A desmistificação da advocacia

Além de ser mãe e esposa, Vera Ribeiro é advogada. E se, por algum acaso, um dia esquecer da sua motivação e gosto pela advocacia, a vocação, os amigos e família lembrá-la-ão da sua obstinação e dedicação à justiça.
Acredita que o Direito já não é dominado pelos homens. Existe um grande percentagem de mulheres advogadas que, são respeitadas tanto pelos colegas como por todos os profissionais que de alguma forma intervêm na Justiça.

A advocacia sempre foi uma questão de gosto e admiração para Vera. Para a líder, foi uma escolha sem espaço para resistência, mas alguma interferência familiar, que lhe tentou impingir a preferência pela área da saúde.

Num caso flagrante de vocação, Vera encontra justificação em vários motivos pessoais, entre os quais, a empatia e a dedicação pela causa – estes, de tal forma, tão profundos que se torna difícil “desvincular da parte advogada”, confessa.

Além do gosto pela comunicação, tem a certeza que o que a guia são as boas práticas e a defesa dos “direitos, liberdades e garantias”, o que a mantém consistente no empenho pela atividade jurídica, em todos os casos – às vezes, dentro e fora do tribunal, como vários amigos e família a recordam – “és mesmo advogada”, brincam.

“A advocacia sempre foi a minha escolha, na minha cabeça não havia qualquer outra opção.”

A persistência e paixão pela área culminaram na especialização em direito administrativo, em 2014, depois da licenciatura pela Universidade Católica Portuguesa do Porto.

Um ano depois, com já 2 anos de experiência na área, ingressa na Ordem dos Advogados, mas mais do que a educação académica formal, o apoio e conhecimento a que teve acesso, naqueles primeiros anos, dentro de uma sociedade de advogados, esclareceram e direcionaram a líder para várias práticas uteis e áreas do seu interesse – direito do trabalho, direito empresarial e direito da insolvência.

Atualmente, Vera soma às várias áreas de interesse na advocacia, a consultoria em temas como a igualdade de género, responsabilidade social e a conciliação familiar junto de empresas.

De acordo com a líder, ainda que a Justiça esteja longe de ser uma realidade ideal, a recetividade e progressismo da área desencadeiam “uma evolução a nível legislativo”, que dá coragem e ânimo a Vera.

A experiência trouxe-lhe, pontualmente, alguma clareza, sobretudo nesta conciliação da vida profissional e pessoal e igualdade entre géneros.

O direito à proteção da parentalidade, à conciliação da vida profissional com a vida privada e à proibição de qualquer ato discriminatório que ponha em causa qualquer direito referente à parentalidade e conciliação com a vida privada são exemplos que a líder acredita serem um passo legislativo no progresso para a “igualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho”, remata.

“O MUNDO do trabalho já não é um mundo dominado por homens”

Estas vitórias não deixam de ser, contudo, fruto de uma batalha constante, diz Vera.
As mulheres e também os homens viram os seus direitos consagrados, em várias áreas do Direito, o que inclui o trabalho e dentro deste a maternidade. Aliás, muitos dos direitos atribuídos anteriormente a mulheres começam a ser também atribuídos aos homens, nomeadamente ao nível da proteção da parentalidade, da conciliação da vida profissional com a vida privada e na proibição de discriminação por motivo de gozo de qualquer direito previsto para a parentalidade e para a conciliação da vida privada.

Por opção pessoal, Vera exerce a advocacia de forma autónoma e individualmente, desde 2017, o que lhe oferece várias oportunidades, inclusive mais tempo para cultivar a paixão pela sua profissão, o cuidado pela família e o crescimento pessoal.

Parte do desafio, que seria esta conciliação da vida pessoal e profissional, é então investida totalmente na atenção pelos seus casos e clientes, que lhe ocupam bastante tempo.

Altamente desgastante, a advocacia é muito mais do que aquilo que uma pessoa comum possa imaginar. Não é, certamente, “um trabalho fácil” como Vera acredita que “a grande generalidade dos cidadãos” supõe e o foco do preconceito que a líder pretende desmistificar.

Mais do que a ida ao tribunal, o estudo e a dedicação por parte dos advogados são imprescindíveis porque o foco e a estruturação da defesa nem sempre são iguais ou semelhantes.

Paralelamente, as leis são mutáveis e o acompanhamento destas alterações legislativas podem definir o resultado – “a ida aos tribunais só acontece à posteriori do tempo de estudo e preparação”, remata.

Nas palavras de Vera, hoje, mais do que nunca, é necessário que o advogado, o seu colega, se valorize e que não se deixe afetar pela ideia de que a advocacia é uma profissão insignificante e merecedora do desapreço porque “é indispensável à administração da Justiça”, diz.

A este desafio é somada a grande dependência do profissional na construção da reputação, o que a princípio, pode ser um bom processo, e diferenciar um bom profissional com bons resultados, de um profissional medíocre, mas também distinguir profissionais de forma desigual – um profissional com vários anos de experiência de um profissional mais novo.

Assim, para a líder, a melhor prática é a “integridade baseada em obrigações profissionais como a honestidade, a probidade, a retidão, a lealdade, a cortesia e a sinceridade.”, restringindo qualquer papel de liderança aos seus valores, princípios e regras profissionais e deontológicas.

Vera acredita que resposta não tem tanto que ver com a liderança, mas com a sabedoria e o respeito mútuo, seja para com os colegas, funcionários de instituições públicas e privadas e todos aqueles que se ligam por qualquer forma à Justiça, seja para com os clientes, de forma a cumprir “as obrigações deontológicas e profissionais”, acrescenta.

A mulher pode ser uma líder de sucesso quando se conhece a si própria, se respeita e segue o próprio instinto. Somos seres únicos e possuímos individualidade, por isso a liderança reside nas nossas virtudes, nos nossos princípios e valores.

“A Liderança vem de dentro para fora e não ao contrário.”