Ana Silveira sempre gostou de trabalhar com pessoas e para pessoas. No setor público encontrou o seu “habitat natural” e aprendeu muito sobre trabalhar intensamente. Agora é Presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico, a maior empresa de saneamento portuguesa, e orgulha-se de prestar um serviço que ajuda a melhorar a qualidade de vida dos habitante da Grande Lisboa e Oeste.
Em criança, Ana Silveira quis ser Presidente da República, astronauta e até veterinária, mas das muitas profissões com que sonhava jornalista foi aquela que mais a marcou. Quando escolheu o curso de Direito era em jornalismo que estava a pensar, mas achou que direito lhe abriria mais portas no futuro do que Comunicação Social. Mesmo após terminar a licenciatura, enquanto realizava o seu estágio de advocacia, inscreveu-se no CENJOR determinada a experimentar a área. Frequentou um curso de jornalismo de um ano, fez um estágio de 3 meses na Antena I e até colaborou num suplemento regional encartado no Jornal Público. Contudo, acabou por terminar o estágio de advocacia e enveredou por esse caminho. Tirou ainda duas pós graduações, em Direito Civil e em Direito Público.
Entre o setor privado e o público, desde a área das telecomunicações, banca e transportes e até ao ambiente, a sua carreira pautou-se muito pelo aconselhamento legal e jurídico bem como a consultoria. Não foi nada planeado – “fui fazendo um caminho e o caminho foi-me construindo enquanto profissional e foi a gestão de equipas e de projetos que me foi realizando ao longo do tempo”, conta.
Ana encontrou no setor público o seu “ habitat natural”. É o que conhece melhor e onde sente que o seu trabalho tem mais impacto. Ao longo da sua carreira trabalhou em vários gabinetes ministeriais, como o ministério do ambiente e o ministério do mar. “Tive a sorte de trabalhar com pessoas excecionais e de assistir diariamente ao processo de tomada de decisão que impacta diretamente na vida das pessoas”, afirma Ana. Foram anos de aprendizagem muito intensa, com um ritmo de trabalho alucinante – “temos de acompanhar esse ritmo muito rapidamente ou não conseguimos acompanhar de todo.”
Para a Ana, a principal diferença entre o setor público e o setor privado recai na agilidade, flexibilidade e facilidade de tomar decisões e colocá-las em prática. “O setor público tem um espartilho maior, pelas restrições orçamentais que enfrenta, pelo conjunto de controlos e reportes a que está obrigado, pelas regras de contratação pública que dificultam a implementação célere de projetos”, explica.
O setor público marcou muito o seu percurso, porque Ana gosta principalmente de pessoas, de trabalhar com elas e para elas. Atualmente, é Presidente do Conselho de Administração das Águas do Tejo Atlântico e trabalha para 2,4 milhões de pessoas, os habitantes da Grande Lisboa e Oeste. Para Ana, “estar à frente de uma empresa como a Águas do Tejo Atlântico é um enorme privilégio” e motivo de grande orgulho, pois acredita que o trabalho que desenvolvem tem um verdadeiro impacto na qualidade de vida das pessoas.
Em junho de 2020, iniciou as suas funções como presidente. Começar um mandato a meio de uma pandemia é inevitavelmente um desafio acrescido. O COVID-19 impediu a proximidade e o contacto com as pessoas, o que obrigou a centrar as atenções no planeamento e reorganização das equipas. Para o seu mandato, as palavras de ordem são as pessoas, a excelência do serviço e a utilidade social. “Sem pessoas qualificadas e motivadas não há serviço, e sem serviço não há utilidade social”, justifica Ana Silveira. Por isso, pretendem investir na qualificação e valorização dos trabalhadores, melhorar as
condições de segurança, a organização interna e a qualidade de serviço bem como apostar na inovação interna.
Segundo Ana, estar no cargo de presidente implica um compromisso com a causa pública que se traduz na responsabilidade de prestar um serviço essencial à população. Para ser eficiente sem descurar a sua vida pessoal é necessário encontrar um equilíbrio que permita responder a todos os compromissos profissionais “sem perdermos de vista o meio que nos rodeia, sem deixarmos de participar na sociedade e em outras iniciativas que permitam manter o equilíbrio e o necessário discernimento para as escolhas/decisões que todos os dias temos de tomar”, esclarece a presidente. A organização e a disciplina são essenciais para essa conciliação.
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DA ÁGUAS DO TEJO ATLÂNTICO
Nos últimos anos, têm-se observado um crescimento significativo da preocupação com questões ambientais e uma maior consciencialização para a necessidade de adotar estilos de vida sustentáveis.
Portugal não é exceção ao movimento. Ana Silveira admite que houve uma grande evolução ao nível do comportamento mas que é essencial continuar este trabalho. A Águas do Tejo Atlântico acredita que a proteção do ambiente e sustentabilidade do
planeta está dependente da mudança de comportamentos e por isso mesmo, desenvolve anualmente um plano de educação ambiental, mais dirigido para a população escolar no qual abordam o ciclo urbano da água, focando especialmente no tratamento de águas residuais.
Em 2020, inauguraram um centro de educação ambiental, na Fábrica de Água de Beirolas, que servirá de apoio às ações de educação ambiental desenvolvidas pela empresa e pelos 23 municípios abrangidos pelos serviços das Águas do Tejo Atlântico. Servirá também como plataforma para a criação de parcerias com outras entidades que partilhem os mesmos objetivos de “ adoção de bons comportamentos e de boas práticas ambientais”.
A empresa faz ainda campanhas para a população em geral, através de outdoors e das redes sociais, como a campanha “Já perguntou o que acontece quando carrega neste botão?”, que pretende relembrar o que pode prejudicar a operação do tratamento dos esgotos.
Como defensores da economia circular e focando sempre na lógica dos 3R’s – reduzir, reciclar e reutilizar – estão também a apostar em desenvolver projetos para melhorar a sua eficiência operacional, como aproveitar as lamas dos processos de tratamento para transformar em composto orgânico para a agricultura; produzir energia verde (biogás) para autoconsumo através das lamas e produzir água para reutilização a partir da água residual tratada, com a finalidade de a fornecer para lavagem de ruas, rega de espaços verde e para usos industriais.
A Águas do Tejo Atlântico não se preocupa apenas com questões ambientais. As questões sociais também pautam as parcerias da empresa. Recentemente, fez uma parceria com a Professional Women’s Network (PWN) Lisbon. “É muito importante para as organizações promover a diversidade no seu todo, passando pelo género, pela cultura, e sobretudo pelas ideias. As empresas são tanto mais ricas quanto maior for a diversidade e o equilíbrio, incluindo o de género”, afirma Ana Silveira.
Ao longo da sua carreira, nunca sentiu que tenha sido discriminada no mundo empresarial por ser mulher. “ Mas eu não sou a regra. Sou a exceção que confirma a regra “ diz Ana. “Se há tantas ou mais mulheres qualificadas do que homens, porque é que elas não chegam habitualmente a lugares de topo? Enquanto a sociedade não refletir esses números, continuarei a defender a igualdade de oportunidades. Um dia será o mérito a ser escolhido e não o género.” A presidente acredita que esse dia chegará se continuarmos a falar sobre o tema e, principalmente, a criar condições para que tal aconteça.
Para as jovens que estão a começar agora a sua carreira, deixa dois conselhos: nunca desistir de acreditar nos seus sonhos e não ter medo de falhar ou cometer erros. “Errar não é errado. Errado é não tentar. Errado é desistir, é ficar a meio do caminho, onde fica tanta gente. Com os erros também se aprende o que se tem de fazer melhor da próxima vez.” A formação é também um ponto chave para o crescimento. Ana Silveira, mesmo após as duas pós graduações, tirou, em 2016 um MBA Executivo na Universidade Católica na busca pelo conhecimento atualizado num mundo em constante evolução. Aliar essa formação a muito trabalho, persistência e motivação é a chave para conseguir alcançar os objetivos traçados. “Um dia a sorte bate à porta e é preciso estar-se preparado”.