A meditação faz a diferença: da Tailândia para o resto do mundo
A dramática história dos 12 jovens futebolistas e do seu treinador presos numa gruta na Tailândia, durante 17 dias, correu o mundo. Com ela muito se falou sobre o poder da meditação, sobretudo em situações em que o nosso corpo e mente são testados até ao limite. O corpo passa a lidar com um nível de desconforto nunca antes vivenciado, desejando a fuja. A mente apressa-se a querer fugir também, procurando restabelecer o conforto e proteção. A necessidade de controlo e o medo da imprevisibilidade são inerentes à condição humana pelo que é natural que perante uma ameaça real ou imaginada o corpo e mente tendam a preparar-se para reagir na adversidade.
A meditação surge como técnica e filosofia de vida que auxilia na forma como organizamos as emoções e os fenómenos mentais, tornando-nos mais aptos a trazer a nossa consciência para o único momento sobre o qual temos algum poder, o momento presente – o aqui e agora.
Aprendermos a estar de forma plena e consciente com a experiência direta de cada instante é um poder com o qual todos nós nascemos, mas do qual pouco usufruímos.
Vários estudos confirmam a capacidade da meditação para transformar o nosso cérebro e a nossa visão acerca de nós próprios e daquilo que nos rodeia. No nosso país são vários os programas aplicados, por exemplo em escolas, que vêm comprovar esta realidade. Os benefícios relatados pelos alunos e professores, não deixam dúvidas: uma prática de meditação sistemática e regular pode ser uma ferramenta poderosíssima na construção de um maior bem-estar interior e faz emergir o que há de melhor em nós enquanto seres humanos.
Com a meditação aprendemos a ser observadores da nossa própria experiência, o que nos permite construir gradualmente um maior distanciamento em relação aos pensamentos e sentimentos. Focarmos a nossa atenção naquilo que é real, como a respiração e as sensações corporais, permite-nos tranquilizar a mente muitas vezes envolvida em histórias criadas pelos nossos medos, inseguranças, memórias e incertezas.
A Psicoterapia EMDR® no tratamento de traumas
A psicoterapia EMDR® é uma abordagem psicoterapêutica empiricamente validada e recomendada pela Organização Mundial de Saúde para o tratamento de stress decorrente de situações traumáticas, como por exemplo, abusos ou violação, assaltos, violência, desastres naturais, guerras, acidentes, entre outras.
Tem a sua génese nos trabalhos de Francine Shapiro, no final da década de 80 e, atualmente, têm-se revelado uma psicoterapia com enorme potencial no alívio de perturbações mentais, ansiedade, fobias, luto, depressão, dependências químicas, instalação de recursos positivos, dor crónica, apontando apenas alguns exemplos.
Na psicoterapia EMDR® as memórias perturbadoras dos eventos traumáticos são “reprocessadas e dessensibilizadas” através de um protocolo de intervenção que promove a ativação de informação entre os dois hemisférios cerebrais. A ativação de determinadas vias neuronais, associada à dessensibilização das memórias traumáticas, conduz a um gradual distanciamento emocional da pessoa em relação à situação geradora de stress.
Se analisarmos um acontecimento potencialmente traumático como o dos jovens futebolistas presos numa gruta na Tailândia, podemos afirmar que a ansiedade e stress gerados por esse evento poderão provocar a curto, médio ou longo prazo algo que se designa por stress pós-traumático. É precoce apontar com exatidão as mazelas psicológicas que podem resultar desse evento altamente adverso. A forma como os jovens e o seu treinador irão processar as memórias (potencialmente traumáticas) dependerá de múltiplos fatores, tanto internos como externos, que deverão ser devidamente avaliados. No entanto, importa destacar que uma memória considerada potencialmente traumática não necessita ser algo com grande impacto ou com consequências imediatas. No tratamento com EMDR® identificamos, também, os chamados “pequenos traumas” que traduzem pequenos eventos adversos, indesejáveis e desagradáveis que, num determinado momento foram desvalorizados, mas que podem ter reflexos mais tarde. Um claro exemplo é uma exposição continuada ao bullying, o assédio moral no trabalho, ou expressões de desvalorização durante a infância (sempre que nos diziam: “tu não és capaz!” ou “não podes/deves!)”. Tratam-se de acontecimentos circunscritos no tempo, mas que podem deixar marcas profundas.