Graça está na Cachapuz há 27 anos. Foi na empresa que começou como estagiária que cresceu profissionalmente, até chegar à posição de CEO. Casada e com dois filhos, balança a vida profissional e pessoal com rigor e disciplina.
Desde criança que Graça Coelho sempre apresentou um espírito empreendedor e virado para o mundo dos negócios – aos seis anos já fazia peças em crochet e bordado para vender à família. Por isso, foi apenas natural licenciar-se em Gestão de Empresas na Universidade do Minho, em Braga, a sua terra natal. Em 1994, recém-licenciada, entrou como uma simples estagiária na Cachapuz, empresa de conceção de equipamentos e soluções de pesagem. Atualmente, é a CEO, algo que nunca sequer sonhou, já que sempre valorizou o lado pessoal – “o meu desejo era casar, ser uma boa dona de casa, uma boa esposa e uma boa mãe. A minha realização pessoal passava mais pela família do que pelo trabalho”, confessa Graça Coelho. Contudo, a vida provou que é possível, ” e desejável”, conciliar o sucesso profissional com uma vida pessoal plena e realizada.
O segredo do sucesso? Ser sempre fiel aos seus princípios e valores.” Saber ser e saber fazer, com competência, com responsabilidade, com verdade, com paixão, tudo isto com muito bom senso à mistura. Foi este o meu compromisso, que se mantém até aos dias de hoje”, explica Graça.
Ao longo de 27 anos, Graça cresceu, enquanto profissional e enquanto pessoa, juntamente com a empresa, que se foi transformando, mudando e inovando ao longo dos anos. “Fazer parte de uma empresa com 100 anos de história é um desafio constante. Não só pela enorme responsabilidade do legado de peso que recebemos e que muito me orgulha, como pela marca que me sinto incumbida de deixar para as futuras gerações.”
Passou por várias funções que a obrigaram a adaptar-se constantemente à mudança e a novas realidades. Em 1997, a Cachapuz integrou um sócio italiano, Bilanciai, que é atualmente detentor total da empresa. Esta transição permitiu a Graça contactar com uma gestão e visão de negócio mais global, que alimentou o seu gosto por conviver com “pessoas de diferentes backgrounds pessoais e profissionais.” Desde 2014 que é CEO da Cachapuz, e o seu trabalho tem sido reconhecido não só internamente mas também por terceiros. Em 2016 recebeu o prémio de CEO do ano pela Business Excellence Forum and Awards. Sendo sempre bem-vindos, a diretora diz que nunca trabalhou para prémios, mas sim para as pessoas. São as pessoas que a “motivam a procurar ser sempre uma profissional atenta, sensível às suas necessidades e expectativas”, e que a fazem procurar melhorar sempre a empresa. “Gosto de planear, estruturar, transformar em prol de uma mudança positiva”, refere.
O LADO PESSOAL E FEMININO
Essa preocupação permanente com os outros e a atenção ao pormenor atribui ao seu lado mais feminino. O gosto de “proteger e cuidar” das pessoas à sua volta. Graça acredita que são as pequenas coisas que nos permitem conhecer verdadeiramente as pessoas e por isso é bastante disciplinada e exigente. “Percebo que nem sempre seja fácil conviver comigo, que digam os meus filhos”, brinca.” Mas a minha intenção é sempre demonstrar que as pessoas são capazes de fazer melhor. O céu é o limite.” Sempre com trabalho, empenho e dedicação. É essa dedicação que valoriza nos profissionais com quem trabalha e lidera: “O saber fazer é importante mas não chega. O que nos diferencia é o saber ser. É a nossa atitude” esclarece Graça.” Valorizo pessoas criativas, dinâmicas e proativas que não se conformam nem aceitam um ‘porque sim’, ‘porque sempre fiz assim’ ou ‘porque sempre foi assim’.”
Casada, mãe de dois filhos, CEO de uma grande empresa, Graça ainda arranja tempo para hobbies. Adora cozinhar bem como comer, “principalmente a sobremesa.” Há 6 anos descobriu o gosto pela jardinagem e agora cultiva variados legumes na sua própria horta. Para Graça, acompanhar o processo de crescimento de cada planta e “colher os seus frutos é uma sensação fantástica.”
Numa empresa com uma forte componente de metalomecânica, um mundo estereotipicamente de homens, nunca se sentiu discriminada. Sempre sentiu que o seu esforço foi respeitado e reconhecido ao longo dos anos: “Talvez pelo facto da liderança feminina apostar mais na relação e na partilha, no cuidado e preocupação com a equipa, uma maior atenção e aceitação da diferença, uma maior facilidade de adaptação à diversidade, sempre senti que o meu trabalho foi valorizado.”
No entanto, tem a noção que nem sempre é assim e por isso considera importante continuarmos a comemorar o Dia Internacional da Mulher, “para chamar a atenção e refletirmos sobre a forma como ainda tratamos as mulheres, nomeadamente, do ponto de vista da igualdade de oportunidades e do ponto de vista salarial.”
Nos países mais desenvolvidos estas diferenças têm vindo a ser encurtadas ao longo dos anos, “alcançando várias conquistas rumo à igualdade de género e de oportunidades”, contudo “em outros países as mulheres ainda são desvalorizadas” ou até “maltratadas, sendo apreciadas como simples objetos”. “Urge recentrar a importância do papel da mulher na sociedade que se quer mais justa e mais inclusiva. Os novos tempos são muito exigentes e precisarão de Homens e Mulheres que lutem por um mundo novo, onde a visão pragmática e holística da mulher será sempre uma mais-valia. Unidos seremos sempre mais fortes”, apela Graça.
O IMPACTO DA PANDEMIA
O ano de 2020, atípico para todas as empresas, exigiu o máximo de empenho e criatividade de todos, para responder à pandemia e reagir aos problemas que surgiram consequentemente. Sem generalizar os danos que o COVID-19 causou na economia e nas empresas portuguesas, uma coisa é certa para Graça – “tudo mudou e nada mais vai ser como antes.”
Logo no início de março de 2020 começaram a preparar o plano de contingência, iniciaram o teletrabalho e organizaram as equipas da melhor forma possível, pois é importante lutar contra um inimigo comum “invisível e sem escrúpulos, que escolhe os mais fracos, os mais indefesos e os mais desprotegidos”. Apesar de tudo, 2020 foi um ano de inovação e conquistas para a Cachapuz Bilanciai Group. Criaram a Cachapuz Academy, de forma a apostar na formação contínua dos seus colaboradores, realizando 71 cursos e mais de 2000 horas de formação. Criaram um “think thank” – ” Ecossistema de Inovação Cachapuz”, que gerou mais de 300 ideias inovadoras e conseguiram a acreditação do laboratório LabWeight, único certificado em Portugal certificado para calibrações na área da massa até ás 80 toneladas. Por fim, terminaram o ano a serem galardoados com a medalha de ouro pelo Município de Braga, cidade onde está sedeada a empresa.
A pandemia irá marcar profundamente Portugal, não só economicamente mas também socialmente: “Como alguém disse, há décadas em que nada acontece e há semanas em que acontecem décadas”, refere Graça Coelho. Por isso é necessário estar atento às novas dinâmicas que surgem durante este período. “As máscaras passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia bem como o Smart work. O teletrabalho permitiu dotar a equipa de novas competências técnicas e promover a autonomia, motivação, produtividade e autodisciplina e veio para ficar.”
As pessoas mudaram não só comportamentos específicos mas também o seu estilo de vida. A sociedade e a economia sofreram uma reorganização e devemos usar isso para “evoluir para modelos mais justos, mais eficientes e mais prósperos respeitando, cada vez mais, o meio envolvente”, conclui Graça.