Katia Guerreiro, em conversa com a revista Liderança no Feminino, fala da sua passagem pela medicina até ao fado. Em momentos de crise, em que vê a sua atividade brutalmente atingida pelo novo coronavírus, Katia fala-nos de renascer e na solidariedade que ocupa o lugar do Fado.
DA MEDICINA AO FADO
Sempre assumindo a medicina como a sua vocação, Katia conta-nos que foi aquando o nascimento da sua filha, há 7 anos, que deixou de exercer.
A certa altura, apesar dos esforços de conciliação, foi percetível que as duas atividades eram incompatíveis. Assumindo o Fado o full time da sua agenda e espaço integral no seu coração.
Assume que apesar de dividir a sua vida entre as duas paixões, assume que o Fado “trocou-lhe as voltas”, sendo hoje uma das mais internacionais fadistas portuguesas.
Entre a grande riqueza lírica, Katia conta com uma série de álbuns publicados como “Fado Maior” (2001), “Nas Mãos do Fado” (2003), “Tudo ou Nada” (2005), “Fado” (2008), “Os Fados do Fado” (2009), “Até ao Fim” (2014) e “Sempre” (2018), entre outras compilações e participações especiais.
AS MUDANÇAS EM TEMPOS DE COVID
Graças à sua formação na área da medicina, há sempre questões que algumas pessoas esperam que Katia ajude a esclarecer. De forma a dar a resposta mais segura e fidedigna a quem a si recorre, afirma que acaba por recorrer a colegas para são atualizados diariamente. Colegas estes em quem tem muita confiança, pela sua qualidade clínica e humana. A estes, Katia quer transmitir-lhes a sua profunda solidariedade.
No que respeita à mudança no familiar, partilha estar a viver, como todos, dias estranhos, em que de repente se viu 24 horas por dia rodeada da família. Sente que estão a criar laços mais profundos entre todos e, até mesmo, a conhecer melhor os limites de cada um.
O FADO À DERIVA
Katia Guerreiro é, atualmente, uma intérprete consagrada e reconhecida como uma notável embaixadora da música portuguesa, chegando a receber o prémio Personalidade Feminina 2005.
Uma das mais belas vozes portuguesas, afirma que também sente os dias penosos do isolamento social.
Neste momento partilha não ter qualquer estratégia para o futuro. A sua atividade profissional cessou antes de todas as outras cessarem. E será, infelizmente, a última a ser retomada. Partilha que, como tantos portugueses neste momento, a sua única preocupação é tentar cumprir com todas as suas obrigações fiscais e compromissos financeiros. Não tendo qualquer rendimento, e não se enquadrando em nenhuma das medidas anunciadas pelo governo português até ao momento, afirma que vai gerindo, da melhor forma que consegue. Neste momento revela-se a incapacidade de resposta perante todos os setores, encontrando-se o Fado, tal como várias artes e artistas, à deriva, neste tempo de COVID.
Na sua opinião, as empresas menos afetadas por esta crise, deviam ter a responsabilidade social de garantir o mínimo de qualidade de vida aos portu- gueses. Porque, neste momento, são as que menos perdem, entre todas. Medidas como redução de taxas de consumo, são algumas possibilidades que deviam ter em conta, com objetivo de ajudar as famílias que se vêm confinadas nas suas casas, durante este período.
RESILIÊNCIA, ACEITAÇÃO E COMPAIXÃO
Para Katia, este é um tempo em que somos colocados à prova a todos os níveis. A nossa resistência, aceitação e compaixão podem ditar a força do que somos realmente feitos. Não é um tempo para baixar os braços, mas sim lutar com verticalidade para que, ultrapassada esta primeira fase de crise, sejamos capazes de nos reinventar e recriar o nosso mundo. Para a fadista, todos temos uma força estranha que nos move, muitas vezes escondida por detrás dos medos. Mas ela existe!