Dieta Detox?
São muitas e divergentes as opiniões acerca de “dietas detox” ou “dietas de compensação” ou “dietas de limpeza do organismo” ou… Na verdade, a dita “limpeza do organismo” faz-se, naturalmente, ao longo do tempo, adquirindo hábitos alimentares saudáveis, sem excessos e compensações. Também é verdade que esta quadra natalícia é vivida em torno da mesa e por mais que me preocupe sensibilizar para as vantagens de manter uma dieta saudável como modo de vida, também me faz sentido libertar os meus pacientes nesta altura. Atenção, a dita “liberdade alimentar” pode existir nos dias 24 e 25, idealmente no jantar de um e almoço do outro, não devendo manter os restinhos na mesa da sala e os bombons distribuídos pela casa. Todos sabemos o que acaba por acontecer, os jantares de Natal começam no início de Dezembro, então chega a consoada com toda a doçaria que fica e se vai degustando até à passagem de ano. Então, sobretudo quando se festeja em casa, segue-se mais uma rodada de restinhos até aos Reis e como se não bastasse, até ao final de Janeiro andamos a patinar até conseguirmos regressar à disciplina alimentar. O açúcar “vicia” e sentimo-lo em plenitude.
Ora bem, depois dos excessos vem a purga! Naturalmente – repito – não conseguimos o milagre da desintoxicação em dois dias, mas faz todo o sentido procurar os alimentos no seu estado natural, não processados, os alimentos felizes de que tanto falo.
Os excessos, também nestas festas, são à base de alimentos – perdão, produtos alimentares – concentrados em calorias, sal, açúcares e gorduras de má qualidade, certo? A “purga” terá de basear-se no oposto. E o que é, então, este oposto? É aquele com que tantas vezes nos digladiamos o ano inteiro: a ingestão de fruta fresca, hortícolas, frutos gordos, leguminosas, cereais e derivados integrais, etc., ou seja, alimentos pobres nesses “maus” (ou anti) nutrientes. Alimentos – esses sim, alimentos! – ricos em vitaminas, minerais, antioxidantes, fibras e gorduras boas, essenciais.
Explorando em primeiro lugar a “purga”, convém referir que este método de “desintoxicação”, também conhecido abreviadamente como
Neste sentido e na linha de raciocínio do que já escrevi, convém então enumerar quais são os tais alimentos que, pela sua riqueza nutricional, poderão optimizar os processos de desintoxicação, segundo o que parece ser mais consensual na literatura publicada:
– legumes: beterraba, cenouras, alho, cebola, gengibre, funcho
– hortícolas: anchovas, brócolos, espargos, couve-de-bruxelas, repolho, couve, couve-flor, espinafre, agrião
– especiarias e ervas aromáticas: salsa, açafrão, coentros, manjericão
– frutas frescas: maçã, ananás, abacate
– frutos gordos: nozes, castanha do Brasil
– laticínios: iogurtes magros
– outros: sementes de linhaça
Convém referir que uma alimentação baseada apenas nestes alimentos será seguramente restritiva sob a perspectiva nutricional, ainda que reforçada em nutrientes que potenciem a “limpeza do organismo”, pelo que a sua prossecução pode acarretar uma perda de peso acentuada. Assim, tenhamos atenção à duração dos ditos dias “detox”, se sentirmos falta de um plano hipocalórico que nos sirva como ponto de viragem, façamo-lo por não mais de dois dias a uma semana. Os sumos detox podem ser um bom auxilio nesse processo, adicionando a água aos hortofruticolas. Saibamos que nos faltam alimentos proteicos e alguma quantidade de energia proveniente dos hidratos de carbono e das gorduras, se seguirmos apenas a lista indicada. Depois do detox que escolhemos, retomemos a disciplina alimentar com um plano completo e equilibrado.
Termino enumerando as vantagens de ingerir os ditos alimentos, nomeadamente na sua rotina pós-festividades. Estará a facilitar:
– o restabelecimento da flora intestinal através de fibras e microorganismos;
– o fornecimento de (1) enzimas ou co-enzimas que facilitam a digestão ou os processos metabólicos, (2) antioxidantes que ajudam a remover o “lixo oxidado” proveniente do metabolismo e (3) nutrientes anti-inflamatórios que ajudam a compensar o fenómeno inflamatório provocado pelos açúcares, gorduras saturadas e bebidas alcoólicas;
– a eliminação de produtos pelos rins, auxiliando assim melhor o fígado.
“Com conta peso e medida”, é certo, sem esquecer também de “adaptar a alimentação à vida e não a vida à alimentação”.
Ana Bravo
nutricaocomcoracao.pt