“As organizações são, antes de tudo, feitas por pessoas”- Sofia Miranda

Sofia Miranda, Diretora Corporativa de Recursos Humanos do Grupo Casais
Enquanto diretora corporativa de recursos humanos da Casais, Sofia Miranda defende que a satisfação e o bem-estar dos colaboradores na dinâmica funcional dos RH é a chave para o sucesso das empresas. Destaca ainda a importância do conhecimento, tendo apostado fortemente na sua formação profissional e pessoal.

 

Sofia Miranda vivia em França quando ingressou na licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas. Sempre proativa, procurou por atividades adicionais em part-time. Foi então que numas férias de Natal e de Verão, ao trabalhar numa loja IKEA em Paris, se deu conta da sua verdadeira vocação. Sentindo que faltava algo na sua licenciatura, a interação com os colegas e a organização empresarial despertou o seu interesse pelo campo dos recursos humanos. Começou a procurar livros sobre estas áreas e a conversar com os colegas que cursavam RH, concluindo que fazia sentido mudar de rumo académico, tendo optado por estudar em Portugal.

Terminou a sua licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, onde trabalha há 15 anos, sendo atualmente diretora corporativa de recursos humanos da Casais. No entanto, a sua formação nunca parou: “A formação faz parte do nosso processo evolutivo enquanto ser humano (…). Ao longo da nossa vida carreira profissional devemos ir atrás do conhecimento e não esperar que nos chegue à porta porque, senão, rapidamente perdemos o comboio.”

O conhecimento é “a porta do crescimento e da sustentabilidade das empresas”, segundo defende Sofia Miranda, mas a formação pode ser igualmente útil na esfera pessoal. Considera-se uma pessoa bastante positiva e que aprecia desafios, mas, no entanto, o aumento das responsabilidades profissionais conjugado com a vida pessoal, nomeadamente pelo facto de ser mãe, fê-la perceber o quão suscetível estava à pressão e ao stress, os quais podiam limitar a sua performance. Por isso, decidiu reinvestir em si mesma para conceder outra atenção às pessoas que a rodeiam, seja no círculo profissional como a nível pessoal. Começou a praticar mindfulness, onde consegue “encontrar mecanismos de proteção e de equilíbrio pessoal”, complementando a sua formação com uma certificação em coaching:  “O meu objetivo foi procurar o meu melhor enquanto pessoa, dotar-me de técnicas para este percurso de desenvolvimento, assim como estar mais preparada para ajudar os colaboradores da organização a adquirir consciência do seu potencial e evolução”, segundo nos refere.

Segundo Sofia Miranda, a área dos recursos humanos nunca teve tanta visibilidade e peso como atualmente, aumentando tendencialmente a necessidade de “acompanhar de forma célere e constante as boas práticas e tendências na área”, sendo que os desafios mudam ao longo dos anos e “as organizações são, antes de tudo, feitas de pessoas.” As pessoas devem ser tidas em conta na equação e devidamente tratadas para existir um cruzamento com os modelos de gestão, as políticas e a cultura organizacional. Assim, o modelo de gestão de pessoas pode fazer toda a diferença no sucesso de uma empresa.

Na sua perspetiva, a pandemia reforçou a necessidade de seguir valores que privilegiam as relações humanas e a cultura organizacional. A atração, o envolvimento, a motivação, a retenção, o feedback, o reconhecimento e o bem-estar são as palavras-chave essenciais. Não basta  pagar um salário, mas torna-se cada vez mais exigível investir no colaborador “através da sua capacitação, a gestão de carreira, o seu equilíbrio/bem-estar como a própria cultura e ambiente organizacional – é estratégico para o sucesso da organização, numa escala a médio e longo prazo”, explica-nos.

Esse investimento reflete-se no empenho e o comprometimento dos colaboradores com a empresa, sendo que a Casais foi distinguida no Índice de Excelência 2020, no qual, após a avaliação da satisfação dos colaboradores, destacou-se positivamente.

Em Portugal, as empresas e as pessoas estão gradualmente conscientes das problemáticas sociais e ambientais. A própria sustentabilidade marca cada vez mais os valores e missão das empresas. Nesse sentido, a Casais promoveu recentemente uma palestra online no maior evento dedicado à sustentabilidade no nosso país: o Greenfest. Essa preocupação reflete-se igualmente a nível interno: “Com o propósito de Construir um Mundo melhor, o RH tem a responsabilidade, ao longo de todo o ciclo de vida do colaborador na organização, identificar e promover a busca e a tendência para estas temáticas com o intuito de garantir esse afinamento entre as pessoas e o negócio/estratégia”, refere Sofia Miranda.

 

No Grupo Casais, apenas 8% dos cargos de gestão das equipas são ocupados por mulheres, atendendo a um universo de 4500 trabalhadores, onde cerca de 10% são do género feminino. Apesar disso, Sofia Miranda afirma nunca ter sentido qualquer discriminação, seja nas oportunidades ou na forma como foi tratada: “Sendo homem ou mulher, sempre fui educada que tudo dependia de nós e do nosso trabalho e esforço”, esclarece-nos. Mesmo num cargo de liderança e onde a maioria dos seus pares são homens, considera ser sempre respeitada, nunca encarada como o elemento mais frágil ou menos competente. Em termos da liderança e dos cargos de poder, “não é o género que faz a diferença, mas as softs skills que o líder possui e essencialmente a sua atitude”, afirma.

Contudo, Sofia Miranda possui a convicção de que ainda existem contextos organizacionais onde a diferenciação existe, sendo fruto de “visões mais retrógradas de gestão de topo”. Defende, ao invés, que devemos, enquanto pessoas e profissionais, contribuir para a “igualdade de oportunidade e igualdade de género, até numa esfera mais familiar e pessoal.”

Considera que foi feito um enorme caminho para combater os estereótipos e que a única diferença associada ao género é “o nível de sensibilidade que a mulher tem, talvez associado ao seu lado maternal”. Ao ser um profissional da área dos recursos humanos, terá mais sensibilidade para com as pessoas, mas admite que o facto de ser mulher a auxilia a encarar as situações com outra naturalidade: “Defendo nas minhas interações familiares, enquanto esposa, mãe, filha e amiga ter um papel orientador e na ajuda no crescimento. Esse caminho é um desafio constante”, conclui.