O percurso de vida da Cecília Carmo tem sido repleto de convicções nas pessoas, projetos e oportunidades, estando perfeitamente convicta de que assim continuará a suceder. É necessário acreditar no que surge pela frente para nos lançarmos de cabeça. Quando tal acontece, move montanhas para cumprir os objetivos que definiu com os que estão consigo e, felizmente, afirma que tudo tem corrido pelo melhor. Aos 56 anos, é categórica ao afirmar que é uma mulher realizada e de bem com a vida, orgulhosa de ter tomado as opções certas nos devidos momentos.
O nome de Cecília Carmo está intimamente ligado ao jornalismo desportivo e ao trabalho na RTP, onde colaborou durante quase 30 anos, desde que entrou para a secção de Desporto em 1987. Foi simultaneamente repórter, apresentadora, coordenadora de programas e enviada especial a quatro Jogos Olímpicos, entre os quais Barcelona 1992, Atlanta 1996, Sydney 2000 e Atenas 2004.
Após os Jogos Olímpicos na Grécia, transitou para a informação geral da RTP, onde continuou a aproveitar as oportunidades que lhe foram concedidas. Conheceu imensas pessoas, trabalhou em áreas para as quais não estava vocacionada, mas consegui lograr nos seus intentos. Embrenhou-se nos temas económicos e políticos, tendo ficando mais atenta à nossa cultura e aos problemas sociais, ainda que continuasse a acompanhar o fenómeno desportivo.
Tendo alcançado as funções de editora executiva e subdiretora de informação na estação pública de televisão, para surpresa de muitos, mas não inteiramente sua, resolveu sair da RTP em 2016. Com novos projetos em vista e uma carreira extremamente profícua, pode orgulhar-se de ter desempenhado todas as tarefas que um jornalista pode ambicionar em televisão. Cimentou a sua carreira com muita dedicação e enfoque nos princípios fundamentais do jornalismo: “Se errei? Claro que sim! Mas à data, o balanço era tão positivo e estava tão em paz comigo mesma que decidi sair. Era a altura de convictamente tomar uma decisão, como outras que já havia tomado muitos anos atrás”, confessa-nos.
A Educação Física e a Educação Musical
Com apenas 15 anos, Cecília Carmo fez a primeira grande opção em relação ao seu futuro, dado que pretendia ser professora de Educação Física desde criança. Praticava ginástica rítmica desde muito cedo e não se revia noutra área que não fosse a desportiva. Mas como não gostava de Matemática e seguir uma área de estudo para a qual não estava minimamente confortável: “Continuar a ter Matemática era para mim um pesadelo, por isso decidi convictamente por onde iria. Tenho de confessar que quando entrei na Faculdade tive, logo no 1.º ano, a disciplina de Matemática Aplicada às Ciências Sociais. Foi a oportunidade de me reconciliar com a disciplina e não me saí nada mal. Mas voltemos aos 15 anos. Estava no 9.º ano e despertei para o mundo fascinante da Comunicação, muito por culpa da minha professora de Português. Foi nessa altura que decidi que seria jornalista.”
Começou a trabalhar e, tendo concluído o curso de flauta de bisel na Academia de Amadores de Música, em Lisboa (conquistou uma bolsa por mérito porque a família não tinha possibilidades de custear tal curso), iniciou a sua curta carreira de professora de Flauta e Educação Musical em colégios no concelho de Sintra, a par com os estudos na Escola Secundária da Amadora, não esquecendo a prática da ginástica, obviamente: “A aprendizagem, primeiro, e o ensino da música, depois, disciplinou-me. Tornou-me naturalmente mais organizada e obrigou-me a fazer novas escolhas: seguir a carreira musical poderia ter sido uma opção, mas entendi que não era, infelizmente, uma carreira que me pudesse dar um futuro com alguma estabilidade. Foquei-me num futuro que passava pelo jornalismo e na entrada para a Universidade, onde voltei a ser bolseira.”
No segundo ano da Faculdade começou a colaborar no semanário Expresso, na área do Desporto, claro. Aí se manteve durante quatro anos, mas, em 1989 decidiu ficar unicamente na RTP. Convictamente, e uma vez mais, decidiu que o trabalho que muito a absorvia teria de ser equilibrado com a vida familiar, impreterivelmente.
O novo mundo sem o jornalismo
Quando deixou a RTP fundou uma agência de comunicação, a Farol do Monte, mas tal projeto andou propositadamente devagar porque foi desafiada a lançar o canal vídeo do Comité Olímpico de Portugal (ainda em 2016), onde assumiria as funções de diretora de comunicação. Este cargo foi exigente e de enorme responsabilidade, pelo que decidiu então cursar uma pós-graduação em Direito do Desporto, uma área na qual julgava não deter as competências necessárias, mas que considera cruciais para tais funções.
Em 2018, aceitou integrar um novo desafio: o lançamento do Canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol, no qual se orgulha de ter contribuído para “pôr no ar” as primeiras emissões, depois do desafio lançado por Nuno Santos, com quem houvera trabalhado na RTP.
Paralelamente a todos estes desafios, foi nutrindo uma nova paixão: a agricultura. Este projeto nasceu de um sonho do seu marido, o qual desejava possuir um monte no Alentejo e plantar uma vinha: “Tudo teve início em 2014. O Monte das Bagas de Ouro começou a transformar-se aos poucos e atualmente é também a nossa segunda casa. A plantação, primeiro do olival e depois da vinha, assim como a criação de ovelhas, é uma realidade que requer diariamente a nossa atenção. Nunca pensei que o trabalho na agricultura me fascinasse tanto e nos absorvesse tantas horas por dia”, confessa-nos.
O seu foco está atualmente centrado na produção e comercialização de vinho, bem como no crescimento da Adega do Montado, a empresa que criou com alguns dos seus parentes mais jovens: “Estou convicta de que vai continuar a correr bem, como tem corrido até agora. Todos damos muito ao projeto. Porque estou a aprender todos os dias e sinto que há áreas que ainda não domino de todo, decidi fazer uma pós-graduação em Wine Business. Aprendi, arrumei ideias e adquiri ferramentas para o trabalho que desenvolvo nos vinhos”, reitera.
Sendo uma personalidade sobejamente conhecida no mundo jornalístico, o que planeia futuramente para esta área? “O jornalismo está bem arrumado na minha vida. A comunicação, essa, mantém-se bem presente. Na Adega do Montado passa por mim a gestão da comunicação da empresa. Mas, paralelamente, tenho uma carteira de clientes a quem presto assessoria e a quem faço a gestão de redes sociais. E dou formação em comunicação. O tempo não estica, mas bem gerido dá para fazer tudo. Convictamente, afirmo que entrar nos projetos com paixão, determinação e convicção é uma forma de garantirmos o sucesso. Não parar nem estagnar. Aprender sempre mais e termos a capacidade de nos adaptarmos a novas realidades é a chave para crescermos e sermos felizes.”
“Estou convencido das minhas próprias limitações – e esta convicção é a minha força”
Esta frase de Mahatma Gandhi tem acompanhado Cecília Carmo ao longo da sua vida: “Sei que cheguei onde cheguei com muito trabalho e dedicação. Não nasci a saber tudo nem tenho a pretensão de que sei mais do que os outros. Aprendemos todos os dias, mesmo com aqueles que pensamos que não têm nada para nos ensinar. Deram-me oportunidades e eu consegui agarrá-las para potenciar o meu percurso profissional e a minha carreira. E nunca tive medo de mudar. (…) Tenho três filhos dos quais me orgulho muito. Tenho uma família fantástica. Tenho uma carreira profissional que me deixa muito feliz. Que mais posso querer? Apenas continuar o meu caminho convictamente e sem verdades absolutas”, confessa-nos.