COMUNICAR EM TEMPOS DE CRISE? SIM, MAS COM PROPÓSITO E HONESTIDADE

O ano de 2020 arrancou com a confiança e o otimismo de um novo ano, com a vontade e a garra de abraçar novos desafios e as oportunidades que a estabilidade social e económica nos permitia antecipar. Mas depressa tudo mudou. A nossa vida mudou. Fomos arrastados por um tsunami que nos obrigou a uma viragem abrupta na forma como passámos a comunicar com os outros, a trabalhar e a consumir, levando-nos a refletir sobre quem somos e o que queremos. Quem o afirma é Catarina Cristão,Responsável de Marca e Comunicação da SIBS,  à Revista Liderança no Feminino.

 

Catarina Cristão,
Responsável de Marca e Comunicação da SIBS

Os modelos sociais como os conhecíamos alteraram-se. E a comunicação viu-se forçada a uma adaptação apressada. É um facto. As empresas e as marcas colocaram um travão a fundo nas suas estratégias de comunicação e marketing, interromperam campanhas, projetos e modelos de negócio, e, num espaço curtíssimo de tempo, foram obrigadas a repensar todos os planos e ações programadas. Tiveram de passar a ter em conta as mudanças de hábitos e alterações emocionais dos consumidores e utilizadores, e refletir nos seus planos de comunicação esta adaptação e proximidade aos seus públicos. Tiveram de ser mais empáticas, menos distantes, mais preocupadas. Os profissionais de comunicação perceberam rapidamente essa necessidade e nem o confinamento nem o teletrabalho amornaram a dinâmica e o ritmo de trabalho das equipas um pouco por todo o lado. Pelo contrário. Poucas semanas depois do aparecimento da COVID-19 na Europa, o fluxo de comunicação subiu para níveis sem precedentes.

O LinkedIn, neste âmbito, é uma ferramenta única e incontornável para medir a dinâmica de partilha de informação corporativa e a interação dos utilizadores aos novos conteúdos que jorravam diariamente nesta rede social. Não só porque as empresas queriam freneticamente estar na linha da frente e entre as mais ativas a dizer que estavam lá, que se preocupavam, que estavam dispostas a fazer diferente e a ajudar na luta contra o novo coronavírus, mas também porque os próprios utilizadores estavam recetivos, famintos de novos conteúdos digitais que lhes permitissem beber da atualidade e procurar um pilar de estabilidade nestes tempos difíceis.

O mais recente estudo do LinkedIn, “Content Ideas for today’s evolving world of work”, divulgado no passado mês de abril sobre os conteúdos mais falados na plataforma, revela que o número de artigos publicados cresceu uns incríveis 1700%, de fevereiro para março deste ano. Na mesma medida, a taxa de engagement com os conteúdos disponibilizados nesses mesmos meses aumentou 2000%. Por outro lado, a hashtag mais usada nesta Rede Social passou de #marketing, em janeiro e fevereiro, para #coronavirus e #covid19 em março, sendo que outras começaram a ganhar mais preponderância como #prevention e #safety.

Outro dado interessante deste estudo é que foram as empresas de Tecnologias de Informação e de Serviços Financeiros que mais despoletaram a discussão em torno da pandemia. Mas nesta corrida desenfreada por colocar conteúdos na rua, algumas empresas esqueceram-se do que era realmente importante. Não basta comunicar. Há que fazê-lo com propósito, com transparência e com honestidade e não adornar a comunicação com superficialidades. A transparência leva à lealdade e à confiança nas marcas. Felizmente estou em crer que as equipas de comunicação conseguiram chegar a um equilíbrio racionável. Perceberam que hoje, mais do que nunca, é fundamental pensar  as pessoas, no público que nos segue, nos consumidores e utilizadores, saber o que querem e escutá-los, por forma a realmente comunicar para eles e antecipar uma reação positiva aos nossos conteúdos. Procuraram perceber se a comunicação era realmente relevante e útil, tendo em consideração o contexto complexo em que nos encontramos. E evitar a superexposição e o comunicar só porque sim. As empresas devem apresentar-se como especialistas em determinadas áreas, estar a par da atualidade, comunicar tendências e oferecer conhecimentos. Mostrar que o seu peso e contribuição para a sociedade é mais do que apenas “vender” produtos e serviços. Oferecer o que é realmente importante para o ecossistema e não apenas para a empresa. Não nos esqueçamos que as marcas e as empresas estão sob grande escrutínio, agora mais do que antes. Uma má comunicação ou uma comunicação desmesurada pode ter um impacto negativo incalculável. É nos tempos de crise que podemos e devemos, de facto, fazer a diferença. Os consumidores vão-se lembrar das ações e dos comportamentos das marcas e das empresas nestes tempos. E tomar as suas decisões futuras com base nisso.