A felicidade é, para Madalena Carey, a sua ferramenta de trabalho e pretende que os outros também a vejam como tal. Madalena fundou a Happiness Business School com o objetivo de poder ajudar as organizações a desenvolverem uma cultura de trabalho sustentável e os colaboradores a serem mais felizes, alcançando o bem-estar. É também diretora do MBA “Felicidade Organizacional” do ISEC criando este curso para trazer mais seriedade ao tema.
Madalena Carey considera-se uma pessoa obstinada por viver na sua verdade, tendo crescido a ouvir que era rebelde e que optava sempre pelo caminho mais difícil. Desde muito nova que se sentiu desajustada, gostando de “questionar o porquê das coisas” e “colocar o dedo nas feridas, porque sinto que é aí que vive a cura”, explica. Ao juntar a estas caraterísticas, Madalena sempre se considerou uma justiceira, que sofria muito com as dores dos outros — e foi essa a razão que a levou a seguir a carreira de advocacia. Licenciou-se na área, mas não foi preciso muito tempo para sentir que não era ali que se encaixava, deparando-se com um sistema muito burocrático e lento. Madalena vê-se como uma “pessoa que gosta de ver resultados rápidos” e não era na advocacia que os ia encontrar.
“Quando somos novos temos essa visão romântica da carreira de um advogado que vai mudar o mundo (e muitos mudam!)”
Logo depois de terminar o curso, Madalena decidiu viajar para a Austrália, sem quaisquer planos, porque sentia que precisava de novas perspetivas e de “ir ganhar mundo”. O que não sabia é que acabaria por querer ficar a viver e trabalhar lá, mas, para isso, tinha de se candidatar a um visto de estudante que lhe permitia ter direitos de trabalho part-time. E para ter visto de estudante tinha de estar a estudar: Madalena entrou em Marketing na Macquarie Business School e foi lá que também começou a trabalhar e a estudar.
Nunca tomou esta decisão por estratégia ou paixão, mas assume que usa tudo o que aprendeu no seu atual trabalho. A profissional de advocacia e agora de marketing ainda não tinha encontrado o seu lugar no mundo do trabalho. Madalena emigra para a Austrália à procura de se distanciar da sua realidade, pretendendo conhecer-se melhor a si própria e tentar atenuar sentimentos de “mágoa e insatisfação crónica” que diz que sempre carregou. Para isso, começou a “mergulhar no mundo do desenvolvimento pessoal”, acabando por obter os certificados de Coaching e NLP (Neuro Linguistic Programming Practitioner). Para Madalena, as formações tinham o objetivo de a fazer encontrar ferramentas que a ajudassem a ela própria, nunca tendo pensado que, mais tarde, fosse surgir a oportunidade de ensinar os outros. A atual empresária volta para Portugal em 2016 e depara-se com uma realidade laboral muito diferente da que encontrou no estrangeiro: “Senti que lá fora se trabalhava para viver e em Portugal se vivia para trabalhar”, afirma. A mesma explica que na Austrália as pessoas eram a prioridade da organização e era lá que se desenvolvia conhecimento.
Considera que como sempre foi uma pessoa que se atirou ao desconhecido e as coisas acabavam por correr bem, que foi por isso que nesta altura começou a receber pedidos de ajuda, e lançou-se a “facilitar processos de coaching, ensinando o que tinha aprendido ao longo dos anos”, acrescenta. “Foi aqui que me apercebi que a maior parte das causas de ansiedade, mal-estar e depressão dos meus clientes se devia a razões laborais” No entanto, Madalena, ao explorar mais a temática, chegou à conclusão de que as razões não estão só relacionadas com a cultura de trabalho, assente numa industrialização e automatização dos processos de trabalho, mas também com a mente humana. Por mais que as empresas tentassem melhorar o ambiente laboral e deixar os seus colaboradores felizes, os mesmos continuavam a queixar-se e a focar-se em tudo o que era negativo. A atual profissional de felicidade organizacional explica que o ser humano não foi programado para ser positivo, feliz e estar consciente do seu bem-estar não apenas por causa da natureza mais primal do nosso cérebro, mas também porque vimos de um sistema de educação que “incute a competição ao invés da colaboração, foca-se em corrigir as nossas fraquezas ao invés de reforçar os nossos talentos, treina-nos para suprimir o que falta em vez de celebrar as nossas vitórias”, explica. A nossa educação não nos ensinou a lidar com emoções, comunicar de forma positiva connosco e fazer uma introspeção sustentável. Estas capacidades têm então de ser incutidas nas empresas, sendo necessário promover uma liderança humanizada e, ao mesmo tempo, trabalhar a mentalidade e a psicologia positiva de todos os colaboradores.
“Sendo que passamos a maior parte do tempo acordados a trabalhar, senti que era altura de trazermos felicidade para o trabalho”
É nesta altura que Madalena encontra a sua missão de vida. Em 2018, a profissional funda a Happiness Business School (HBS) e torna-se a sua diretora executiva. Madalena considera este o maior desafio da sua carreira profissional, sendo que estava a abrir uma academia de uma área (felicidade organizacional) que era ainda muito desconhecida e desvalorizada em Portugal.
“Aliado a isso, ser mulher e nova era o cocktail perfeito para o descrédito”, acrescenta, tendo em conta que o seu cliente ideal se encontra numa indústria tradicional, sendo muitos deles conservadores. A empreendedora ouviu muitas vezes que o conceito não ia funcionar, mas isso não a fez baixar os braços, mas sim lutar ainda mais para que corresse bem: muniu-se de conhecimento, criou metodologias próprias, fez entregas com qualidade e desconstruiu temas e estereótipos associados a esta área. Hoje trabalha com várias empresas, de diferentes ramos e em mais de 20 países, assumindo que “tem sido gratificante ver a resposta”. Como referiu, Madalena muniu-se de conhecimento, tendo realizado as formações “The Science of Happiness” e “The Science of Well-Being” e é certificada como “Chief Happiness Officer”, assim como “Positive Psychiatry and Mental Health”. A diretora fez de tudo para conseguir levar a cabo o conceito de felicidade empresarial e aumentar a sua credibilidade. Madalena sente-se privilegiada por poder ensinar tanto a empresa a melhorar a sua cultura de trabalho, como o colaborador a ganhar novos recursos que lhe permitam ser mais feliz – “dá-me uma sensação de que de alguma maneira estou a contribuir para um mundo mais saudável e sustentável”, acrescenta. E este propósito e missão que Madalena tem agora é, para ela, a chave para uma vida feliz, explicando que promove uma felicidade com significado e sustentada e não uma felicidade histérica e efémera. A diretora executiva da HBS tem como principais funções o desenvolvimento do negócio e da marca, a criação de novas áreas de atuação e a supervisão de todas as operações gerais. Considera ser uma pessoa de ideias, mas assume que é cada vez mais seletiva na respetiva implementação, porque prefere uma ideia bem executada a várias mal executadas.
Madalena foca-se na sustentabilidade da escola e na qualidade da sua entrega. No entanto, se acredita em determinada ideia, “a minha equipa atira-se ao ar, porque já sabe que isso quer dizer que ‘amanhã’ tem que estar feito”, brinca. A ideia mais recente e a que está a ser implementada é a de criação de escolas digitais de felicidade que estão a ser integradas nas próprias academias de formação dos seus clientes. O objetivo passa por democratizar o acesso à formação na área da felicidade e liderança e, ao mesmo tempo, permitir que cada colaborador faça os cursos ao seu ritmo, não havendo constrangimentos em perda de tempo e dinheiro. As empresas podem também, desta forma, cumprir os requisitos legais de formação.
Para além de gerir o seu negócio, Madalena é também diretora do MBA “Felicidade Organizacional” do ISEC. Apesar de liderar uma Business School (Escola de negócio: HBS), a diretora não se via a entrar na vertente académica, uma vez que não é fã das suas abordagens, acreditando mais numa “aprendizagem experienciada”. No entanto, em 2021, surgiu a oportunidade de a própria lançar o MBA e foi numa altura em que o tema estava a ganhar popularidade, apaixonando muita gente. Madalena antecipou que a felicidade organizacional se tornasse num tema “superlotado, controverso e desacreditado” e, por essa razão, decidiu aceitar o convite, pretendendo trazer mais credibilidade e seriedade ao que fazem. A diretora dá várias formações, palestras e participa em conferências, mas confessa que o faz mais para dar voz à marca. O que realmente a apaixona é a vertente empreendedora de criar, inovar, testar, lançar, ver o impacto: “Não há nada mais gratificante para mim”, assegura.
Com trinta e quatro anos, Madalena revela que tem sentido uma sensação de plenitude. Vive num misto de querer continuar a criar, porque lhe dá imenso gozo, enquanto sente que não precisa de alcançar mais nada para estar realizada. Com várias estratégias e projetos em carteira, a diretora vê todo o crescimento como um bónus.
“Tenho a vida que queria em todas as áreas e não tomo nada por garantido”
A líder deixa uma mensagem muito positiva a mulheres e líderes: “Que abracem a sua energia feminina e a sua individualidade”. É também essencial que se ponham sempre em primeiro para conseguirem dar o melhor de si aos seus. “Não tenham medo de fazer diferente e serem diferentes, porque não há limites para o que podemos conquistar” A diretora executiva olha para todo o seu percurso com orgulho, tendo conseguido ser fiel a si própria e abraçar a sua autenticidade, para além de quebrar as barreiras mentais que lhe foram impostas ou que a mesma impôs a si própria. Hoje vê-se como uma sonhadora e com um grande espírito empreendedor. É mãe de duas crianças e, por isso, o mais importante é conseguir ter uma boa qualidade de vida que lhe permite estar inteira, tanto em casa como no trabalho. Antes colocava um grande peso na vida, agora o seu principal foco é na leveza e bem-estar, independentemente do que aconteça.
Uma mudança de paradigma assente na felicidade e no bem-estar. A felicidade e o bem-estar já são preocupações mundiais, sendo o bem-estar um objetivo do desenvolvimento sustentável para 2030 (estabelecido pela Organização das Nações Unidas). De acordo com Madalena, dá-se cada vez mais importância a estes temas em Portugal, tanto por consciência de que é o melhor a fazer, como por o verem como último recurso para terem sucesso. A diretora afirma que há estudos que revelam que o absentismo, consequência de doenças mentais, “custa à economia global cerca de um trilião de dólares anualmente”, que “85% dos colaboradores não estão comprometidos com o seu trabalho e que 76% se despedem devido a conflitos com a sua chefia direta”. Para além disso, um estudo conduzido pela própria HBS concluiu que 89% dos portugueses sentem-se ansiosos semanalmente devido ao trabalho, incluindo aos fins-de-semana. Todos estes números levaram as empresas a repensar a sua estratégia e a pensar que investir na felicidade organizacional poderia ajudar. “O stress acompanha-nos diariamente, a depressão é considerada a doença mais incapacitante e o burnout atingiu taxas nunca vistas”.
Madalena afirma que as novas gerações já não olham para o conceito de trabalho como as anteriores, dando mais importância à qualidade de vida – “Mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades”. A pandemia também veio alterar a mentalidade do colaborador, sendo que, pela primeira vez, viu a morte como uma ameaça real e muito próxima de si. Vários colaboradores despediram-se em busca da sua felicidade, deixando de aceitar determinados comportamentos organizacionais. Para além disso, a globalização e os novos modelos de trabalho – remoto e híbrido – trouxeram novas oportunidades de trabalho. Madalena alerta que, hoje, o mercado de trabalho já não é liderado pelo empregador, mas pelo potencial empregado, o mesmo que tem a “faca e o queijo na mão”.
Se as empresas não trabalharem as suas culturas laborais, terão mais dificuldade em atrair colaboradores com talento. Do lado do colaborador, a diretora executiva considera que um dos benefícios mais valorizados é a formação, uma vez que os profissionais que se preocupam em aprender cada vez mais e em evoluir são os que acrescentam mais valor à organização e consecutivamente terão mais sucesso. No entanto, Madalena alerta que também é essencial ser humilde para compreender que há muita coisa que não sabemos, sendo necessário aceitar novas formas de fazer as coisas. A felicidade provém de nos sentirmos bem, para depois darmos aos outros o melhor de nós. A diretora executiva explica que colaboradores felizes são mais produtivos, criativos, promovem a inovação, são comprometidos com a organização e consecutivamente vendem mais e realizam um melhor serviço ao cliente.