A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA COMO CHAVE PARA A SAÚDE, AUTO-CONHECIMENTO E EQUILÍBRIO

Ana Sofia
Ana Sofia Rodrigues é Especialista em Medicina Tradicional Chinesa e Desenvolvimento Pessoal. Experimentou na primeira pessoa os resultados positivos desta medicina alternativa e largou a sua carreira na banca para aprender mais sobre ela. Uma década depois, conta-nos como as emoções afetam o nosso bem-estar físico e como o autoconhecimento nos pode ajudar a viver mais felizes.

 

Ana Sofia Rodrigues entrou para a banca muito jovem e trabalhou na área durante 14 anos. Inicialmente, estava contente com a profissão, integrada em equipas e chefias que a motivavam. Com o passar do tempo, foi percebendo que não se identificava com os valores da instituição e da profissão.

Em 2006, mudou de Instituição Bancária e, devido à pressão laboral e à falta de motivação na carreira, teve uma depressão. No processo de recuperação, foi acompanhada pela Medicina Chinesa. “Não só recuperei e rejuvenesci, como fiquei perdidamente apaixonada e rendida a esta Medicina”, relembra.

Com uma nova paixão e a necessidade incessante de mudar o rumo da sua carreira, decidiu investir nesta área. Desde 2001 que se dedicava ao autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, através de cursos, workshops, retiros e terapias para se conhecer melhor. No entanto, essa era uma dedicação exclusivamente para si. Quando conheceu a Medicina Chinesa, percebeu que podia partilhar este caminho com os outros, aliando o seu conhecimento de desenvolvimento pessoal à sabedoria milenar da Medicina Chinesa, focando-se na saúde como uma visão holística e abordagem natural. “Ajudar e contribuir para a saúde e felicidade das pessoas, exercendo diariamente esta profissão, é algo que me enche o coração”, conta.

Comprometida com a sua mudança profissional, ingressou no curso de Medicina Tradicional Chinesa (MTC), com a duração de 5 anos. Conciliar as aulas, que decorriam em horário pós-laboral e que incluíam estágio clínico aos sábados, com o seu trabalho diurno na banca foi um dos seus maiores desafios. Ana Sofia conseguiu aguentar nos primeiros tempos, mas eventualmente percebeu que teria de escolher entre o trabalho e o curso. A paixão e a vontade de mudar e viver uma vida profissional alinhada com os seus valores pessoais falaram mais alto. É uma escolha que não se arrepende, passado uma década.

Em Portugal, a busca por Terapêuticas Não Convencionais tem aumentado. A acupuntura é o método mais conhecido e procurado, no entanto Ana Sofia alerta que ainda é muito associado apenas ao tratamento de dor, quando a Medicina Tradicional Chinesa vai muito além disso.

Enquanto a Medicina Convencional se foca mais nos sintomas e na doença, a MTC procura a causa desses sintomas e doenças. Para além disso, aposta numa visão holística, “a intrínseca e inseparável relação entre o corpo, a mente e as emoções, compreendendo que estas últimas geram sintomas e patologias variadas”, explica. A abordagem terapêutica também difere, pautando-se pelos métodos naturais e não invasivos, como a acupuntura, fitoterapia, dietética, massagem e ventosas. Pretende assim ser não só uma medicina de tratamento como uma medicina preventiva, focada na promoção da saúde e bem-estar.

O desconhecimento sobre as práticas de MTC e como podem ajudar é, para Ana Sofia, uma questão cultural, já que os portugueses não estão habituados a procurar as causas dos sintomas – “estamos mais habituados a querer tentar resolver de imediato o problema, com um comprimido de ação rápida que, por exemplo, que na maioria das vezes não trata efetivamente, apenas atenua os sintomas e camufla a origem do pro- blema.”

Para além da área clínica, Ana Sofia Rodrigues facilita também workshops e retiros. Classifica estes retiros como experiências “vivenciais e terapêuticas”, onde reúne diversos métodos e exercícios, que atuam quer a nível mental, como emocional ou físico. Exercícios sobre saúde e gestão emocional, consciência corporal, superação de desafios, reflexões e autoconhecimento são algumas das propostas desta experiência.

Os retiros representam, para Ana Sofia, a união entre a sabedoria da MTC e o amplo mundo do desenvolvimento pessoal. “O desenvolvimento pessoal e o autoconhecimento são, na minha opinião e experiência, uma das bases fundamentais para alcançar uma vida feliz, saudável, consciente, equilibrada e de sucesso”, afirma. Só sabendo quem somos, o que queremos, o que nos faz feliz ou infeliz conseguiremos tomar as melhores decisões para a nossa vida. A MTC pode ser um veículo para a tomada de consciência e evolução para qualquer pessoa que queira saber mais sobre si e melhorar a sua saúde, pois ajuda a compreender as mensagens do corpo através dos sintomas e doenças.

As emoções são também indicadoras da nossa saúde. Na MTC, cada emoção, das 5 base, tem uma associação a um órgão e, consequentemente, a um sistema do corpo humano. Desta forma, é possível relacionar determinados estados emocionais e sintomas ou doenças associadas. “A título de exemplo, é comum uma pessoa sofrer de lombalgia ou infeções urinárias, numa fase da sua vida em que sinta muita insegurança e medo, pois esta última emoção está associada aos rins e respetiva área do nosso corpo”, ilustra Ana Sofia Rodrigues. “Em termos práticos clínicos, não só tratamos a queixa (neste caso lombalgia e/ou infeções urinárias) como atuamos ao nível do sistema nervoso e das emoções.”

Cada estação do ano está também associada a um elemento e órgão. O inverno pertence ao elemento água e corresponde à época de recolhimento e armazenamento. “Olhando para a natureza, ela ensina-nos de várias formas: as árvores estão “despidas”, os animais hibernam”, diz.

O medo é a emoção associada ao Inverno, que se relaciona, como mencionado, à energia dos rins. Para esta altura do ano, Ana Sofia partilha alguns comportamentos fundamentais para o bem-estar físico, como o descanso e sono reparador, a correta ingestão de água, manter o corpo quente, sobretudo a área lombar e dos Rins. Escolher alimentos nutritivos e de natureza quente, evitando alimentos crus e preferindo cozidos, guisados, assados ou grelhados, que ajudam a aquecer internamente o organismo.

Quanto ao nível psicológico e emocional, recomenda a busca por momentos de tranquilidade e partilha, bem como o exercício moderado para acalmar a mente e as emoções. Chi Kung terapêutico, Yoga ou a meditação são aconselhados.

No período atípico em que vivemos, estamos susceptíveis a várias emoções. Surge o stress, a ansiedade e a tristeza que podem causar taquicardia, falta de ar, tonturas, enxaquecas, distúrbios de sono, entre outros. O afastamento social agrava mais a situação. “O ser humano é um ser social, necessita de contacto, de relações pessoais, de afeto”, relembra.

Por isso, Ana Sofia realça a importância de procurar ajuda para superar os desafios atuais. A chave está no equilíbrio entre o apoio a nível físico, mental e emocional, algo que a Medicina Tradicional Chinesa nos oferece.