MAGDA GONÇALVES, DIRETORA DO COLÉGIO DO VALE: A DIFÍCIL TAREFA DE EDUCAR EM TEMPOS DE PANDEMIA

MAGDA GONÇALVES, DIRETORA DO COLÉGIO DO VALE

Com uma matriz pedagógica bem definida ao longo de décadas de história, o Colégio do Vale teve, em 2020, um ano desafiante, face à pandemia da covid-19. A passagem das aulas para a modalidade de ensino à distância exigiu muitos ajustes, de forma a tornar o processo mais eficaz.

No percurso de Magda Gonçalves, o papel desempenhado confunde-se com a evolução pessoal e profissional que foi traçado ao longo dos anos. A primeira experiência profissional que vivenciou aconteceu logo após terminar o ensino secundário: durante os anos que se seguiram, e enquanto estudante da licenciatura em Sociologia do Trabalho, trabalhou como assistente pessoal do seu antigo professor de História, apoiando nas pesquisas para trabalhos de investigação e ajudando na correção de testes e de trabalhos dos alunos.

Aos 20 anos acabaria por integrar, de forma natural, o projeto Colégio do Vale. Primeiro como assistente da direção pedagógica, depois como coordenadora da área dos transportes e da vigilância, a partir de 2000 como diretora de recursos humanos e, finalmente, como diretora geral, desde 2017 – cargo que acumula com a direção de recursos humanos e de logística. Não é, por isso, de estranhar, que Magda se refira ao Colégio do Vale, fundado em 1992, como o seu “projeto de vida”, ao qual se dedica “de corpo e alma” – a facilidade com que enumera as matrizes que orientam a atividade da instituição de ensino e as diferenciam das demais é a prova disso mesmo. Numa equipa com “bases muito sólidas, muito dinâmica, inovadora, ambiciosa, e sempre com vontade de fazer cada vez melhor”, composta por 100 membros, imperam palavras como “rigor, exigência, competência e dedicação” – tudo interligado com um verdadeiro espírito de equipa.

No contacto com os alunos, o objetivo é “proporcionar a todos as mesmas oportunidades para serem diferentes”, promovendo junto dos mesmos um “sistema responsável de participação. Respeitando a autonomia individual, a solidariedade e o diálogo. Como tal, as famílias são parceiros importantes no processo de formar aquele que é o futuro. Conscientes da importância da “fidelização emocional” das crianças e dos jovens, é promovido um “ambiente muito familiar” no qual se promovem a construção de relações humanas fortes entre todos os agentes educativos e, finalmente, com a comunidade. No entanto, nem a mais oleada das estruturas poderia estar preparada para o terramoto que foi a pandemia da covid-19. Sem qualquer tipo de historial nesta área, todo o ensino português – e mundial, diga-se – foi obrigado a transferir o habitual modelo presencial para as plataformas tecnológicas e à distância num curto espaço de tempo, enfrentando dificuldades de toda a espécie.

No Colégio do Vale, o processo foi “desafiante”. Segundo Magda Gonçalves, “a questão imediata que se colocou não foi a da viabilidade da transição para o digital, pois essa situação era inevitável, mas sim de como tornar essa transição melhor e mais eficaz”. Tal foi possível através da “preocupação, envolvimento e entrega” de todos, num trabalho “diário” que evoluiu de forma gradual. Se do lado dos alunos foi a quebra de rotinas, a falta de autonomia e a falta de contacto físico com os colegas e docentes a dificultar a adaptação à nova realidade, por parte dos professores, os obstáculos consistiram na apropriação das diferentes plataformas digitais a serem utilizadas e, em alguns casos, a conciliação da vida profissional com a dinâmica familiar – uma “árdua tarefa”.
Paralelamente e reconhecendo situações de “alunos emocionalmente instáveis ou com alguma dificuldade”, um acompanhamento próximo das necessidades das crianças e jovens foi feito por parte de educadores e professores. Como tal, foram “muitos os momentos de partilha” nos quais se procuraram estratégias e soluções, muitas vezes com recurso à psicóloga do Colégio, de modo a que “prevalecesse a tranquilidade”. Através de uma análise abrangente, é possível apontar alguns padrões comportamentais dos alunos: no caso dos mais jovens – com autonomia pouco desenvolvida – era mais recorrente a manifestação da vontade e necessidade de voltar à escola, enquanto que os mais velhos não sentem essa necessidade de forma tão premente – havendo mesmo aqueles que preferiam o ensino à distância.

Cientes de que as condições familiares entre estudantes podem variar significativamente e, como consequência, influenciar a prestação académica dos mesmos, foram criados grupos de trabalho que acompanharam os alunos através de um método mais individualizado, indo ao encontro das suas necessidades e dificuldades. Seguindo a mesma linha de atuação, foram desenhados planos de trabalho adaptados, com atividades especificas, assim como, aulas individuais.
Aquando do regresso efetivo às aulas presenciais, o “ponto de partida” consistiu numa “aferição” feita pela equipa pedagógica do Colégio do Vale, na tentativa de perceber que áreas ou conteúdos não tinham sido trabalhados com tanta precisão, de forma a reforçar ou consolida-los. Ainda assim, foi no campo das atitudes, como as relações interpessoais, que mais trabalho foi feito. “Verificou-se uma maior dificuldade na gestão de conflitos, nas “brincadeiras” despropositadas e, por vezes, na relação com os pares. Foi importante trabalhar o aspeto das relações interpessoais, no fundo, da vida em sociedade”, relembra Magda.
Na preparação do presente ano letivo – e sem sinais de que a situação pandémica dar tréguas – a possibilidade de um novo confinamento foi acutelado nas planificações das atividades, com o objetivo de dar continuidade às aprendizagens, independentemente do contexto. No que concerne aos alunos do 1º ciclo, foi promovido a utilização de ferramentas como o Office 365 ou o e-mail como meio de comunicação, enquanto que na lista de material necessário para os estudantes do 5º ao 9º ano foi incluído o computador portátil, ou dispositivo equivalente, para “facilitar assim o processo de transição entre os diferentes regimes”. Finalmente, um plano de ensino não presencial, no qual foi valorizada “a experiência adquirida ao longo do 3º período do último ano, bem como a avaliação dos encarregados de educação, alunos e professores, tendo sido feitos alguns ajustes, principalmente ao nível do aumento do número de aulas síncronas”.

Em jeito de balanço, Magda Gonçalves não tem dúvidas de que a pandemia da covid-19 e as condicionantes por ela provocada representam um antes e um depois no ensino e pedagogia – o que não será necessariamente algo negativo. Por um lado, considera que teremos “docentes mais preparados para a integração das ferramentas digitais em sala de aula e na diversificação de atividades proporcionadas e de metodologias de ensino, assim como “alunos mais autónomos e organizados, mais conscientes da importância das suas aprendizagens e do quanto a escola é fundamental”. No entanto, preocupa-a o campo das emoções e dos afetos, atos simples como “abraçar, tocar ou estar próximo”. “Há crianças pequenas que ainda só viveram desta forma, com distanciamento social. Desconhecem o calor das relações próximas com os outros, sem ser a própria família. É importante estarmos atentos e ajudá-los, educando com afeto.”

“Um Colégio de RAIZ diferente”