Com uma carreira diversa de quase 30 anos, alicerçada na formação em economia, Susana Gomes da Costa levou os seus conhecimentos para empresas a operar no campo das finanças, das telecomunicações, dos media, do mercado editorial, dos seguros e da banca. Assume-se como uma profissional rigorosa, sem medo de arriscar e apaixonada pelos diversos sectores onde teve oportunidade de trabalhar. Recentemente, as preocupações sociais têm desempenhado um papel preponderante, não só nas escolhas pessoais como profissionais.
Quando iniciou o seu percurso profissional, as metas que Susana Gomes Costa estabelecera para o futuro cingiam-se a “aprender e fazer o trabalho bem feito”, o resto, antevia, “viria por acréscimo”. Na altura, a própria era aquilo a que chamada hoje de “livro em branco”, no qual se vai “inscrevendo as competências” que decorrem da experiência das funções desempenhadas. “As bases e ferramentas” que podem ser adaptadas aos diferentes sectores de trabalho, quando aliadas ao “estudo e a análises das diversas realidades”.
No caso da empresária, são já seis as áreas onde teve oportunidade de trabalhar – finanças, telecomunicações, media, mercado editorial, seguros e banca – as quais, garante Susana, a conseguiram “apaixonar” sem exceção. “Vestir a camisola e trabalhar com orgulho e entusiasmo alivia muito a carga”, confessa.
Transversal a todas as experiências é, igualmente, a admiração que Susana nutre pelos profissionais que a acompanharam (e acompanham), pelo que faz questão de desfazer a ideia de que a frase “as empresas são as pessoas” é um lugar comum. “Tive a sorte de ter sempre chefes que confiaram em mim, que me deram responsabilidades com autonomia para trilhar o meu caminho para os resultados e para escolher as minhas próprias equipas”. Neste âmbito, a empresária elege a “honestidade, a vontade de trabalhar, a abertura de espírito e a boa disposição” como as competências mais importantes nas equipas que liderou ao longo dos anos.
Atualmente, Susana integra a Fernando Horta e Costa – Sociedade de Mediação de Seguros, onde não ocupa cargos executivos, a Corkbrick Europe, a Balluta (duas startups), e os conselhos fiscais do grupo editorial Leya e da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras, para além de desempenhar funções como consultora independente – uma função que consegue gerir consoante a restante carga de trabalho. Este é, contudo, um perfil que, segundo a própria, não se adequa a “quem gosta de ter tudo programado”. Não é o caso de Susana, que sempre se deu “bem a trabalhar sob pressão”.
Um outro traço do perfil profissional de Susana que se pode desenhar a partir do seu percurso, sobretudo o mais recente, é o espírito de iniciativa e a inquietude com que encara qualquer problema e a sua solução. Prova disso é a atração que sentiu pelo “campo do empreendedorismo e das startups”. “Há milhares de boas ideias em estado embrionário e os indivíduos como eu têm hoje fácil acesso à informação e a possibilidade de apoiar diretamente essas ideias, através de plataformas de crowdfunding e crowdlending, por exemplo.”
No caso específico da Fernando Horta e Costa – Sociedade de Mediação de Seguros, a empresária convive com uma equipa maioritariamente feminina, a qual, defende Susana, aporta um ambiente de maior estabilidade e de maior humanização ao local de trabalho, onde os profissionais tendem a passar muito tempo. Durante o seu percurso profissional marcado por diversas reuniões onde era a única mulher, Susana garante que “nunca” se sentiu “discriminada”. “Apenas senti momentos de alguma cerimónia da parte dos homens em lidar comigo em reuniões maioritariamente masculinas. Mas isso tende a desaparecer, felizmente hoje já é cada vez mais comum ter mulheres em todos os níveis das organizações”, declara.
Defensora da ideia que “não há uma realidade do mundo dos negócios que consiga existir sem ter em conta” as dinâmicas sociais, alguns dos projetos nos quais Susana se envolveu recentemente, sobretudo sob a forma de startups, têm fortes componentes ambientais, como é o caso da Balluta Shoes, empresa tem como objetivo desenvolver calçado vegan para mulheres. “A minha preocupação pela sustentabilidade tem vindo a aumentar e hoje procuro envolver-me em projetos que tenham um impacto positivo no nosso planeta a longo prazo. [A Balluta Shoes] foi um projeto pelo qual me apaixonei precisamente pela componente social e sustentável”, declara.
De acordo com a experiência que foi adquirindo, Susana defende que “os negócios têm de ter em conta os interesses dos seus clientes, cada vez mais informados, e não podem viver isolados do julgamento da opinião pública”. Como tal, vê nesta problemática uma “oportunidade de mercado” face à “crescente sensibilização das pessoas para os problemas ambientais e ao aumento das escolhas de consumo de produtos sustentáveis, que por sua vez estimulam a produção nessa direção”.
Antecipando o que pode ser o futuro no que concerne à inclusão das preocupações ambientais no mundo dos mercados, Susana acredita que os produtos vegan, como os que a Balluta Shoes produz, “deixarão de ser de nicho e o aumento do volume fará baixar os custos de produção (a começar pelas matérias-primas, que ainda são escassas e com preços muito elevados), aumentando exponencialmente a sua quota de consumo”.
No contexto atual, marcado pela pandemia da covid-19 e pelas suas consequências no contexto laboral, também Susana Gomes Costa se viu afetada pelas mudanças. Por já trabalhar maioritariamente “em casa” no período pré-pandemia, foi sobretudo através dos projetos em que está envolvida que a empresária sentiu o impacto da crise sanitária. A Balluta Shoes, por exemplo, “sofreu bastante com a interrupção dos processos produtivos no sector do calçado nacional e a paragem do fornecimento de matérias primas que vinham de países como Espanha ou Itália, muito afetados pela pandemia”. Atualmente, a empresa tem ainda “projetos em suspenso à espera das condições para retomar”. Perante esta realidade, Susana deseja que “2021 seja em quase tudo diferente de 2020, com saúde e liberdade para vivermos em sociedade outra vez”. Por considerar que as “dificuldades ao nível económico e social vão prolongar-se por muito mais tempo”, a empresária espera que o ano novo que se avizinha seja visto como uma oportunidade para “reflexão e planeamento à escala mundial”, sobretudo no que concerne às questões ambientais. “Acredito também que temos a última oportunidade de corrigir a trajetória de caminho para o abismo do nosso Planeta, causada pelo consumo desenfreado de muito mais do que precisamos. É preciso uma nova consciência coletiva de aposta na economia circular e de poupança dos recursos naturais, em todas as áreas da ação humana.”