Nascida na pequena vila de Fronteira, no norte do Alentejo, Joana Neves cresceu rodeada por paisagens serenas e uma família que sempre incentivou a sua autoconfiança. Desde cedo, os pais ensinaram-lhe que “o fracasso é uma componente da aprendizagem da vida e que o esforço individual e a definição de metas concretas são ingredientes essenciais para se alcançar resultados.” Inspirada principalmente pelo pai, que persistiu em tempos de ditadura, Joana aprendeu a valorizar a inteligência e a resiliência.
Até aos 18 anos, Joana estudou num colégio local, onde conviveu com jovens de todas as classes sociais, vindos de várias partes do país. Nas férias de verão, aproveitava para adquirir novas competências, como a dactilografia. “Recebi dos meus pais uma máquina de escrever Oliva para praticar, algo muito inovador para a época,” recorda. Além disso, dedicava-se ao aprendizado de idiomas como francês e inglês.
No verão de 1978, Joana recebeu o seu primeiro passaporte como prenda de aniversário. Decidida a aperfeiçoar o francês e ganhar algum dinheiro, foi para França trabalhar como “fille au pair” durante as férias. “Quando queremos muito algo, quando nos empenhamos e lutamos com convicção, mas também com humildade suficiente, chegaremos com forte probabilidade às metas desejadas,” afirma.
Após algumas conversas em casa, Joana decidiu estuda Turismo no Instituto das Novas Profissões, uma área que via como uma oportunidade de conhecer novos lugares e culturas. Trabalhou na Região de Turismo do Alto Alentejo, na Direção Regional de turismo dos Açores e no Instituto de Promoção Turística, vivendo assim “um sonho concretizado”, embora com “a sensação de algum vazio”. Aos 38 anos, já com duas filhas, Joana decidiu regressar aos estudos e aprofundar a sua formação. Licenciou-se em Gestão Turística e Hoteleira, fez uma pós-graduação em Gestão de Produtos Turísticos e completou um Doutoramento em Gestão. “A academia é imprescindível para qualquer ação, independentemente do setor onde atuamos,” sublinha.
A partir desse momento, Joana mudou o seu percurso profissional e começou a trabalhar na internacionalização, sempre ligada a relações externas. “Foi uma espécie de metamorfose que a AICEP aceitou bem, proporcionando-me um crescimento pessoal e profissional fantásticos,” diz. Paralelamente, Joana foi representante do Ministério da Economia na ANQ, Vogal Não Executiva do INNALENTEJO e representante da CCDR Alentejo no programa europeu de reabilitação urbana Jessica Portugal. Além disso, colaborava como professora e investigadora em várias universidades.
Em 2015, Joana decidiu acrescentar uma nova dimensão à sua carreira, trabalhando na rede externa da AICEP. Exerceu funções na Coreia do Sul e em Marrocos e está atualmente em Espanha.
“Sempre procurei um caminho que me permitisse desenvolver a criatividade, reforçar conhecimentos e resolver problemas, assim como conhecer novos
lugares e gentes.”
Joana acredita que “a dose certa de arte e de mestria, associada à empatia, poderá facilitar o diálogo ou a gestão de atitudes e sentimentos, não raras vezes, contraditórios.”
O interesse pela diplomacia surgiu como uma consequência natural do seu trabalho na
AICEP, que se tornou o principal veículo de apoio à internacionalização das empresas portuguesas. A AICEP está há pouco mais de uma década co-localizada nas embaixadas, sendo a sua atividade desenvolvida em estreita articulação com estas. Daí que, por inerência, sejam igualmente nomeados como Conselheiros Económicos e Comerciais das Embaixadas.
“Somos o braço armado das Embaixadas em matéria económica e comercial.”
Um dos maiores desafios da sua carreira foi abrir uma delegação da AICEP em Seul, na Coreia do Sul. “Cortadas as amarras das barreiras culturais, do mindset empresarial e de uma alimentação que, no final, vim a tornar-me fã, só posso sublinhar que a Coreia do Sul é um país fantástico,” afirma. Com uma oferta tecnológica e industrial de ponta, uma rede de transportes públicos eficiente e níveis de segurança elevados, Joana encontrou muito a aprender com este país.
Enquanto mulher num cargo de liderança, Joana nunca sentiu que a sua capacidade fosse questionada, mas aponta a questão das remunerações como uma discrepância ainda presente. “Os muitos laivos patriarcais de que ainda padece a nossa sociedade são uma verdade indesmentível, mas tal situação nunca deverá demover ninguém de trabalhar com grande empenho, motivação e dedicação.”
Para Joana, um líder é alguém que “consegue despertar consciências, orientar as pessoas e agitar as águas para as levar mais longe.” Além disso, acredita que “um líder é também alguém que assume que não sabe tudo e que gosta de aprender.