“A NUTRIÇÃO É A ESSÊNCIA DA NOSSA VIDA”

Sempre interessada pela nutrição, Paula Veloso decidiu licenciar-se na área, depois de desistir de Medicina, e tornou-se nutricionista clínica, profissão que detém desde 1991. Com o seu trabalho, a nutricionista  pretende combater os variados mitos da alimentação e da nutrição e demonstrar a sua importância para a saúde e a vida de todos.

 

Nascida no seio de uma família que priorizava a alimentação saudável, Paula Veloso teve desde sempre um enorme interesse pela nutrição, o que a levou a licenciar-se nesta área. É nutricionista clínica há mais de três décadas, tendo já escrito livros e publicações relacionadas com este ramo.

Demonstrar aos seus clientes (e a todos) que “de uma boa alimentação depende uma boa nutrição e uma boa saúde e que esse compromisso é para toda a vida” é a principal missão da médica de 65 anos.

Natural do Porto, Paula Veloso teve uma infância “normal”, com “boa saúde”, descrevendo-se como uma “boa aluna mas não excelente”, “alegre e curiosa”. A nutricionista veio de uma “família da classe média sem luxos” que percecionava a alimentação como “a prioridade para um crescimento e vida saudáveis”, pelo que os seus pais “zelavam pelo cumprimento de regras e horários para as refeições” e asseguravam que Paula e os seus irmãos, um deles o famoso músico português Rui Veloso, “dormiam o indispensável”. A nutricionista afirma que “nunca faltava a sopa no início das refeições” e estas continham uma variedade de proteínas, “hortícolas crus ou cozinhados, fruta” e água, enquanto que “sobremesas doces [eram] só em festas” e não se bebiam refrigerantes. Segundo a profissional, a sua mãe gostava de “experimentar novos pratos e receitas” e “não [gerava] desperdício alimentar”, qualidades que diz ter herdado dela.

Estas influências parentais acabariam por despertar o interesse de Paula face à “área das ciências ligadas ao ser humano”, nomeadamente a nutrição. Contudo, inicialmente, a médica queria ser assistente social pela sua “vontade de contribuir para o bem-estar e felicidade das pessoas”, mas, por se opor à obrigação de “pedir ao pároco da sua freguesia uma declaração que atestasse o seu bom comportamento” para a sua ingressão, acabou por não seguir esse ramo.

Deste modo, Paula começou o seu percurso académico em Medicina, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS); porém, “ao fim de um ano e meio”, decidiu desistir deste curso. Isto porque, na altura da Revolução do 25 de Abril, formaram-se “caciques políticos” que originaram “uma espécie de apartheid dentro da escola”, algo que “criou um desconforto e uma sensação de inadaptação” na atual nutricionista. Assim, influenciada por uma amiga que, por não ter entrado em Medicina, dirigiu-se para a área da nutrição e acabou por “gostar tanto” desta, Paula acabou por seguir o mesmo caminho ao ingressar na licenciatura em Nutrição, da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP).

Com apenas 23 anos, Paula tornou-se mãe pela primeira vez e, para sustentar os filhos, “lecionou durante sete anos”, terminando depois o seu curso superior. Posteriormente, decidiu colocar “um anúncio no Jornal de Notícias” e, em 1991, “começou a dar consultas como nutricionista numa Mutualidade”, onde ainda “exerce parte da sua atividade”.

A nutricionista atualmente especializa-se em “redução de peso e patologias relacionadas, como hipertensão, colesterol alto, triglicerídeos elevados, diabetes tipo 2, entre outros” e exerce sua profissão no Porto, em Arcos de Valdevez, onde reside, e em Ponte de Lima.

Como profissional na área da nutrição, Paula sente que tem um impacto “positivo” nos seus utentes, pois é comum vê-los entrar “descrentes, [cabisbaixos] e tristes” nas suas consultas, algo que “pode e deve ser trabalhado durante o primeiro encontro”, e sair “com um abraço e a sorrir”. Igualmente, a nutricionista é impactada pelos seus pacientes, visto que “se interessa genuinamente por cada caso”, revelando que fica até angustiada quando “faltam às consultas sem avisar”.

Entretanto, a nutricionista já colaborou com inúmeras revistas e participou em programas de rádio e de televisão. Para além disso, já escreveu dois livros, “Dietas sem dieta”, bestseller em Portugal, e “Dieta sem castigo – o melhor para o meu filho”, que foi nomeado para a categoria de “Melhor livro de cozinha para crianças e família” pelos Gourmand World Cookbook Awards, e foi coautora, juntamente com a nutricionista Teresa Maia, de “Peso, uma questão de peso”.

Com estas obras, Paula pretendia evidenciar a todos que, “para emagrecer, podem comer exatamente a mesma coisa que as pessoas comem para engordar ou para manter o peso, só que em quantidades diferentes”, assim como o facto de que “uma dieta de emagrecimento não tem [de] ser uma coisa desagradável, feia e sensaborona”, mas sim “bonita e apelativa”. De acordo com a nutricionista, “o segredo está nas quantidades em que  e produz a comida” e é realmente possível “comer com prazer e de forma rápida, saborosa e saudável”, proporcionando a autora, nestes livros, “conceitos e receitas muito simples” para o quotidiano.
Na ótica de Paula Veloso, a nutrição “é essência” da vida do ser humano e, por isso, é imprescindível para esta. “Senão ingerirmos todas as vitaminas, minerais, proteínas, gorduras, hidratos de carbono, fibras e água que uma boa saúde exige, poderemos equiparar-nos a uma máquina fabulosa que, apesar de perfeita na sua origem, […] seremos candidatos a avarias, muitas vezes, sem solução fácil”, ressalta a profissional.

Deste modo, a alimentação saudável continua a basear-se nos “padrões da dieta mais saudável do mundo, a Mediterrânica, cujo consumo é ditado pela respetiva Pirâmide Alimentar”, refere Paula. Contudo, atualmente, existem “modas na alimentação”, admite, que “levam as pessoas a crer que alguns alimentos são super alimentos”, independentemente dos seus “impactos ambientais e pessoais”, que podem proporcionar “uma inadaptação do nosso organismo a alimentos para os quais a nossa biota intestinal não está preparada”. Isto “muitas vezes” dá origem a “intolerâncias ou alergias alimentares” e acaba também por “desviar a atenção sobre os componentes essenciais à necessidade nutricional individual”. Segundo a médica, a “regra” para uma alimentação saudável passa por vários pontos: tomar o pequeno-almoço diariamente, que é um “importante motor de arranque do dia”, “não estar horas a fio sem comer, incluir todos os grupos da roda dos alimentos no seu dia-a-dia e variar os alimentos dentro de cada grupo”, “prestar atenção ao que se come”, beber água regularmente e, por fim, “reduzir a frequência e a quantidade da ingestão de carne e produtos cárneos, de açúcar, de refrigerantes e bebidas alcoólicas”.

Como portuguesa, Paula revela que a alimentação nacional tem pontos positivos e negativos. Por um lado, existe uma “maior preocupação com a inclusão e variedade
dos grupos alimentares, mas também com a confeção dos alimentos” e, por isso, há “mais sensibilidade para evitar métodos culinários que alteram substâncias fundamentais da dieta”. Por outro lado, a profissional observa a “falta de regras relativamente aos horários e [à] serenidade das refeições”, causada pela “excessiva carga de trabalho” e também pelas “excessivas distrações com telemóveis e notícias”.

Para além disso, a alimentação portuguesa pauta-se pelo “excesso de carne e produtos cárneos” e pela presença “frequente” de “comida processada, refrigerantes e bebidas estimulantes e alcoólicas que substituem a água”, destacando a “falta de sopa que é  um alimento muito saciante e muito baixo em calorias” e que acaba por ser apenas “incluída na alimentação da criança até que esta passe a fazer exclusivamente a alimentação familiar”. A médica até refere que “muitos pais são bastante negligentes com a alimentação caseira, mas exigentes nos infantários e nas escolas, esquecendo que a educação começa em casa”.

Na verdade, a ligação entre a alimentação e a saúde apenas é devidamente “compreendida e aplicada […] durante a gravidez e os dois primeiros anos de vida”, de acordo com Paula. Desta forma, a dieta tanto das crianças como dos adultos “deve ser em quantidades ajustadas a cada indivíduo, os pratos devem ter uma bonita apresentação, deve incentivar-se a prova de alimentos e não condicioná-la ao gosto dos pais” e também é preciso “fazer das refeições um momento de prazer e não de guerra”. De maneira a implementar a educação nutricional no seio familiar, a médica aconselha nomeadamente os pais a “procurar informações fidedignas” nas “entidades científicas e profissionais que contêm informação importante, credível e acessível, bem-feita”, com o propósito de “ensinar as pessoas a ter uma alimentação consciente e indispensável à manutenção da saúde”, como a Direção-Geral da Saúde ou a Associação Portuguesa de Nutrição.

“É importante também perceber que, em Portugal, se produzem ou [pode-se] obter todos os alimentos necessários a uma boa nutrição, sem recorrer a alimentos importados com impacto ambiental de peso, privilegiando os alimentos frescos, locais e sazonais”, sublinha a profissional.

Apesar de a nutrição e o desporto serem “obviamente importantes” para uma vida saudável, Paula alerta para o facto de que, atualmente, o desporto “está a atingir e a extravasar o seu sentido de promoção da saúde”, ao dar os exemplos de ”pedalar a uma velocidade estonteante [numa] bicicleta numa sala do ginásio” e de “correr com excesso de peso”, os quais não considera “bons para a saúde”. Igualmente, a profissional refere a “moda” do “consumo de substâncias impingidas pelos próprios ginásios”, que “poderão ter consequências negativas para a saúde” “O desporto é importante desde que não comprometa o bom funcionamento do organismo.”

Nutricionista há mais de 30 anos, Paula Veloso detém uma carreira exemplar. Para  a nutricionista, “a honestidade intelectual, a verdade, a empatia, o afeto e o gosto pelas pessoas e por trabalhar com e para elas” são fundamentais para o sucesso, assim como “gostar do que se faz e acreditar que esse gosto e envolvimento passam para as pessoas que nos procuram ou com quem cooperamos”. Já uma líder deve “saber gerir os recursos humanos sem prepotência, surdez e imposição de ideias” e, portanto, deve transmitir “a importância das ideias e do trabalho da equipa” para o sucesso, que é “obrigatoriamente” alcançado com a “realização e felicidade de cada um”, infere a nutricionista.