WOMEN IN LEADERSHIP

“Enquanto rapariga e mulher, sempre me debati, inconscientemente, com estereótipos que não compreendia. Foi no ano de intervalo entre a Licenciatura e o Mestrado que, ao participar num projeto do IPDJ – Instituto Português do Desporto e da Juventude acerca da violência no namoro, pude dedicar mais tempo a compreender as  desigualdades de género, e como estas também estão presentes na minha área académica. Desde aí, a minha ambição foi contribuir para esta discussão social através da minha tese de mestrado”.

Pouco imaginava que, meses antes de ter de começar a trabalhar na sua dissertação, a Professora Maria do Rosário Moreira, docente na FEP, fosse propor um tema de investigação, precisamente em liderança feminina, após participar na Grande Conferência sobre Liderança Feminina, realizada em 2019 na Porto Business School, onde também é docente. Perante centenas de mulheres colocadas em cargo de liderança presentes na conferência, questionou-se sobre o que teriam em comum, e que fatores as teriam ajudado a chegar àqueles lugares de liderança. Tudo se parecia alinhar, e era impossível não abraçar este tema, ainda mais num país em que as mulheres representam metade dos alunos licenciados e da população empregada, mas apenas 5 ocupavam, em 2018, cargos de liderança nas 100 maiores empresas portuguesas.
E porque a diversidade acrescenta sempre valor, a investigação de mestrado teve o contributo masculino fundamental do Professor Paulo Sousa, também docente na FEP.

QUAIS OS PRINCIPAIS RESULTADOS?

A investigação veio revelar que as mulheres que chegam a cargos de topo em Portugal experienciam caminhos de vida e carreira semelhantes, e que fatores como a cultura organizacional, a personalidade das mulheres e o contexto da infância são críticos para a ascensão a esses mesmos cargos.
O estudo entrevistou 9 executivas (CEO ou C-level) de grandes empresas portuguesas de diferentes setores e inquiriu 229 mulheres em cargos de gestão em Portugal de forma a desenvolver um caminho-padrão da carreira destas mulheres e detetar quais os fatores críticos para o sucesso.
Os resultados revelam que o percurso das mulheres é semelhante e pode ser dividido em três fases: Vivências inicias; Início de carreira; Maturação de carreira.

VIVÊNCIAS INICIAS
O início de vida é marcado por um forte apoio educacional familiar, num contexto socioeconómico favorável, que permitiu desenvolver traços de personalidade fundamentais, como a ambição, resiliência e autoestima. Estes traços correlacionam-se positiva e significamente com o avanço para cargos de topo, e vêm explicar em 28% o estilo de liderança mais transformacional das mulheres, focado em motivar e desenvolver as equipas na obtenção de um objetivo comum. O apoio educacional é também refletido através da prática de atividades extracurriculares como desporto e línguas. Dois terços das mulheres entrevistadas praticaram uma atividade extracurricular na infância e reconhecem o seu valor na formação de competências fundamentais para a vida profissional, como a comunicação e a abertura à diversidade.

INÍCIO DE CARREIRA

O foco na carreira é mais uma característica das líderes em Portugal, destacando-se desde cedo no período académico. O trabalho torna-se parte integrante da identificação pessoal destas mulheres levando-as a aproveitar oportunidades de evolução de carreira, como a mobilidade internacional ou entre empresas. O apoio dos superiores hierárquicos é apontado por 66% das entrevistadas como o principal aliado no progresso da sua carreira profissional, fazendo-as sentir confiantes e valorizadas pelo seu trabalho. Contudo, o grande destaque vai para a cultura organizacional que é, dos fatores significativos, aquele com maior impacto no avanço da carreira das mulheres portuguesas.
Os resultados do questionário reforçam a necessidade de uma cultura anti discriminatória nas empresas, onde as mulheres sintam igualdade de oportunidades no acesso a cargos de liderança.

MATURAÇÃO DE CARREIRA

Fruto do seu percurso até então, as mulheres que chegam a cargos de topo atingem uma fase de estabilidade na carreira onde o seu trabalho é reconhecido, permitindo-lhes focar-se num novo papel social: a maternidade. Todas as executivas entrevistadas e 77,7% das mulheres questionadas são mães.
Esta fase é marcada por uma maior necessidade de balanço entre a vida pessoal e profissional, que é atingida com o apoio da família direta (cônjuge e filhos); alguns ajustes profissionais, como maior flexibilidade horária; e com a definição de prioridades, como a rejeição do papel de “dona de casa” contratando ajuda doméstica. Apesar das várias vivências ao longo da vida, há cinco fatores que se destacam como os mais significativos e que explicam 28% da variabilidade na obtenção de cargos de gestão de topo em Portugal: a cultura organizacional, o nível socioeconómico na infância, a personalidade da mulher, o apoio educacional e a centralidade na carreira.

O QUE SE PODE FAZER PARA QUE EXISTAM MAIS MULHERES EM CARGOS DE CHEFIA?

Os resultados deste estudo alertam para quatro frentes de atuação:

Empresas – é necessário que as empresas potenciem uma cultura transparente e de apoio às mulheres, de modo a capitalizar a diversidade e o estilo de liderança que estas têm para oferecer.

Mulheres – as mulheres que tencionem atingir cargos de topo devem focar-se na sua carreira, estabelecendo prioridades na forma como gerem a vida pessoal e profissional. Será também importante desenvolver, desde cedo, características como a ambição, resiliência e a autoestima.

Pais e Cuidadores – é o papel dos cuidadores que ajudará a criar e educar as líderes do futuro. Para isso é fundamental que os pais fomentem uma educação não discriminatória, e sejam uma fonte de apoio nas decisões académicas e profissionais das suas filhas.

Instituições de Ensino – cabe às escolas e universidades promover a conjugação de um currículo académico teórico com a prática de atividades extracurriculares e criar gabinetes de apoio à carreira onde os estudantes possam, desde cedo, discutir o seu percurso profissional. É inegável que o futuro da liderança feminina em Portugal terá de ser feito em conjunto e este estudo vem ajudar a indicar o caminho.