“Ser mulher em posições de liderança tem-me ensinado a valorizar aquilo que, muitas vezes, é desconsiderado no mundo empresarial: as emoções humanas”

Catarina Passos CEO / DIRETORA EXECUTIVA DO HUG – HUMAN, UPLIFTING AND GLOCAL ENDEAVOUR
Sempre que pedem a Catarina Passos para falar do seu percurso, a pergunta que mais ouve é: “Mas o que faz uma idealista num barco de piratas?”. Esta é a história de como uma jovem curiosa e determinada, apaixonada por culturas e linguagens, transformou papéis guardados num baú em ideias que influenciaram o empreendedorismo e a liderança em Portugal. Da criação do HUG à presidência da NECI-Portugal, conheça o percurso fascinante de uma mulher que transforma desafios em oportunidades e aquilo que sonha em realidade.

 

“Mas o que faz uma idealista num barco de piratas?”. Esta pergunta deu até título a uma apresentação que realizou em dois seminários de mestrado, onde mostrou que é possível ser empresário/a em Portugal e, ao mesmo tempo, preocupar-se com o bem comum. Catarina acredita que, com mais mulheres em cargos de liderança, este idealismo é cada vez mais relevante.

Desde sempre, Catarina teve uma curiosidade imensa por compreender e abraçar diferentes perspetivas e culturas. Esta vontade levou-a a licenciar-se em Línguas e Culturas de Expressão Inglesa e Francesa. O seu primeiro trabalho foi como professora de línguas no ensino secundário, mas a vontade de alargar horizontes levou-a a emigrar e aprofundar a investigação académica em Comunicação da Cultura, primeiro no mestrado sobre os EUA e depois no doutoramento sobre a União Europeia.

A sua vida dividia-se entre a docência em faculdades em Portugal e a investigação em Inglaterra. Naquela época, o doutoramento era visto como um reconhecimento ao fim de uma longa carreira académica, e não algo que uma jovem de vinte e poucos anos pudesse facilmente alcançar. Para lidar com os desafios dessa fase, Catarina começou a escrever nos famosos “papelinhos” os seus desejos e objetivos, que guardava num pequeno baú. Estes papéis, anos mais tarde, tornaram-se a base para a criação da empresa que hoje se chama HUG.

Espalhando os papéis em cima de uma mesa, Catarina criou uma “colcha” de ideias que combinou num projeto e resolveu testar numa iniciativa de empreendedorismo chamada “Start-up Pirates!”. Primeiro, teve de convencer outras/os participantes a abdicarem dos seus projetos para se juntarem ao dela. Após uma semana intensa de formação, ganhou um prémio—não foi o primeiro lugar, mas o segundo. Catarina conseguiu ainda convencer o vencedor, um excelente vendedor, a juntar-se à sua equipa. No pitch final, em frente a “tubarões”, empresários e investidores muito experientes, estava Catarina com o seu projeto idealista de criar uma agência de (in) formação sobre direitos de cidadania!

“Manter-me atualizada, transferir conhecimento académico para a prática empresarial numa linguagem que faça sentido na vida quotidiana das pessoas, estar na frente de trabalho e a também a fazer trabalho de “backstage” exigem dedicação quantitativa e qualitativa de tempo.”

Este projeto, mais tarde, foi desenvolvido na Escola de Start-ups da Universidade do Porto e assim nasceu a Via Glocal, uma Agência de (In) Formação Empresarial. Com a associação NECI-Portugal, a Via Glocal tornou-se HUG, passando a abranger também um Centro de Estudos & More, ou seja, com atividades pós-estudo que promovem o diálogo entre culturas.

Como CEO do HUG, Catarina lidera um empreendimento humanista, entusiasta e conectante. O nome HUG reflete os seus pilares: Human, Uplifting, and Glocal Endeavour. As suas principais responsabilidades incluem liderar as duas vertentes do HUG:
– HUG Agência de InFormação Empresarial: Promove formação e consultoria para integrar práticas mais humanas e sustentáveis nas empresas.
– HUG Centro de Estudo & More: Foca-se no desenvolvimento de competências transversais, abrangendo diferentes públicos, desde crianças a quem procura capacitação contínua.
O objetivo final é sempre o mesmo: criar impacto positivo, tanto a nível pessoal como organizacional.

“A visão do HUG é capacitar pessoas e organizações para que alcancem o seu máximo potencial de forma sustentável e inclusiva”

 

A missão do HUG vai além de ensinar ou formar: pretende transformar. Acreditam que cada pessoa tem o poder de causar impacto positivo na sua comunidade, criando pontes entre o global e o local, e promovendo mudanças concretas e duradouras.
O trabalho de Catarina na NECI-Portugal também é notável. Aceitou a responsabilidade de ser presidente em 2018, criando uma equipa dedicada a promover o diálogo entre culturas e abrir horizontes a jovens através de intercâmbios Erasmus+.

Uma das conquistas mais significativas foi o projeto “EU Digital Storytelling”, uma parceria com associações de Itália e Croácia, que resultou na criação de uma web app com histórias digitais de jovens a explicar o impacto do projeto Erasmus+ na sua vida. Este projeto não só atingiu todos os objetivos, como também ganhou um prémio de Boas Práticas.

Catarina acredita que o trabalho da NECI-Portugal vai além da educação: “é sobre transformar mentalidades e construir pontes que aproximem pessoas e comunidades” conclui. Utilizam métodos de educação não formais e informais para promover mais conhecimento intercultural e menos conflitos.

No seu papel como Immediate Past President do OTC (Oporto Toastmasters Club), Catarina focou-se em manter o padrão de excelência do clube, trazendo a sua visão pessoal. Iniciativas inovadoras como a implementação de medidas ESG (Environment, Social and Governance), campanhas de mobilização e melhorias na qualidade das sessões híbridas fortaleceram o clube e asseguraram um elevado nível de membros. “Destaco a manutenção de um nível muito elevado de membros, graças a medidas como o investimento na qualidade das sessões híbridas, no brinde final com vinho do Porto e na realização de sessões em espaços públicos, como a FNAC, o Parque da Cidade e até mesmo num barco no Rio Douro“ reitera.

A mediação cultural é o coração do trabalho de Catarina. “Encaro-a como uma ponte entre mundos aparentemente desconectados, criando espaço para a empatia e o entendimento, ajudando a transformar diferenças em sinergias” afirma.

Aplicando um modelo em três passos—conhecer as entidades culturais, perceber o mundo onde se movem e procurar posicionamentos comuns—Catarina tem sido bem- sucedida em integrar boas práticas na cultura organizacional. Os principais desafios na implementação de protocolos empresariais eficazes, segundo Catarina, estão na falta de investimento na criação de modelos que promovam a diversidade cultural nas organizações. A solução passa pelo recrutamento estratégico e pela adoção de protocolos socioculturais que incentivem comportamentos desejáveis, promovendo uma compreensão mais profunda das diferenças culturais.

A trajetória de Catarina Passos é um exemplo brilhante de empreendedorismo e liderança no feminino: é a história de como uma idealista pode transformar sonhos e desafios em oportunidades reais e contribuir significativamente para o bem estar comum.