Nem todos os materiais resistem ao tempo com elegância — mas o vidro,quando moldado com saber e visão, transforma-se em legado. É com essa transparência e firmeza que Ana Margarida Silva, economista e guardiã do legado de Máximo Silva, conduz a Cristalmax, referência nacional na indústria de transformação de vidro. Nesta entrevista, desvendamos o percurso de uma liderança feita de coragem serena, inovação consciente e propósito claro. Porque, tal como o vidro, a verdadeira liderança não se impõe — revela-se com luz, precisão e sentido.
Licenciada e mestre em Economia, especializou-se em Gestão Empresarial e começou por trabalhar em consultoria estratégica. “Foi aí que adquiri uma visão abrangente e prática sobre os desafios da gestão em diferentes setores de atividade.” Essa experiência não lhe deu apenas competências técnicas, deu-lhe mapa e bússola para uma liderança consciente e orientada por resultados. “A consultoria ajudou-me a perceber como alinhar estratégia com execução — e como integrar pessoas na mudança.”
Foi em 2009 que entrou na Cristalmax, empresa fundada pelo seu pai. E começou, desde logo, a aproximar-se da realidade industrial. Não como observadora — mas como protagonista. Deu os primeiros passos na área financeira, com interesse na gestão da qualidade, nos processos produtivos e na melhoria organizacional. Aprendeu a escutar cada detalhe da fábrica, cada peça, cada sistema. “Implementámos o Balanced Scorecard e um sistema de Controlo de Gestão, ferramentas essenciais para alinhar a estratégia, acompanhar a performance e auxiliar a tomada de decisões informadas.”
A escuta ativa — técnica e humana — passou a ser a base do seu estilo de liderança.
Liderar num setor marcado pelo masculino
No setor da construção e transformação de vidro, a presença feminina ainda é excecional. Liderar neste contexto exigiu, e continua a exigir, inteligência emocional e coragem estratégica.
“Enfrentei diversos desafios que exigiram mais do que competências técnicas, exigiram pensamento estratégico e uma resiliência constante”
Para se afirmar, Ana Margarida Silva teve de mostrar consistência nos resultados e clareza na comunicação. Mas também vulnerabilidade e autenticidade. O equilíbrio entre firmeza e colaboração tornou-se a sua força. “Para isso, o autoconhecimento e a autoconfiança foram fundamentais, assim como a capacidade de identificar uma rede de apoio, comunicar com assertividade e manter um espírito crítico construtivo.”
Na Cristalmax, encontrou uma cultura organizacional sólida e simultaneamente aberta. A tradição não travava a inovação, e foi esse respeito mútuo que lhe permitiu transformar a empresa de dentro para fora. “Esse equilíbrio entre tradição e renovação permitiu-me exercer uma liderança autêntica, centrada na escuta, na proximidade e na colaboração, sem perder a assertividade necessária para liderar com clareza, propósito e consistência.”
Inovação com alma
Falar de vidro é falar de transformação. E essa transformação exige investimento constante em inovação — não apenas tecnológica, mas também humana. “A inovação é assumida como pilar estratégico fundamental para garantir a sustentabilidade e reforçar a competitividade da empresa a longo prazo.”
Na Cristalmax, a digitalização e a automação foram introduzidas com visão. Indústria 4.0, integração de sistemas e otimização de processos — tudo isso com foco no cliente, na eficiência e na diferenciação. Mantendo uma colaboração ativa com as Universidades de Coimbra e Aveiro, a empresa aposta em conhecimento e investigação aplicada no desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis para o setor do vidro.
Ao mesmo tempo, a gestão interna passou a ser apoiada por plataformas digitais que permitem decisões mais ágeis, comunicação mais eficaz e resultados mais sólidos.
Uma empresa com impacto
O ano de 2025 está a ser um ano desafiante para a empresa. A Cristalmax alinhou-se com os princípios ESG e integrou de forma transversal a sustentabilidade nas suas práticas, produtos e cultura. “Apostámos na gestão responsável de resíduos, na utilização consciente dos recursos naturais e no desenvolvimento de produtos com elevada eficiência térmica e acústica.”
A instalação de painéis foto-voltaicos aumentou o autoconsumo energético. O reforço do bem-estar dos colaboradores tornou-se uma prioridade, criando ambientes de trabalho mais inclusivos, seguros e colaborativos. Foi também nesse ano que nasceu a Fundação Máximo Silva, uma forma de eternizar valores e transformar ação em impacto.
“A criação da Fundação veio reforçar este compromisso, dinamizando iniciativas sociais, educativas, culturais e ambientais que envolvem a equipa e beneficiam as comunidades onde atuamos”
Mais do que empresa: promovemos a mudança com propósito!
Equipas que se alinham com valores
Para a CEO, Ana Margarida Silva, liderar não é apenas gerir tarefas. É cuidar de pessoas, escutar vozes, e garantir coerência entre propósito e prática.
“Na Cristalmax, acreditamos que liderar é mais do que gerir, é inspirar, dar o exemplo e criar confiança”
As equipas são formadas por talento técnico, sim, mas também por valores. Ética, integridade e compromisso são expressos diariamente, em decisões que respeitam e valorizam quem lá trabalha. “Apostamos de forma contínua na formação e no desenvolvimento, com o apoio de um sistema de avaliação de desempenho, atualmente em fase final de implementação, que promove a responsabilidade individual e reforça o foco coletivo.” Bem-estar, inclusão e segurança fazem parte da nossa essência. A liderança é humana, responsável e estratégica.
A liderança que inspira mudança
Para a CEO, liderar significa deixar uma marca que ultrapassa números e indicadores. É fazer com que cada colaborador sinta que pertence, que contribui e que cresce com a empresa. “Equipas coesas resultam do equilíbrio entre valores sólidos e práticas consistentes. Guiamo-nos por três pilares fundamentais: Pessoas, Ética e Responsabilidade.”
A liderança é vivida no dia a dia, nos corredores, nas reuniões, nos processos. E ela acredita que ouvir com atenção é parte da responsabilidade de liderar com impacto. “Ouvir com atenção, compreender motivações e dar resposta com rigor fortalece a motivação, o compromisso e o alinhamento estratégico.”
A história da empresa cruza-se com os valores que ele deixou. Rigor, dedicação, respeito pelas pessoas. Tudo aquilo que hoje faz parte da cultura organizacional foi transmitido por ele, palavra a palavra, gesto a gesto. “A continuidade e o futuro da Cristalmax só fazem sentido se forem guiados pelos valores que ele nos transmitiu e que permanecem profundamente enraizados na nossa cultura: respeito mútuo, compromisso e integridade.”
Em 2025, a sua memória foi eternizada com a criação da Fundação Máximo Silva e com o lançamento do livro Looking Back, Moving Forward, um legado de excelência, um registo biográfico e institucional que mostra como o seu percurso impactou comunidades e inspirou gerações.
“Mais do que homenagem, são expressões do impacto humano e profissional que deixou em todos os que tiveram o privilégio de o conhecer”
Visão estratégica para os próximos anos
Olhando para os próximos cinco a dez anos, a entrevistada descreve uma Cristalmax ainda mais moderna, mais sustentável e mais internacional. A ambição está desenhada em metas concretas. “Pretendemos reforçar e expandir a nossa capacidade produtiva, através da modernização das infraestruturas existentes e otimização das unidades produtivas.”
O foco será na inovação aplicada, em novos produtos técnicos com elevado desempenho térmico, acústico e de segurança. E na digitalização integrada — não como tendência, mas como ferramenta de resposta ágil e fiável. “Vamos intensificar a inovação aplicada ao desenvolvimento de produtos técnicos diferenciados, reforçando a parceria com universidades e centros de investigação.”
A internacionalização será um dos pilares estratégicos. Levar a qualidade nacional a mercados externos onde haja procura por soluções de excelência. “Pretendemos aumentar significativamente a nossa quota de mercado a nível nacional e expandir para mercados internacionais com maior potencial.”
Internamente, a empresa aposta numa gestão que retém talento, que cuida da cultura organizacional e que promove ambientes saudáveis. Tudo isso com um objetivo claro: consolidar a Cristalmax como uma referência europeia na indústria do vidro para construção.
Uma mensagem para quem sonha em liderar
A entrevista encerra com uma mensagem forte. Não apenas às mulheres — mas a todos os que aspiram a liderar com sentido num setor exigente. “A educação e os valores que recebemos têm um papel fundamental no caminho que escolhemos. No meu caso, a confiança transmitida pelo meu pai foi determinante para acreditar que o setor industrial também é um espaço para mulheres – desde que tenham a oportunidade certa e se entreguem com dedicação.”
Para quem não teve esse apoio, a mensagem é clara: o impossível só existe até sermos capazes de o desafiar. Para Ana Margarida Silva, liderar vai muito além de exercer uma função — é um exercício contínuo de desenvolvimento em três dimensões essenciais.
“Liderar com clareza é ter visão e propósito. Liderar com coragem é enfrentar decisões difíceis sem perder a empatia. E liderar com autenticidade é manter-se fiel aos seus valores.”
Num ambiente marcado pela exigência e pela rapidez da decisão, Ana Margarida Silva recorda-nos que há sempre espaço para a sensibilidade, a empatia e a inspiração. E que não é necessário escolher entre ser técnica ou humana — pode-se, e deve-se, ser ambas.
Cristal é resistência e beleza. Mas também vulnerabilidade. Tal como a liderança feminina numa indústria técnica – exige cálculo, mas também emoção. Precisa de firmeza, sem perder brilho. Ana Margarida Silva representa essa união rara entre estratégia e sensibilidade. Transformou um legado em futuro. Um nome num impacto. Uma fábrica numa referência. E continua, todos os dias, a liderar com o que tem de mais valioso: visão, voz e valores.





