A atual Diretora Geral do Centro Paroquial de Bem-estar Social de Atouguia da Baleia (Peniche), Ângela Vicente é uma profissional experiente e com um currículo vasto na função pública, empresas e organizações sociais. Desempenha, ainda, funções como formadora e consultora de empresas, pelo que a conciliação do lado pessoal com os outros papéis e responsabilidades profissionais “é um desafio diário” – “exige planeamento constante através de uma organização pessoal”. Em entrevista à Liderança no Feminino, mostra-se grata pelas equipas com quem trabalhou e por aquilo que lhe acrescentaram.
Quando iniciou o seu percurso profissional, Ângela Vicente, estava a sair do curso de Engenharia do Ambiente, tinha dois objetivos para o seu trajeto: por um lado, trabalhar na direção de pessoas e, por outro, aventurar-se na investigação. Começou pelas “organizações sociais”, nas quais colaborou com profissionais de vários países; transitou, de seguida, para a função pública, onde trabalhou durante oito anos com equipas multidisciplinares e desenvolveu competências diversificadas nas áreas da educação, gestão cultural, turismo, gestão de projetos e eventos; e, posteriormente, aventurou-se no ramo empresarial, uma experiência em que fez uso dos conhecimentos transmitidos pelo pai – ele próprio empresário.
O primeiro contacto com um cargo de liderança aconteceu na Suíça, “numa empresa de hotelaria e turismo, que tem vários pontos fortes, entre eles as vertentes, comercial e o marketing. “A experiência, apesar de curta, marcou muito o meu percurso profissional e deu-me uma visão muito mercantil e sensata”, relembra. Nos anos que se seguiram, foi trabalhando sempre com cargos de direção”, e desenvolvendo “competências profissionais muito variadas, entre as quais a gestão da qualidade, a gestão de projetos e a direção de recursos humanos”. Começou também a trabalhar “a introdução do coach na interação com os colaboradores”. “Através do empowerment estratégico dos recursos humanos, comecei a obter resultados muito interessantes.” Utilizando toda a experiência adquirida nos mais variados setores, Ângela transformou-a na sua principal mais-valia enquanto profissional. “Fiquei com um esquemático organizativo geral de todas e criei estratégias pessoais mais abrangentes.” Conjuga-os com os valores e a missão que a definem: a “prevalência da eficiência e eficácia, um elevado sentido de justiça, a preferência pelo trabalho de equipa, a valorização de diferentes opiniões, o otimismo e a perseverança”.
Ao longo dos anos, teve a oportunidade de “encontrar pessoas extraordinárias e profissionais de excelência em todas as áreas, vertentes, setores e meios”, mas, sobretudo, teve a oportunidade de se conhecer a si própria através de colegas e daquilo que a identifica como profissional. “Caraterizam-me como multifacetada e que perante as adversidades surjo e ressurjo, sempre mais forte, isso deu-me confiança e traz-me motivação. Aprendi a ser pró-ativa e a não ter receio da mudança. Descobri o valor de ser dinâmica e criativa principalmente face às necessidades de inovação.”
Na mesma linha e enquanto especialista na área dos recursos humanos, aponta como o “trabalho de equipa, a pró-atividade, a comunicação assertiva e a aprendizagem contínua” como características mais importantes nos profissionais das equipas que lidera. A área dos recursos humanos é, de resto, outra das vertentes que tem “interessado e preocupado profissionalmente” a atual diretora do Centro Paroquial de Bem Estar Social de Atouguia da Baleia. “Gosto de desafios e tenho recebido alguns convites para artigos, onde tenho a honra de colaborar com excelentes profissionais.”
Partindo do vasto conhecimento, Ângela traça um retrato atento e atual das consequências e desafios que a pandemia da COVID-19 originou nas equipas de profissionais e aponta soluções. “Existe a preocupação constante para mitigar os riscos psicossociais. Com as flutuações causadas pelo vírus, criou-se um ambiente de tremenda volatilidade que trouxe consigo riscos. É necessário um cuidado ainda mais extremoso com a gestão emocional e escutar ativamente. Quanto maior é o número de colaboradores, maior o desafio. Assim, de forma a diminuir os riscos ao mínimo, é necessário fazer ajustes, pelo que as ferramentas de coaching e Programação Neurolinguística são fulcrais nessa gestão.”
Da mesma forma, é necessário garantir a segurança das equipas – um desafio “complexo e dispendioso”. “Já havia muitas medidas implementadas previamente, o que facilitou, mas foi necessário fazer uma planificação estratégica mais significativa e um acréscimo considerável de medidas que criou mudanças na cultura da própria organização e que julgo que vieram para ficar”. O passo seguinte passa pela “sensibilização e preparação” das próprias equipas para uma ação integrada, “mais do que nunca em cooperação”. “Nem sempre é fácil que se faça compreender as mudanças necessárias e a aceitação das mesmas é sempre um fator muito complexo, mais do que nunca o trabalho em equipa e a gestão emocional é crucial.”
Por outro lado, a “inovação” é outro fator “essencial para a adequação de todos os processos internos, estratégias e medidas ajustadas ao evoluir das situações e às necessidades que se fazem sentir”, defende Ângela. “Ter equipas com elementos criativos é chave para transformar um desafio, numa oportunidade.”
De todos os projetos profissionais em que esteve envolvida, os de índole social são aqueles de que mais se orgulha de fazer parte. “Tenho profunda consciência que esta área permite salvar vidas. Porém, cada vez mais, vejo que há necessidade de reformular a própria imagem destas organizações.” Na opinião da dirigente, “é importante lembrar o trabalho meritório, que muitas vezes é feito com poucos recursos, ordenados baixos e pouco valorizado.” Ângela confessa-se crente na importância “da economia social e das redes solidárias, como forma de complementar à economia de mercado”, um equilíbrio que pode “trazer uma estabilidade e equidade muito interessante à sociedade em geral”. “Há muito para fazer nesta área, medidas profundas e urgentes a realizar, para dar lugar a uma mudança de paradigma e consciência social.”
O contacto de proximidade com a comunidade aportou à Ângela conhecimentos e ensinamentos extremamente úteis a que não teria acesso de outra forma. Em 2014, por exemplo, lecionou uma palestra intitulada “A Literacia na Construção da Cidadania” na qual participaram 52 adultos entre os 18 e os 60 anos. No início da sessão distribuiu um questionário sobre a vontade dos presentes em continuar a sua formação académica e ficou surpreendida pelos resultados. “Apenas uma pessoa, não queria ter estudado mais e tirar uma licenciatura. Naquele auditório estavam possíveis, advogados, professores, assistentes socias, educadores e até jornalistas, um grande desperdício de potencial.” A experiência deixou-a alerta para uma tendência que observa com “muita tristeza”: “cada vez mais jovens desmotivados da sua vida académica, devido ao desemprego”. “Este facto preocupa-me profundamente, pois a realização pessoal é complexa e depende dos valores e crenças de cada um de nós, mas é garantida através da superação de vários fatores sendo que apenas um deles é o dinheiro. Na minha perspetiva, a autorrealização implica sempre a valorização do crescimento pessoal e uma forma fantástica de o fazer é através dos estudos.” No caso específico de Ângela, a evolução pessoal equipara-se à evolução profissional na procura pela realização. “Gosto de melhorar as minhas competências continuamente. Acho que um trabalho contínuo, é essencial a um bom profissional e que nos dias de hoje, parar de evoluir é definitivamente “morrer lentamente” como dizia Pablo Neruda.”