“Porque o mais importante são as pessoas”
Sempre teve objetivos bem definidos, mas a política aconteceu na sua vida por um acaso. Contudo, assumiu-a como uma missão. Sente-se muito próximo das populações mais vulneráveis – por isso envolveu-se em várias associações de cariz social, onde intervém como cidadã e como política. Desde 2005 é deputada do Partido Socialista na Assembleia da República. Integra várias Comissões Parlamentares, nomeadamente na área da saúde.
Como iniciou a carreira política?
O meu objetivo foi sempre ser advogada. Essa é a minha formação base. Depois de ter atingido o meu objetivo, que era ser advogada, comecei a participar no Conselho Consultivo da Juventude de Matosinhos, em 1993. Na altura, era necessário um representante de cada associação do concelho e eu era delegada do Futebol Clube de Infesta. Foi aí que comecei a contribuir para a programação das políticas da juventude e sempre fui interveniente e participativa, com opiniões muito próprias. Para surpresa minha, fui convidada a fazer parte da lista de candidatos e fui eleita vereadora em 1997. Desde aí, estive sempre ligada à vida política ativa.
Existem áreas às quais se mantém sempre próxima, como a Saúde e às questões de âmbito social. Sente mais empatia com essas áreas?
Comecei nas políticas de juventude, que tem áreas transversais a todas as outras. Na verdade, sempre me senti vocacionada para esses setores, mesmo enquanto advogada. Sempre tive uma grande apetência para trabalhar com as pessoas que têm mais dificuldades económicas ou outras no sentido de encontrar respostas para que todos vivam com dignidade. Na Câmara Municipal elaborei um plano de prevenção primária na área da toxicodependência dirigido aos jovens do concelho. Nessa altura, comecei a trabalhar com a população mais vulnerável. Fui presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Matosinhos e da AIDEMA (Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos), que é a instituição que tem a maior fatia do trabalho social no concelho. Como também era vereadora na área da Saúde, quando fui para o Parlamento, mantive-me nessa área, mas aí também a nível nacional.
Além da atividade política, desenvolve um trabalho em diversos organismos de caráter social. Podemos falar sobre esse envolvimento também enquanto cidadã?
Enquanto cidadã preocupo-me com a franja da população mais vulnerável. Fui presidente da Associação MAIS (Matosinhos Apoia a Inserção Social), uma instituição de apoio à inclusão social, que possui vários equipamentos destinados às crianças. Sou fundadora e membro de outras associações de caráter social, sobretudo de apoio a crianças, mas igualmente vocacionadas para a população idosa. Ajudei a implantar o Kastelo, que criou em S. Mamede de Infesta a primeira Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos Pediátricos da Península Ibérica. Estive neste projeto desde o início e por isso me chamam madrinha, o que me honra muito.
Normalmente encontram-se mais mulheres dedicadas à área social. Considera que esse papel está destinado às mulheres, por tradição social?
As características de sensibilidade estão tão presentes nos homens como nas mulheres. A questão não é de género, mas da organização social em que nos inserimos. A sociedade ainda está organizada para que as mulheres estejam mais disponíveis para essas áreas, mas esta é uma realidade que está a esbater-se. Mesmo assim, ainda está reservado à mulher o papel clássico de cuidar dos idosos e das crianças. E ainda existe a ideia de que quando o homem faz esse papel, está a “ajudar” a mulher. Na verdade, não tem que “ajudar”, as responsabilidades são dos dois, devem ser ambos a assumir o papel de cuidadores. Na sociedade civil ainda existem áreas marcadamente masculinas e outros setores onde sobressai a presença feminina. Mas esta discrepância está diretamente relacionada com a organização da sociedade.
Quando foi eleita para a direção da Comissão de Energia e Segurança Ambiental da Nato, sentiu de alguma forma a diferença de ser uma mulher na liderança?
Fui eleita pelos meus pares para ser vice-presidente desta comissão e na realidade há poucas mulheres em lugares de chefia. Sinto-me lisonjeada com essa eleição, um cargo para que fui eleita por unanimidade. Como sempre manifestei as minhas opiniões livremente, não senti quaisquer dificuldades. A minha especialidade é Direito do Ambiente e nesse contexto senti-me à vontade. Quando cheguei à Nato, participei na Comissão de Ambiente, expus o que eu achava que deveria ser realizado e proposto em termos de Energia e Ambiente. Os meus colegas gostaram das minhas ideias, propuseram-me e elegeram-me. Obviamente, deu-me um prazer especial, porque a Nato é um mundo onde existe o domínio de homens e de uniformes. E eu era mulher e civil! Foi uma excelente experiência, um trabalho enriquecedor, em que aprendi muito, tive a oportunidade de testemunhar o que é feito noutros países e foi importante para Portugal ter um representante nesse setor. A delegação portuguesa na Assembleia Parlamentar na NATO é uma representação muito forte, porque os nossos deputados que fazem parte dessa Assembleia têm todos cargos de destaque. Somos rigorosos e beneficiamos de grande credibilidade.