A revista Liderança no Feminino foi conhecer Dália Carvalho, mãe, esposa, mulher e gestora de topo na Grant Thornton.
Como e onde começou esta carreira de Revisor Oficial de Contas?
Quando terminei a licenciatura em contabilidade e auditoria, no ISCAL – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, tinha como objetivo adquirir experiências diversificadas em áreas de negócio distintas, integrando equipas heterogenias que me permitissem complementar a formação académica e aprender o máximo possível, realizando paralelamente o sonho de ser Revisor Oficial de Contas. Naquela altura, só era permitida a candidatura aos exames para Revisor Oficial de Contas com idade superior a 25 anos. Tinha de aguardar! Para além desta condicionante, era indispensável adquirir experiência, sendo que a probabilidade de atingir aquele estatuto antes dos 30 anos era reduzida, por se tratar de uma atividade profissional muito exigente. À medida que o tempo foi passando, eu ia assumindo maiores responsabilidades profissionais, ficando com menos tempo disponível para me dedicar ao curso de preparação para Revisor Oficial de Contas e à conclusão com sucesso das provas exigidas.No entanto, o sonho mantinha-se e fui à luta. Surgiu então um convite para integrar a Grant Thornton em Lisboa.
Como se dá a passagem a Manager na Grant Thornton?
A admissão na Grant Thornton foi crucial para concretizar o meu sonho. Tive a oportunidade de obter experiência em ambiente multinacional, onde a formação e o desempenho são extremamente exigentes e valorizados. Obtive todo o apoio e suporte necessários para frequentar o curso de preparação para Revisor Oficial de Contas, bastante exigente não só em termos de conhecimentos profissionais como também ao nível da disponibilidade pessoal e realizar com êxito os respetivos exames, onde a taxa de sucesso é bastante reduzida. Nesta fase o papel da família foi determinante. A compreensão pelas minhas ausências e o incentivo para seguir em frente, deram-me força e aliviaram-me o sentimento de culpa pelos fins-de-semana que passava a estudar privando a minha família de estar comigo, em particular o meu marido. Atingi a posição de Manager na Grant Thornton de forma natural, na sequência das provas dadas de esforço, dedicação e cumprimento de objetivos.
Ser mulher num meio profissional tradicionalmente masculino é um entrave ou, pelo contrário, uma vantagem?
Nem uma coisa nem outra, o género não influencia o nosso desempenho. É o esforço, a dedicação, a força de vontade e o profissionalismo que nos permitem vingar na profissão. Embora reconheça que nunca conseguiria chegar ao nível que cheguei sem o suporte familiar que tenho, em particular o meu marido, os meus pais e os meus sogros no que respeita à minha filha.
É a Grant Thornton uma empresa que valoriza o papel das mulheres?
Embora sendo uma profissão tradicionalmente masculina, o papel das mulheres nunca foi um fator de diferenciação, com ambos os géneros tratados de forma semelhante. Hoje em dia, a atenção da Grant Thornton sobre o papel da mulher no mundo dos negócios é muito forte a nível global. Isto, apesar dos estudos efetuados sobre o tema terem conduzido a um relatório recentemente divulgado, pela Grant Thornton, com os resultados da análise dos últimos 13 anos, constatando-se a reduzida presença das mulheres em lugares de topo.
Considera que é ainda pouco comum ver mulheres em cargos de topo? Há ainda um longo caminho a ser percorrido para a igualdade de género no nosso país?
Os estudos que vêm sendo desenvolvidos revelam esta realidade, tanto a nível nacional, como a nível global. No entanto, o facto de o tema estar cada vez mais presente é já uma chamada de atenção para as questões associadas ao género. Acredito que nos próximos tempos exista uma maior paridade, graças à alteração de mentalidades e à crescente capacidade de liderança das mulheres.