mundo por descobrir. Refletindo sobre isto, a autora afirma que o maior desafio que sentiu nesta altura foi “tentar provar que uma mulher também pode ser inteligente, ao ponto de tirar um curso tão difícil, como engenharia mecânica, e que também pode escolher fazer algo que na altura era quase exclusivo dos homens.”

Fernanda é a única menina no meio de quatro irmãos, e ao longo da sua vida, este fator de exclusividade, ou quase de diferença e distinção, manteve-se presente noutros parâmetros do seu dia a dia. Na escola era a única menina da turma; na faculdade, apesar de contar com algumas colegas, o número era reduzido. Até quando ingressa no mundo do trabalho como engenheira mecânica, numa multinacional do ramo automóvel, Fernanda Ferreira era quase a única mulher e afirma “não era fácil para mim menina, viver sozinha e trabalhar no meio de homens.”

“A luta pela igualdade de género é algo que hoje em dia se legisla, mas que para as mulheres, em especial as que nasceram antes do 25 de abril de 1974, trouxe muitas lágrimas, depressões, suicídios, violência e eu não fui imune à maior parte dessas coisas.”
Entretanto, aos 25 anos, a vida da autora acaba por mudar de rumo. Fernanda casa e abandona a profissão para se dedicar à sua família. Nasce então o seu filho e com uma diferença de apenas 11 meses nasce também a sua menina. No entanto nem tudo são flores e felicidade e com o ambiente familiar degradado, Fernanda procura um novo emprego. Decide licenciar-se em Ciências da Educação.
A posterior paixão pela área social é uma consequência do seu trabalho nas escolas. “Comecei a sentir a tristeza no olhar das mães e a perceber que muito do desinteresse nos estudos pelos alunos e o mau comportamento vinha de casa, de famílias vulneráveis e que essa vulnerabilidade tinha muitas causas. Nesse momento comecei por fazer peças de teatro envolvendo os alunos para chamar a atenção dos pais e da comunidade para algumas temáticas consideradas tabus, mas que acabaram por despertar consciências.” 

Fazendo valer a sua polivalência de funções é neste momento que a engenheira mecânica, professora, autora, entre outras valências, opta por se juntar à política com o objetivo de conseguir ajudar mais pessoas. Fernanda foi deputada municipal durante dois mandatos e fez também parte da comissão alargada da CPCJ. Durante esse tempo realizou juntamente com a sua bancada, várias palestras e seminários sobre a educação e a família que visavam ajudar pais, mães e filhos. Como era também membro da associação de pais, Fernanda complementou o seu trabalho com uma simbiose entre tudo o que podia proporcionar às crianças e promoveu debates, teatros e atividades dirigidas à comunidade. Pode-se afirmar que ajudou muitas pessoas, o gosto por ajudar começou a aumentar a cada sorriso novo que se cruzava comigo ou a cada agradecimento.

Confrontada com mais uma reviravolta na vida, é no ano do seu divórcio que Fernanda se depara também com o maior desafio da sua vida profissional. Consequência da reforma no ensino, fica sem componente letiva na escola onde trabalhava perto de casa e volta a exercer a primeira profissão de engenheira mecânica na Agência Portuguesa do Ambiente, sem nunca desistir face às dificuldades. Mais uma vez Fernanda encontra condições semelhantes às de quando andava na escola, os homens eram a maioria e no curso de exploração e segurança de barragens que frequentou, dos 27 participantes, apenas 8 eram mulheres. Apesar de a maioria serem homens, foi nesse momento que a engenheira reconheceu que “ como mulher tinha aprendido a valorizar-me e a respeitar-me como ser humano. Não há trabalho para mulheres ou para homens, e quando percebi, aceitei e senti-me ainda mais feminina neste meu corpo de mulher percebi que haviam demasiadas mulheres e famílias a sofrer, porque define-se e aceita as características impostas pela sociedade, logo que se está na barriga da mãe e que se sabe o sexo do bebé.”

Após um percurso de 3 anos na Agência Portuguesa do Ambiente Fernanda volta a lecionar na escola e desta vez com um conhecimento da realidade fora da escola muito mais alargado. Contudo e apesar de 3 anos terem passado pouca coisa mudou. Continuou “a sentir e a ouvir os desabafos e as tristezas nos olhares” dentro das salas de aula.  A preocupação ficou ainda maior quando recentemente chegou o confinamento, as aulas á distância e o aumento de todas as condicionantes que despertaram ainda mais os problemas que as famílias vivem.

Ao observar que os problemas de sempre continuavam, sem esperança de cessar no futuro, Fernanda depositou neste livro os seus pensamentos e ensinamentos procurando “sensibilizar o leitor para problemas que estão no nosso subconsciente e que só conseguimos mudar quando tomarmos consciência das coisas.” “Ouço muitas vezes as famílias a darem a desculpa de “sempre foi assim”, “já o meu pai/ mãe assim faziam” e é apenas quando olhamos para o que nos preocupa com um olhar mais atento que percebemos que ainda há muito por fazer.” O mote deste livro está na seguinte questão:  “Nós, mulheres, carregamos a culpa de Eva ou continuamos num papel de submissão ao homem, por causa de ter a sua costela?” Esta interrogação permanece até ao fim do livro e ao longo das páginas dele é possível encontrar as consequências desses comportamentos na vida de duas crianças, a Maria, negligenciada e que acaba por se tornar vítima de abuso infantil. E o José que vive num ambiente familiar de violência doméstica e na escola é também vítima de bullying. Estas duas crianças crescem e carregam inevitavelmente com elas essas feridas emocionais que não lhes permitem ter uma vida afetiva normal. Pouco ou nada se fala de sexualidade, de prevenção de abusos e até de como acabar com o bullying e assim sendo, correm o risco de, sem ajuda, repetir tudo outra vez.

Esta obra que pretende alertar as famílias e o público em geral para o abuso sexual na infância, apela à sensibilização do bullying, da sexualidade, da violência doméstica e de se dever-se olhar todos estes temas de forma a minimizá-los, fazendo com que seja cada vez mais fácil compreender e aceitar a dor, que se não for vista, não vai passar. E que inclusive irá continuar a fazer vítimas e a alimentar agressores que muitas vezes não têm consciência de que o estão a ser. Eva entrega a costela a Adão, é um livro que pretende muito mais do que ser apenas lido e interpretado como uma história. É um livro que todas as famílias e que todos aqueles que trabalham com crianças e jovens deveriam tirar algum tempo para ler. O objetivo final de Fernanda da Conceição Ferreira é que com esta obra, juntos, possamos encontrar uma solução que leve à diminuição do número de mulheres mortas pelos companheiros, e à minimização do número de suicídios nos homens e nos jovens, que apesar de ser um tema fundamental, é ainda uma realidade pouco falada.

Para além de tudo o que foi abordado até agora, Fernanda é também mentora social e familiar. Afirma que a mentoria é não só necessária como inata ao ser humano. “Ao longo da nossa vida temos vários mentores, primeiro os pais, depois a família e os professores, mais tarde encontramos mentores no trabalho. O que quero dizer com isto, de uma maneira simples é que o mentor é alguém a quem reconhecemos sabedoria e com quem queremos aprender algo (…) tenho a certeza que teria resolvido os meus problemas de uma maneira mais rápida, mais eficaz e sem ter que derrubar tantos obstáculos se alguém me tivesse guiado e dito que não vale a pena lutar contra os obstáculos que os podemos contornar, ou então que há obstáculos que mesmo depois de ultrapassar não nos levam a lado nenhum.”

O mundo gira a uma velocidade astronómica e cada vez maior. Sendo expostos a tantas mudanças e problemas, o ser humano pode acabar por adoecer se não conseguir gerir o seu tempo eficazmente e um mentor é uma boa solução para equilibrar a vida pessoal e profissional. O mentor consegue, através da sua experiência e formação levar o ser humano a conhecer e descobrir as suas potencialidades, dons e qualidades que tem adquiridas, mas que por vezes não tem coragem de mostrar por medo a ser abandonado, rejeitado, humilhado, traído ou injustiçado. Na primeira vez que subiu a um palco para se dirigir a uma comunidade escolar, Fernanda foi questionada sobre quem era, ao que intuitivamente respondeu “sou a pessoa que dá Alma ao melhor que tens em ti.” É isso que continua a fazer como mentora.

Colocar mulheres em cargos de máxima importância é apostar no profissionalismo. “A mulher por tudo o que foi capaz de fazer e criar ao longo dos tempos na luta pelos seus direitos desenvolveu a capacidade inata de ser multifuncional, de fazer várias coisas ao mesmo tempo e saber dirigir o seu principal foco para o que realmente interessa, no momento.” Cada vez temos vindo a ver mais mulheres em cargos de liderança e isso está naturalmente ligado às suas capacidades naturais. Não que alguns homens não as tenham adquiridas, mas como cada vez mais presenteados com a qualidade de uma empresa gerida por mulheres. “Uma mulher é naturalmente cuidadora, cuida de si e de todos à sua volta e uma empresa com uma equipa feliz, será certamente uma empresa de sucesso.”

Trabalhando em várias áreas onde a maioria eram os homens, Fernanda já sentiu na pele o que é ser descriminada pelo seu género. “Todos somos sujeitos a discriminação, mas as mulheres em particular têm ainda um trabalho árduo pela frente (…).

“É difícil não sentir que estou a ser discriminada quando o diretor da produção é um homem que acha que uma mulher não tem força, logo não pode desempenhar a função de uma engenheira mecânica.” Fernanda sentiu descriminação como engenheira mecânica, mas até como professora o mesmo aconteceu. Assim que chega a uma escola para lecionar a disciplina de práticas oficinais de mecânica, recuperação de espaços verdes, ou até de eletricidade de instalações, as suas capacidades são imediatamente questionadas apenas por ser mulher. O mesmo acontecia quando fazia uma intervenção na assembleia municipal ou quando se candidatou a presidente da junta da cidade ou a algum órgão de uma estrutura política. Tudo isto acontecia da forma mais natural possível… como se o facto de ser mulher baixasse automaticamente as suas competências. “A verdade é que quando fazemos as coisas por paixão e porque acreditamos no nosso potencial e no nosso valor essa discriminação inicial, sempre que não a valorizamos, vai-se transformando em admiração à medida que vamos desenvolvendo o nosso trabalho.”

A Associação Amar Eva surgiu para combater a discriminação que Fernanda sofreu, que muitas mulheres sofrem… Esta associação tem o principal objetivo de informar, sensibilizar e criar estudos sobre temas de discriminação, em especial na igualdade de género. A Associação Amar Eva almeja, mais que mudar o mundo, começar a dar os primeiros passos para compreender o que está por trás da discriminação, e com isso levar à sensibilização de todos aqueles que estão no nosso meio envolvente. “Se cada um fizer a sua parte vamos perceber que todos temos um mundo à nossa volta!”

Amar Eva tem por missão aprender a amar a tua essência, aquilo que és e a perceber o que te impede de o ser. “Uma mulher tem o poder de colocar limites; tem o poder de valorizar-se ; tem o poder de ser mãe, de ter um companheiro ao seu lado que a respeite,  a admire,  acima de tudo tem o poder de ser feminina e assumir as responsabilidades do seu êxito profissional e pessoal.”