Patrícia cresceu no mundo têxtil, a acompanhar o negócio de família. Há cinco anos começou a trabalhar na Valérius e atualmente lidera o novo projeto da empresa – Valérius Hub, que pretende criar uma comunidade de moda responsável e ética que caminha para um futuro sustentável.
Desde pequena que Patrícia Ferreira se lembra de ir para a fábrica com os seus pais, ao sábado. A Valérius é um negócio familiar – o seu pai é o Administrador, a mãe responsável pela parte da Produção e o irmão pelo projeto Valérius 360. O seu sonho era seguir Medicina, mas a média subiu e não conseguiu entrar. Acabou por se licenciar em Economia, porque o seu pai explicou que existiam os “médicos das pessoas e os médicos das empresas” e que a sua aptidão para a matemática e raciocínio rápido seriam ótimos para a área.
Após a licenciatura fez várias formações na Porto Business School, para investir na liderança, na gestão e no desenvolvimento de projetos. Fez ainda um programa avançado em administração e negócios em conjunto com o seu pai. “Duas gerações com pontos de vista diferentes, mas que conseguem conciliar ideias interessantes: a inovação e as novas atividades do meu lado e a racionalidade e a experiência da parte dele”, explica Patrícia Ferreira.
Trabalha na Valérius Group há cinco anos. Atualmente, é CEO da Valérius Hub, o novo projeto da empresa. “A Valerius Hub surgiu pela necessidade de mudança. Achamos que seria interessante existir um Hub, onde as empresas que apresentam valores éticos e sustentáveis pudessem partilhar aquilo que fazem melhor”, conta Patrícia. O objetivo é que as empresas utilizem os seus recursos de design, photo studio, logística e comercial para se focarem no que são boas, aportando todo o apoio na parte sustentável.
Apesar de ter sido criado há menos de um ano, várias empresas já aderiram ao projeto. “Achamos que as pessoas necessitavam de ter alguém que pudessem questionar qualquer dúvida que fosse respondida passando cinco minutos. Há muito boas empresas em Portugal que com a mínima ajuda conseguem fazer coisas incríveis, é isso que acreditamos e defendemos todos os dias”, diz.
Patrícia Ferreira fez também parte da criação do projeto Valérius 360, em 2017, participando na análise de mercado. Visitou unidades de reciclagem em Espanha, Itália e Turquia para entender como funcionava o processo e como poderiam melhorá-lo. “Assim percebe- mos que seria possível fazer fios com alta qualidade através do processo de reciclagem se todos tivéssemos envolvidos no projeto “, conta a CEO.
A Valerius 360 começou a trabalhar a full em 2020 e tem capacidade de produção de seis toneladas de fio reciclado por dia e de 20 toneladas de papel algodão. O projeto tem tido uma enorme recetividade por parte dos seus clientes mas também por parte de outros que procuram reciclar os restos de corte, as peças que não venderam e ainda as peças que os clientes devolvem.
Recentemente, ganhou o prémio ambiental“ Inovação em Prevenção” pela revista Exame e Ageas Seguros. “Acredito que o up-cycling e todas as outras áreas em que também estamos a trabalhar, como os tingi- mentos com bactérias, tingimentos naturais, tintas provenientes de desperdício de madeira, mistura de fios com origens naturais será o futuro e que a Valerius será líder nesse processo”, afirma Patrícia.
Em termos de consciencialização dos consumidores sobre os efeitos negativos da indústria de fast fashion no meio ambiente, Portugal ainda tem muito para melhorar, mas, segundo Patrícia, já existe mais transparência em todo o processo, da parte das fábricas. Existe também um cuidado com os materiais utilizados e o impacto que tem no ambiente. “Da nossa parte estamos a fazer um LCA para todas as peças dos nossos clientes para eles saberem aquilo que custaram ao ambiente e o que pouparam por terem determinadas escolhas.“ Para além disso, iniciaram um processo de modelação 3D, que permite diminuir o número de samples, no que toca a prints e variações de cor.
Patrícia acredita que a mudança já está a partir dos consumidores e que as transformações já estão a acontecer. “Neste momento sinto que as fábricas estão próximas dos consumidores finais e que as mudanças estão quase a ocorrer em simultâneo”. Segundo a CEO, Portugal está pronto para enfrentar o futuro e “já deu cartas na inovação e no ensinamento destas novas práticas”, ao apresentarem, por exemplo soluções, em termos de materiais sustentáveis e com qualidade e com a implementação de políticas de diminuição da pegada ecológica. Nesse sentido, a Valerius pretende ser Carbono Zero até 2030.
Para Patrícia, a economia circular é sem dúvida a resposta para uma indústria mais sustentável. “ Se pudermos dar uma nova vida aquilo que será um desperdício têxtil e com qualidade, que nos permita ter longevidade e continuar a reciclar, será seriamente o futuro da indústria têxtil”, afirma. Em10anos, a CEO acredita que o mercado será completamente diferente: “Não existirão stocks, ou pelo menos estes não serão aquilo que são hoje, irão existir amostras ou coleções todas em 3D , irá existir make to order e a indústria será reduzida, prevê Patrícia. Já hoje em dia temos dificuldade em encontrar pessoas para nos confecionar as peças , e as empresas que não apostaram na tecnologia e na inovação não irão sobreviver.”