SUSANA TEIXEIRA: MULHERES NO MERCADO AUTOMÓVEL

Susana Teixeira, Diretora Geral da MCoutinho
Susana trabalha no setor automóvel há quase duas décadas e é com esperança que vê a representatividade feminina na indústria a aumentar. Assumiu o cargo de diretora geral de uma das empresas da MCoutinho em plena pandemia e conta-nos sobre as dificuldades vividas neste período bem como as preocupações ambientais da empresa.

 

O setor automóvel surgiu na vida de Susana Teixeira quase por acaso. Depois de alguns trabalhos de verão em empresas, contactando com áreas da gestão, contabilidade e finanças, Susana abandou o sonho de criança de ser enfermeira e decidiu licenciar-se em contabilidade e auditoria. Durante o curso, teve de realizar um estágio curricular e optou por fazê-lo numa concessão automóvel na sua cidade natal. Durante 4 meses, contactou com vários departamentos, que a permitiu ficar com uma noção básica do setor automóvel, da organização, dos processos e das relações comerciais. Alguns meses após terminar o estágio, surgiu uma vaga para backoffice comercial nessa mesma concecionária. A sua primeira reação foi rejeitar a proposta – ainda estava a terminar a licenciatura e não era a área onde idealizava trabalhar. “No entanto, na nossa vida, às vezes aparece a pessoa certa no momento certo”, relembra. O responsável do departamento, um verdadeiro apaixonado pelo mundo automóvel, convenceu-a de que seria uma excelente oportunidade, um bom lugar para começar a sua carreira profissional, um alicerce mesmo que numa área diferente. Susana aceitou o desafio e terminou a licenciatura como trabalhadora-estudante. A partir daí, a sua carreira foi dedicada ao setor automóvel.

Depois de 2 anos na empresa, esta foi adquirida pelo Grupo MCoutinho, o que despertou ainda mais o seu interesse pelo setor, estimulada “pelas diferentes exigências das marcas, os diferentes standards a cumprir, uma diferente organização e metodologia de trabalho e a relação comercial com os importadores das marcas”, explica.

Avançando quase duas décadas no tempo, Susana é agora diretora geral de uma empresa do Grupo MCoutinho. Passou por vários cargos e funções até chegar ao topo e viu de perto a falta de representatividade de mulheres na indústria. O mundo automóvel é estereotipicamente masculino e dominado por homens nas áreas mais práticas, como mecânica, peças, logística e gestão estratégicas – áreas onde são necessários mais recursos humanos – ocupando as mulheres maioritariamente funções administrativas.

Segundo a diretora, esta falta de representatividade prende-se com a falta de interesse profissional e pessoal das mulheres com estas áreas. “Talvez esta falta de interesse esteja associada a questões de alguma falta de oportunidade e até a um processo cultural”, elabora. No entanto, longa é a história de luta das mulheres por áreas consideradas masculinas. “Estou convicta que as mulheres conseguem fazer carreira em qualquer área do sector automóvel, se a isso se propuserem”, afirma Susana.

A verdade é que, nos últimos anos, as mulheres têm conseguido, de forma natural, ganhar espaço no setor. Susana realça também o crescimento do número de mulheres em cargos de topo nas grandes marcas automóveis e nos diversos ramos do sector. “O crescimento feminino na gestão estratégica terá influenciado de alguma forma a integração das mulheres nas outras áreas?”, questiona. “Também e não só…”

A diretora acredita que será cada vez mais fácil para as mulheres fazerem uma carreira no setor automóvel. “A porta está mais aberta do que nunca e a prova disso é existência de mulheres na liderança das marcas, mulheres mecânicas já integradas nas oficinas, mulheres na área do produto e desenvolvimento de rede dos concessionários”, exemplifica.

Embora sejam ainda uma minoria, as mulheres vão marcar cada vez mais presença neste setor masculino, que se vai ajustando às mudanças. É exemplo o consumo automóvel – “há alguns anos, a maioria das mulheres não tinha carta de condução. Atualmente as mulheres não só possuem carta de condução como também compram automóveis ou influenciam a decisão de compra do automóvel em função do seu gosto pessoal, comodidade ou funcionalidade”, explica. As marcas tiveram de se adaptar e direcionar cada vez mais as suas campanhas publicitárias para o público feminino.

Mesmo com todo o estigma à volta do setor, conta que o seu percurso teve altos e baixos como qualquer outro profissional, sem diferenciação. “Foi um percurso de muita aprendizagem, de muita dedicação e muito foco”, afirma.

Contudo, sendo mãe, esposa, dona de casa e profissional existe sempre um desafio acrescido. Conseguir alcançar o equilíbrio entre a vida familiar e profissional requer um esforço redobrado. “E sim, falhei algumas vezes neste equilíbrio. Ninguém é perfeito”, confessa.

Ainda que haja sempre exceção à regra, Susana destaca que este equilíbrio exige sempre muito mais do sexo feminino do que masculino. “Talvez por isso os homens progridam mais rapidamente na carreira”, acrescenta.

Apesar de tudo, sente que o seu esforço e dedicação foi valorizado, tendo uma progressão na carreira natural.  Assumiu o cargo de diretora geral da empresa em julho do ano passado, a meio da pandemia, após o grupo ter completado o compromisso de abrir uma nova concessão automóvel em Leiria e Caldas da Rainha, adicionado duas novas marcas ao portefólio. “Assumir o cargo de Diretora Geral desta nova concessão, com novas marcas, numa área geográfica desconhecida para mim e para o Grupo e em plena pandemia tem sido, sem dúvida alguma, desafiante”, revela.

Um desafio que não conseguiria ultrapassar sem uma boa equipa. Este novo projeto exigiu muito mais do que trabalho de equipa, foi necessário muita entrega, partilha e resiliência de todos. “Estivemos sempre próximos, tivemos a humildade de envolver toda a equipa nos problemas, partilhamos muitas ideias e fomos ultrapassando os obstáculos”, conta.

Para Susana, o segredo na arte da liderança passa pela atitude e pela forma como se envolve a equipa no projeto, mantendo uma proximidade, partilhando e recolhendo ideias. “Quando as pessoas se sentem parte integrante de uma cadeia de valor pela forma como são escutadas, como são envolvidas na resolução dos problemas e nas pequenas vitorias interiorizam a responsabilidade de uma verdadeira equipa”, garante.

A pandemia afetou todos os setores, não deixando o automóvel de lado. Forçados a parar a atividade comercial, o grupo MCoutinho aproveitou esse período para delinear novas estratégias adequadas a um mundo em transformação. Os hábitos dos consumidores foram alterados, o teletrabalho criou uma nova realidade e o mundo passou a estar mais online.

Nesse sentido, o grupo focou-se no desenvolvimento dos serviços ao cliente, como a ativação da venda online, complementada com serviço de entrega do carro em casa, “para garantir o seu bem-estar e conveniência.” Aceleraram os processos de digitalização e concentraram os esforços das equipas na rotação de stocks, de forma a minimizar as perdas financeiras.

“Apesar da pandemia, o desempenho em 2020 foi positivo e mesmo num contexto de incerteza e de adversidade, o Grupo foi resiliente e manteve os nossos projetos”, conclui Susana.

 

Para além das mudanças causadas pela pandemia, o setor automóvel está a passar por outra transição incontornável: a mobilidade elétrica. A preocupação com o meio ambiente levou muitos consumidores a ponderarem mais carros elétricos como uma opção. A MCoutinho representa atualmente 19 marcas, oferecendo uma grande variedade de serviços automóveis e viaturas. Consciente de que existe uma lacuna de informação no que diz respeito às novas tipologias de motorizações, pretende desenvolver “soluções que permitam interagir de forma inovadora com o consumidor”, sendo uma delas a criação de um novo site dedicado à mobilidade elétrica.

As questões ambientais na MCoutinho não se ficam pelos carros elétricos. A empresa desenvolveu o projeto Planeta MCoutinho, com o objetivo de reduzir a pegada ambiental, reduzindo a produção de resíduos, o consumo de matérias-primas e com o rigoroso cumprimento das suas obrigações da conformidade legal. “Apostamos numa correta separação das toneladas de resíduos originários nas atividades das nossas oficinas, encaminhamento por fluxos e fileiras e respetiva valorização dos resíduos que produzimos”, diz. Desta forma, 96% dos resíduos produzidos em 2020 foram encaminhados para a reciclagem ou reutilização. Susana faz um balanço muito positivo do projeto, que mesmo com a situação pandémica, não parou. “Todos os colaboradores deram continuidade à correta gestão dos resíduos e cumprimento legal, através da implementação dos planos de investimento ambiental”, assegura.