Os hábitos de vida de 1% da população com escolhas de consumo que produzem elevado número de emissões de gases com efeitos de estufa (GCEE) estão a colocar em risco a humanidade. As mulheres que estão em posições de liderança têm o dever de contribuir com as suas escolhas para a redução emissões e para a justiça climática. A recusa de uso de jatos privados e de voos de curta distância nas suas deslocações é uma dessas escolhas.
Matt Finch, responsável no Reino Unido da Transport & Environment, afirma em declarações ao The Guardian: “Um jato privado é a forma mais poluente de transporte que se pode tomar. O jato privado mediano emite duas toneladas de carbono numa hora. Em média, um europeu é responsável por emitir oito toneladas de carbono anualmente. Se voarmos de Londres para o sul de França, é logo meio ano de emissões numa só viagem” Os aviões privados são até 14 vezes mais poluentes, por passageiro, do que os voos comerciais, e 50 vezes mais poluentes do que os comboios, segundo revela um relatório da Transport & Environment,
Segundo a Greenpeace. “A Europa poderia substituir quase todos os 250 principais voos de curta distância e poupar cerca de 23,4 milhões de toneladas de CO2 por ano, o equivalente às emissões anuais de CO2 da Croácia”.
O acordo de Paris visa manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºc acima dos níveis e, de preferência, limitar o aumento a 1,5ºC e as emissões de gases com efeito de estufa em cerca de 50% até 2030. O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 pretende a redução de emissões de gases com efeito de estufa entre 85% e 90% até 2050.O ultimo relatório do Painel Governamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) da ONU constata que as emissões de GEE aumentaram 19% entre 2010 e 2019, em vez de diminuir.
Os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável foram aprovados na Cimeira da Organização das Nações Unidas a 25 de setembro de 2015, entraram em vigor em 2016 e são constituídos por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas a alcançar até 2030 . O quinto ODS pretende alcançar a igualdade de género e empoderar todas as mulheres e raparigas. Estamos a meio desse projeto e muito distantes da sua concretização.
No Dia Internacional da mulher não devemos ignorar que as mulheres são as que mais sofrem com as alterações climáticas. Segundo o documento aprovado pelo Paramento Europeu em 16 de janeiro de 2018, as alterações climáticas que estão a acontecer à escala global, afetam as populações mais dependentes dos recursos naturais, com menor capacidade de resposta a catástrofes naturais. Recaindo os maiores impactos sobre as pessoas com menos recursos financeiros, porque vivem em lugares mais vulneráveis, este facto afeta de forma diferente homens e mulheres.
As mulheres são as maiores vítimas porque sofrem com a desigualdade de recursos, de educação, de oportunidades de emprego, de direitos fundiários, de normas sociais e culturais e tem experiências intelectuais diferentes.
De acordo com as Nações Unidas, 781 milhões de pessoas em idade igual ou superior a 15 anos são analfabetas, sendo dois terços deste numero mulheres.
Fruto do facto de serem culturalmente cuidadoras, recai sobre elas a responsabilidade de prover alimentos, água e materiais combustíveis para terceiros.
As catástrofes naturais que ocorrem com cada vez mais frequência, fruto das alterações climáticas, tem grandes repercussões na educação, na saúde, na pobreza estrutural e na deslocação de populações.
Das 1.3 milhões de pessoas em situação de pobreza no mundo, 70% são mulheres que habitam em lugares mais vulneráveis a fenómenos climáticos extremos, resultando que em caso de catástrofe as mulheres e as meninas correm 14 vezes mais riscos.
As mulheres com poder de escolha devem recusar hábitos de consumo pessoais e nas suas decisões como líderes nos seus locais de trabalho, certificarem-se sempre que optam por escolhas que reduzam as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global.
Implantar e divulgar hábitos de consumo que combatam essas emissões é uma responsabilidade de todas, recusando o uso de jato privado ou de avião comercial para voos de curta distancia que podem ser feitos de comboio, fazendo a defesa de uma rede de ferrovia que responda a essa necessidade; optar por transportes públicos nas deslocações diárias e ser sempre uma voz ativa quando estes não respondem às necessidades locais; pautar por uma alimentação equilibrada com produtos de proximidade e redução de consumo de carne; reduzir o desperdício alimentar e implementar métodos que facilitem essa redução; promover o consumo consciente mesmo quando se está perante grandes promoções que visam o incentivo ao consumo; fazer e implementar a separação de resíduos; promover a diminuição de consumo de produtos que são na verdade necessidades criadas pelo mercado e que não contribuem em nada para a melhoria da qualidade de vida e para a eficiência das empresas; promover a apoiar todas a iniciativas que visam a regeneração de florestas com espécies autóctones e exigir cidades mais verdes com espaços reatualizados; ter hábitos de consumo energético que visem a redução desse consumo e promover a auto geração de energia na empresa e nas habitações.
Deixar de ter como meta o crescimento económico e passar a ter como objetivo o bem-estar. Uma economia do bem-estar tem que ser o objetivo para salvaguarda das gerações futuras e a escolha responsável no presente.
Fazer escolhas conscientes contribui para travar o aquecimento global e desta forma a reduzir a ameaça à saúde, a perda de meios de subsistência, as migrações forçadas, a pobreza, o tráfico de seres humanos, a violência, a exploração sexual e insegurança alimentar.
Sabemos que a participação das mulheres em lugares de decisão ainda é desigual, comparando com os homens, o que impede as mulheres de ter voz ativa no planeamento e nas decisões políticas a todos os níveis, especialmente na implementação de políticas climáticas.
O privilégio pode ser usado para fazer escolhas que mudem o paradigma de consumo e as mulheres são poderosos e eficazes agentes de mudança para o desenvolvimento de padrões de consumo e de produção sustentável para as comunidades.
Os 10% dos cidadãos mais ricos da Europa foram responsáveis por mais de um quarto (27%) das emissões. Acordos e tratados de nada servem se os mais ricos não alterarem o seu paradigma de consumo.
Lesadas especialmente, as mulheres têm, hoje, na prossecução da sua luta contra preconceitos e pelos seus direitos, de firmemente assumirem também posições e atitudes no desiderato de preservar o ambiente, de salvar o Planeta.