Neste dia em particular gostaria que pudéssemos refletir sobre alguns números e o seu impacto na nossa sociedade.
Recentemente foram divulgadas algumas estatísticas que, confesso, me deixaram muito inquieta, e que revelam que antes de falarmos em lideranças no feminino, devemos perceber que existem no mundo global à data, direitos humanos básicos que continuam a ser sonegados a nós Mulheres.
Em…140 países não existe licença parental remunerada. Em…95 países não existe legislação que determine que para trabalho. Em…de igual valor remuneração igual. Em…68 países as mulheres não tem os mesmos direitos que os homens para se casarem novamente. Em…46 países não existe legislação para assédio sexual no trabalho. Em… 34 países uma mulher não pode solicitar um passaporte da mesma forma que um homem.
Se quisermos concentrar a nossa reflexão no mundo do trabalho, e já passaram mais de 25 anos desde a adoção da Plataforma de Ação (de Pequim) da ONU, que visa promover um conjunto de medidas por forma a garantir às mulheres a intervenção de pleno direito nas tomadas de decisão em questões políticas, económicas, sociais e culturais, ou seja, a fim de garantir o seu empoderamento, a realidade ainda se torna mais chocante.
O “Global Gender Gap Index” 2022 do Fórum Económico Mundial, revela que o gap entre homens e mulheres se situa em 68,1% (76,6% em Portugal) o que, a este ritmo, levará 132 anos para alcançar a paridade total. Por outro lado, o “U27 Gender Pay GAP 2020 (fonte: Eurostat 2022) mostra que as mulheres na União Europeia ganham, em média, menos 13% do salário bruto por hora do que os homens (11,4% em Portugal). A mesma fonte, Eurostat 2022, revela que, apesar de 1/3 dos gestores da UE serem mulheres, apenas 7% são CEO (6% em Portugal).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as mulheres representam 70 % dos 43 milhões de trabalhadores no sector da indústria global da saúde. No entanto, ao nível executivo, apenas 25% dos cargos de liderança na área da saúde são ocupados por mulheres.
Em particular no meu hospital, o Santo António, mais de 52% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Temos uma mulher também na liderança dos Sistemas de Informação e ao nível do Board tenho sido eu a liderar os processos de mudança cultural e de transformação digital por onde tenho passado.
Gosto genuinamente de acreditar que muitas de nós poderemos não estar, por opção, a contribuir para uma maior estatística quando falamos de lugares de topo, como o lugar de CEO. Mas também sei que as oportunidades não serão certamente as mesmas. Sei-o porque os sucessivos estudos e experiências coletivas no nosso dia-a-dia, o comprovam claramente.
Efetivamente, o mundo digital proporciona de longe um potencial muito maior para promover a igualdade de género, ser menos preconceituoso e mais inclusivo do que o mundo “tradicional” e, no entanto, o mundo digital ainda é maioritariamente liderado pelos homens.
Recentemente tive a oportunidade de assumir funções de CEO precisamente nessa área. E, no final, optei por não aceitar. Não importarão aqui as razões, que serão sempre de natureza pessoal, mas importa sim reforçar as expressões: “tive a oportunidade de assumir funções de CEO” e “no final, optei por não aceitar”. E esta tem sido verdadeiramente a minha causa, que existam as mesmas oportunidades para homens e mulheres, independentemente da função ou posição, mas também que estas lideranças que vamos assumindo sejam sempre por nossa opção, no momento certo, com o sentimento certo. No final do dia, será sempre esse sentimento, e que é tão nosso, que nos fará felizes e mentalmente saudáveis.
Acredito que juntos, homens e mulheres, estamos a tentar inverter todos estes gaps, mas façamo-lo com este propósito: o de que a igualdade mostrar-se-á na igualdade de oportunidades e não apenas em estatísticas finais. E no final que essas estatísticas representem as nossas vontades, as nossas opções.
E as estatísticas são conhecidas e reveladoras de uma situação persistentemente discriminatória: apesar de igualarem superarem os homens ao nível de instrução académica superior, as mulheres ganham significativamente menos e têm maior dificuldade em ascender aos cargos de topo.