Amélia Ferreira – Diretora da Faculdade de Medicina do Porto

Foram precisos 192 anos para que uma mulher chegasse ao cargo de diretora de uma faculdade. Por que é que continuamos a encontrar poucas mulheres em cargos de poder?

Simplesmente porque as mulheres precisam de mais tempo para demonstrar o elevadíssimo nível de competências necessário para concorrer com os seus companheiros para os cargos de poder. Contudo, é importante referir que esta “tendência” tem vindo a mudar. Embora seja um cenário que ainda está longe de atingir a paridade, cada vez mais encontramos empresas e instituições onde a liderança é feita no feminino.

O caminho a seguir deve passar, essencialmente, por promover a igualdade de género. As mulheres não precisam de discriminação positiva, mas sim de igualdade de oportunidades. O reconhecimento deve nascer do mérito, do esforço individual e das metas alcançadas – independentemente de se tratar de homem ou mulher.

A ciência tem hoje grandes nomes mulheres na liderança de grupos de investigação. Na política, uma área onde os homens foram, desde sempre, dominantes, vemos em termos mais mediáticos, de entre outras, Angela Merkel como chancellor da Alemanha, Theresa May como a “cara” do Reino Unido no Brexit e, nos EUA, estivemos perto de ver Hillary Clinton como primeira mulher a ocupar o cargo de presidente dos Estados Unidos da América.

Ser mulher acrescenta uma visão mais humanista, na liderança?

Estou certa que a Biologia, designadamente a Neurobiologia, explica que ser Mulher traz vantagens para desenvolver e impor uma visão mais humanista na liderança. No exercício da liderança é necessário deter competências de gestão pessoal e interpessoal que envolvem a autoconsciência, a autogestão, a empatia e as competências sociais. São as competências da Inteligência Emocional. As mulheres tendem a ser melhores em média, especialmente ao nível da empatia emocional, porque têm maior facilidade em sentirem o que o outro está a sentir. Também nas competências sociais revelam, de modo geral, melhores capacidades. Quanto à autoconfiança, e no gerir das emoções mais stressantes, também conseguem destacar-se.
No dizer da investigadora Ragini Verma, em entrevista ao jornal The Guardian. “As mulheres são melhores no pensamento intuitivo. São melhores a lembrarem-se de coisas. Quando fala com as mulheres, elas estão mais envolvidas emocionalmente – vão ouvir mais”. Estes predicados constituem a base estrutural para um comportamento mais humanista no exercício da liderança. Liderar é estar perto das pessoas, saber como as motivar e influenciar de forma positiva. Acima de tudo um bom líder deve ser humano – e se isso deve acontecer independentemente do género, é o modo de vida da Mulher.

De que forma pode contribuir a sociedade, para atenuar as desigualdades de género?

Sem dúvida que atenuar as desigualdades de géneros pressupõe, por parte da sociedade, a instituição de políticas de igualdade de oportunidades. Contudo, não é fácil mudar paradigmas sociais. Esta mudança terá de acontecer ao longo do tempo e terá de nascer de um esforço coletivo.
Como diz o meu colega Rui Nunes, Professor Catedrático da FMUP, “esta questão de igualdade de género tem a ver, no fundo, com uma conceção de sociedade, com o modelo de sociedade que Portugal está a construir no seio da Europa, mas em grande medida até está a construir em velocidade mais rápida do que os nossos congéneres europeus.” Assim, será Portugal a liderar a apresentação de uma proposta à UNESCO de uma Convenção em que trate de afirmar a necessária igualdade de oportunidades que permita concretizar as aspirações de cada um, homem ou mulher.

O que espera da “Liderança no Feminino”?

A Liderança no Feminino pode ser uma boa contadora de histórias. Um espaço onde se podem encontrar testemunhos reais de mulheres com competências fora de série que, encontrando-se em posições desafiantes, demonstram capacidades fora de série.

Maria Amélia Ferreira
Diretora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
20 de junho de 2017