Ana Patrícia Duarte e o dom feminino a dirigir o primeiro hotel ecológico do país. Do prazer de lidar com pessoas à gratificação de conhecer culturas.
Licenciada em Turismo pelo Instituto Politécnico de Leiria, optou pela área porque nunca sonhou com um trabalho com rotina monótona e sempre acreditou que a hotelaria a permitia “viajar” dentro do próprio local de trabalho pelo contacto com pessoas diferentes e com culturas distintas. Hoje é diretora executiva do primeiro hotel ecológico do país, o Ecorkhotel.
Nunca teve bem definido o que queria ser “quando fosse grande”. Como a maior parte das crianças, todas as opções foram hipóteses numa idade em que o mundo está a nossa frente, pronto para ser desbravado e nada é impossível. Além das diferentes fases e vontades, na altura do ensino secundário, quando a ida para a universidade começou a ser ponderada e planeada é que acabou por surgir o interesse pela hotelaria. Para a tomada de decisão aliou o gosto pela viagem e a curiosidade em relação às culturas, sempre aliado ao dom pela comunicação.
Desde 2008 que atua na área, porém, em funções diferentes. De rececionista a front office manager, passando também pela assistência à direção, até chegar ao ambicionado cargo de diretora executiva. Por entre desafios e sucessos, olha para trás e sorri. “O balanço que faço da minha carreira é muito positivo. Sou verdadeiramente feliz no que faço e, como costumo dizer, sou hoteleira “da cabeça aos pés”, sendo difícil imaginar-me a fazer algo diferente. Tive oportunidade de trabalhar em várias unidades hoteleiras, em diferentes áreas geográficas do país e em diferentes funções também. Todas estas experiências foram enriquecendo o meu percurso, permitiram-me ter noção do que queria ou não para mim e contribuíram para tornar-me na profissional que sou hoje. Claro que, como em tudo, nem sempre o percurso foi fácil e hotelaria, sem dúvida, é uma área de bastante desgaste, em que estamos disponíveis 24 horas por dia. É por isso, fundamental estabelecermos limites a nós próprios, de forma a equilibrarmos a nossa vida pessoal com a profissional”, confessa.
Cada vez mais a consciência ambiental está presente em todos nós, pelo que considero ser um fator chave de interesse o facto do projeto ser um hotel ecológico. Os turistas que nos procuram são especialmente interessados e atentos para as medidas de sustentabilidade praticadas. São várias as vezes que os nossos hóspedes tomam a iniciativa de darem algumas sugestões para que sejamos ainda mais ecológicos e é extremamente interessante a interligação que se cria com partilha de ideias.
Para alcançar o sucesso, Ana Patrícia Duarte acredita ser fulcral, em primeira instância, o amor. A uma causa, a uma profissão, ao dia a dia. E sobre sucesso sabe tanto como sobre gestão, deixando alguns conselhos: “Para gerirmos um hotel, para liderarmos diariamente as nossas equipas é muito importante sabermos dar o exemplo. Não importa se implementamos determinado procedimento ou informamos as nossas equipas para procederem de determinada maneira se o nosso comportamento não é coerente com as nossas palavras. Muito mais do que dizemos, aquilo que fazemos, é o que as nossas equipas veem, prestam atenção e reproduzem. Um hotel de sucesso é gerido com foco principal no cliente, em superar as suas expetativas, tendo como base equipas motivadas. Deste modo, considero a proximidade com as equipas que gerimos muito importante também. Temos de estar atentos às suas necessidades, escutar as suas sugestões e fazê-las sentir parte integrante do projeto, não apenas “só” colaboradores.” É desta forma que vive e encara os desafios do mundo de trabalho e da vida pessoal e foi desta forma que conseguiu fazer do Ecorkhotel um espaço de eleição que prima pela excelência.
“O Ecorkhotel é sem dúvida o destino ideal para quem procura descanso e tranquilidade. A missão da nossa equipa é proporcionar aos nossos clientes que se sintam em casa, pelo que o contacto próximo com os nossos clientes faz parte do dia-a-dia. Existe, ainda, a preocupação em proporcionarmos aos nossos clientes uma experiência com produtos portugueses, essencialmente regionais. Temos, por isso, nos vários serviços do hotel produtos 100% portugueses, não só a nível de alimentação e bebidas, mas também em artigos de decoração, amenities, etc.”, revela.
Alcançado o sucesso, os desafios surgem e são reais. Questionada acerca de ser Mulher a liderar homens e a atuar num cargo geralmente ocupado por homens, assume não ter sido visitada pelo fantasma da descriminação de género nem tratada de forma diferente por ser mulher. “Tenho a consciência que não é a realidade para a maioria das mulheres, ainda que estejamos no que considero num bom caminho para a igualdade de género no que respeita às oportunidades profissionais em cargos de liderança, mas no meu caso pessoal, ser mulher nunca foi uma condicionante à minha progressão e ascensão profissional. Na minha primeira experiência em hotelaria, tive como diretora uma mulher e como chefia direta uma mulher também, logo aí, o meu primeiro contacto com a realidade profissional me demonstrou ser possível liderar e ser mulher. Cresci, ainda, profissionalmente com homens em cargos de liderança, a quem sou muito grata, que sempre apostaram em mim, me permitiram alcançar os meus objetivos e chegar onde cheguei. Hoje em dia, sou diretora de uma unidade hoteleira, na qual os restantes elementos da direção são mulheres também. Posso pertencer a uma minoria, mas é com enorme contentamento que partilho a minha experiência pessoal e poder inspirar outras mulheres a alcançar os seus objetivos profissionais.”