A PROGRESSÃO DE CARREIRA DENTRO DA EMPRESA, O EXEMPLO DE SUSANA SILVA

Susana Silva é diretora dos recursos humanos do El Corte Inglés Portugal, e a revista Liderança no Feminino quis conhecer a mudança na sua vida profissional e a forma como progrediu dentro da empresa.
A nossa entrevistada afirma que, o cargo de chefia tem de estar assente nos valores da marca que representa. Lidar diariamente com personalidades diferentes é um desafio constante, o que torna ainda mais rica a sua função.

 

INICIOU O SEU PERCURSO PROFISSIONAL COMO ASSISTENTE DE ADVOGADOS, ATUALMENTE É DIRETORA DE RECURSOS HUMANOS DO EL CORTE INGLÉS PORTUGAL. COMO É QUE OS RECURSOS HUMANOS MUDARAM A SUA VIDA PROFISSIONAL?

Esta área mudou e enformou todo o meu percurso profissional. É uma área rica e apaixonante que não imaginava vir a integrar quando, com 17 anos, comecei ao trabalhar, ao mesmo tempo que frequentava os meus estudos. Desde muito cedo ambicionava a minha independência e queria ingressar rapidamente na vida profissional.

Procurei ser independente muito nova, pelo que cumpri, com brio, 6 anos como administrativa numa sociedade de Advogados. No entanto procurava algum trabalho mais desafiante e por isso concorri ao El Corte Inglés.

Quando a oportunidade surgiu, abracei-me a ela, ainda sem saber, confesso, qual seria a minha área de especialização ou de gosto pessoal.
No entanto, o meu percurso na área de pessoal foi muito motivador, tanto que nunca mais me passou pela cabeça mudar de área. À medida que fui exercendo funções com cada vez mais responsabilidade, fui também descobrindo o quão gratificante é poder construir valores, motivação e conhecimento à nossa volta.

A SUSANA SILVA É UM EXEMPLO DE PROGRESSÃO DA CARREIRA. COMO FOI O PERCURSO ATÉ AQUI?

No ano de 2000 entrei nos recursos humanos do El Corte Inglés de Lisboa, iniciei as minhas funções como administrativa nos RH, na área da seleção e recrutamento. Após o primeiro ano fui convidada a juntar-me à equipa de processamento de salários onde permaneci 4 anos. Depois agarrei oportunidade de me juntar à equipa que iria abrir e gerir o departamento no El Corte Inglés de Gaia como sub-chefe da administração de pessoal. Dois anos depois, em 2008, assumi a Direção de Pessoal, levando todas as áreas de pessoal: seleção, recrutamento, formação, processamento salarial, medicina no trabalho, área jurídico-laboral e segurança e higiene no trabalho. Em 2019 assumi as funções de Diretora de Pessoal Nacional e regressei novamente a Lisboa. Neste momento coordeno 3100 empregados ECI, mais as empresas do Grupo (Sfera, Seguros e Financeira). Sim, este percurso exemplifica bem a progressão de carreira que é possível fazer dentro da nossa empresa. Orgulho-me dela, mas se quiser saber a verdade, fico ainda mais orgulhosa quando vejo progressões idênticas à minha volta. Isso sim, deixa-me muito feliz.

QUAIS OS VALORES CHAVE PARA CHEGAR A UM CARGO DE CHEFIA?

Além dos valores que devem assistir a todas as decisões de um bom trabalhador, como a ética e a confiança, o cargo de chefia exige também capacidade de liderança, credibilidade, capacidade de trabalho e disciplina. No caso do El Corte Inglés, as chefias devem saber interpretar, respeitar e transmitir os mesmos valores da marca, que são a qualidade, a credibilidade e o sentido de serviço. A estas, acrescentaria também a empatia e a capacidade de estabelecer relações humanas sãs, transparentes, positivas.

LIDAR DIARIAMENTE COM DIFERENTES PERSONALIDADES É UM GRANDE DESAFIO.

Tem razão, é um grande desafio, não há duas pessoas iguais, o que torna ainda mais rica e mais desafiante esta função. Acredito que é essencial ter humildade para aprender com cada um, independentemente da sua função, capacidade para ouvir competência para gerir e algum (muito) talento para a relação interpessoal.

Pessoalmente considero-me uma privilegiada. Tenho à minha volta uma equipa extraordinária e lido, todos os dias com pessoas incríveis.

COMO ANALISA O AUMENTO DO NÚMERO DE MULHERES EM CARGOS DE CHEFIA?

Concordo com a paridade, mas com igualdade e justiça na avaliação do mérito de cada um, depois de muito lutarmos para chegar a um posto, não me parece correto agora dar o lugar a uma mulher, só por ser mulher, e não pelo desempenho de cada uma. Felizmente, no El Corte Inglés, temos mulheres e homens muito qualificados, profissionais muito motivados, sendo mais de metade deles, mulheres. Assim sendo, não posso esconder o imenso agrado com que constato que metade dos lugares de chefia são ocupados por mulheres.

ESTE ANO, O DIA INTERNACIONAL DA MULHER TEM COMO TEMA “EU SOU A GERAÇÃO IGUALDADE”. REVE-SE NESTA GERAÇÃO QUE LUTA PELA IGUALDADE? PORQUÊ?

Olho para os últimos anos e a evolução da emancipação das mulheres foi muito rápida.

Considero que sim que sou da geração da igualdade, com muito orgulho sou da geração que fez parte desta mudança, da luta pela igualdade e pelas oportunidades iguais.
Sou da geração que aprendeu que a mulher devia trabalhar e, ao mesmo tempo, cuidar da casa, do marido e dos filhos e sou também da geração que conseguiu tudo isso e, ao mesmo tempo, apostar numa carreira profissional que muito me orgulha. Como me orgulham os meus filhos e a partilha de tarefas em casa, entre o casal.
Na nossa empresa, estamos a lançar o Plano de Igualdade, ao qual estamos a dedicar grandes esforços neste último ano. É certo que as mulheres já são a maioria do nosso quadro de pessoal e também é certo que estão em paridade nos quadros de chefias. Mas ainda temos muito trabalho pela frente, nem todos os preconceitos estão ultrapassados e a paridade exige da empresa a capacidade de entender as necessidades de cada um, em cada momento.

QUE MENSAGEM GOSTARIA DE DEIXAR ÀS MULHERES QUE TAMBÉM AMBICIONAM A PROGRESSÃO DA CARREIRA?

Não desistam. O caminho percorrido demonstra bem o que já conseguimos alcançar. Partimos de um mundo onde ser mulher significava não ter autonomia, ter menos direitos, viver com estigmas, para uma sociedade que luta pela igualdade. Lutar, “(…) o cargo de chefia exige também capacidade de liderança, credibilidade, capacidade de trabalho e disciplina.” por vezes, implica alguma resiliência. Por vezes o que ambicionamos pode demorar um pouco mais. Mas as oportunidades existem, temos de estar atentas, e agarrá-las com unhas e dentes quando surgem.

Por outro lado nunca deixem nada por fazer, a carreira profissional é muito importante mas a estabilidade emocional dá-nos a bagagem para aguentar tudo.

Saiam, divirtam-se, namorem muito, tenham filhos se quiserem …tudo é possível.
Eu sou exemplo disso, estou casada há 21 anos com o meu amor de infância e tenho 3 lindas filhas, que são a minha alegria de vida. O meu maior desejo é que, na geração delas já não haja razão para nos interrogarmos se há ou não igualdade de oportunidades para as mulheres.