A revista Liderança no Feminino foi perceber o trabalho da Redscope consulting com Cláudia de Castro Caldeirinha ( Leadership Advisor & Professor | Author | Member of the International Leadership Association).
Como surge a Redscope consulting?
De uma mistura de elementos: a minha necessidade de ser independente + uma grande vontade de usar os meus talentos e viver o que realmente me interessava + de fazer um trabalho que pudesse ser um valor acrescentado à sociedade onde vivo, mesmo se pequenino.
No seguimento de muitas experiências de trabalho como diretora de varias organizações (Clube de Madrid, Soros Foundation, etc), compreendi que “mudar o mundo” acontece em pequenas mudanças positivas todos os dias, pouco a pouco. Como um jardim que se cultiva com paciência, paixão e resiliência. O meu jardim são as empresas e organizações, e as pessoas que as tornam humanas.
Compreendi também, após anos de aprendizagem e de experiência internacional, que os bons lideres são um produto raro e que com um equilíbrio de homens e mulheres na liderança somos muito mais eficazes, fortes e poderosos no dar resposta a todos os desafios com que nos deparamos a nível empresarial, organizacional e socedade.
A Redscope veio dar resposta a isso: ajudar as instituições europeias, o setor corporativo e organizações internacionais a desenvolver os líderes que eles gostariam de ter, as equipas e os talentos que necessitam de desenvolver.
Teve o privilégio de conviver com grandes mulheres como Maria de Lourdes Pintassilgo. Que influência teve na sua vida pessoal e profissional?
MLP, Mary Robinson, Ema Bonino, e muitas outras por todo o mundo – algumas poderosas e muito influentes; outras desconhecidas, frequentemente modestas, mas profundamente sábias e corajosas. Cada uma me transmitiu algo diferente, teria que contar muitas historias. Brevemente: A Mary Robinson fez-me compreender que se pode ser uma líder poderosa continuando a colocar os seres humanos no centro das nossas decisões. A MLP, grande pioneira na historia da liderança feminina na politica europeia, fez-me acreditar que mesmo quando as barreiras são gigantescas e “o mundo não” muda como gostaríamos, é nosso dever manter a resiliência e os nossos valores éticos. A Ema Bonino mostrou-me o que é o carisma puro, a teimosia que move montanhas. Como com todas as pessoas, não estive de acordo com imensas escolhas destas mulheres, mas todas me fizeram aprender algo, pensar profundamente nas minhas escolhas, saber por “onde ir”…
Em 2017 lançou um livro onde dá a conhecer histórias de mulheres em cargos de topo. Essas histórias são uma forma de alertar a sociedade para uma maior valorização da mulher no mercado de trabalho?
Este é o primeiro livro a recolher as histórias de mulheres lideres na União Europeia que conseguiram chegar ao topo de carreiras profissionais em setores diversos: política, setor empresarial, função publica Europeias, ativismo, jornalismo, diplomacia, etc. Todas as entrevistadas trabalham a nível Europeu e Internacional, e têm base em Bruxelas.
Estas diferentes mulheres lideram de forma diferente, com estratégias e estilos muito diferentes – o livro recolhe as suas lições aprendidas, as suas “receitas de sucesso”, as suas ideias e boas práticas, conselhos e ideias para mulheres que lhes queiram seguir o rumo e para os homens que partilham valores democráticos e que desejam ser parte de culturas mais inclusivas. Para além destas 14 narrativas pessoais e únicas das mulheres lideres (originárias de 11 países Europeus), o livro inclui: factos, tendências e estatísticas sobre a importâncias de, e a atual participação das mulheres em cargos de liderança na Europa; Conselhos e boas praticas para mulheres que queiram progredir nas suas carreiras; Recomendações e propostas concretas sobre como desenvolver culturas organizacionais mais inclusivas e adequadas à realidade da Europa e do mundo no século XXI.
Para além do seu acento no tornar visível diferentes modelos de liderança no feminino, este livro pretende contribuir para uma maior compreensão da mais-valia de uma verdadeira diversidade de género a nível das lideranças dos vários setores das sociedades atuais na Europa; dar ferramentas concretas para ajudar decisores, dirigentes e profissionais -mulheres e homens – a desenvolver as mudanças necessárias para uma estratégia mais inclusiva dos vários talentos; contribuir para uma mentalidade mais adequada aas necessidades do mundo atual: volátil, imprevisível, complexo e interdependente.
Este livro tem sido bem acolhido pelas mais prestigiosas instituições, eventos e universidades da capital Europeia (Parlamento Europeu, Conselho da UE, Comissão Europeia, Embaixada dos USA, Vlerick Business School, entre muitas outras).
“Women Leading the Way in Brussels” é considerado pela CEO do Banco Mundial Kristalina Georgieva como “Uma contribuição muito bem-vinda que demonstra as qualidades de liderança das mulheres europeias. Um livro que inspira as mulheres que trabalham em Bruxelas – e por todo o lado.” Entre as mulheres entrevistadas encontram-se Margot Wallström (Ministra dos Negócios Estrangeiros sueca e Vice-Primeira Ministra), Helga Schmid (Secretária-Geral do Serviço Europeu de Acção Externa); Pastora Valero (Vice-presidente, CISCO); Ana Gomes (Deputada no Parlamento Europeu, S&D); Danuta Hübner (Deputada no Parlamento Europeu, PP, e ex-Comissária Europeia); Oana Lunguescu (porta-voz da NATO); Sheherazade Semsar de Boisseson (Diretora Geral do Jornal POLITICO); Monique Pariat (Diretora Geral da Direcção-Geral de Ajuda Humanitária e Protecção Civil – ECHO).
As melhores soluções de liderança são aquelas que antecipam os problemas e fomentam os resultados da equipa, como um todo?
Sim, claro. E como sempre acontece, para chegar a essas soluções não há soluções milagrosas nem programas tipo “one formula fits all”. Isso é o que faz por vezes difícil o meu trabalho: fazer compreender aos CEOs e decisores que não basta lerem a Harvard Business Review e organizarem um “team building” e umas formaçõezinhas durante o ano, na velha logica do “short term”.
A Liderança do mundo atual é mais complexa que jamais e o contexto volátil e turbulento acentua a necessidade de se investir – profunda e conscientemente – nas competências, talentos e processos necessários.
Qual o papel da Redscope no fornecimento das ferramentas certas para a sustentabilidade e desenvolvimento da empresa?
Na Redscope, ajudamos empresas e instituições publicas com Consultoria bem como com outras soluções adequadas para as suas necessidades (formação, seminários, coaching, “inspirational talks”) em várias áreas da Liderança:
• Inteligência Emocional e Agilidade para os Executivos do sec. XXI
• Cultura e motivação das equipas de sucesso
• Desenvolvimento de talentos e Diversidade de Género – como chegar lá?
• Liderança Feminina – identificar e preparar mulheres talentosas para liderarem
Mais detalhes aqui: www.redscope-consulting.com/what-we-do/
No que diz respeito à luta pela liderança no feminino e igualdade de género, tem um papel muito ativo na sociedade. Como é que a Redscope pode ajudar as empresas a atenuar esses desequilíbrios?
Alem do trabalho na Redscope, sempre que me é possível, tenho algumas boas praticas:
– participo em eventos, “networks”, e em publicações sobre o tema, partilho ideias e convido outras pessoas – homens e mulheres – a juntar-se a este mundo em mudança, com os seus talentos. Há quem fale bem em publico, quem escreva bem, quem tenha uma imagem conhecida, quem seja criativo… Cada pessoa pode trazer aquilo que sabe e gosta de fazer.
– aceito algumas clientes em coaching, quando vejo mulheres com muito talento que “só precisam de um empurrãozinho”…
– falo das mulheres fantásticas que conheço, promovo-as sempre que possível, mando-lhes clientes e recomendo-as publicamente (“sponsoring”).
– faço mentoring sempre que possível.
– tento ser consciente dos meus comentários “espontâneos” e não alimentar estereótipos nem sexismo.
Na sua opinião, quais as mulheres mais inspiradoras? E porquê?
Todas as semanas encontro mulheres inspiradoras: grandes lideres ou “mulheres normais” que fazem (pequenas e grandes) mudanças no mundo à sua volta. Isso é o que me inspira a mim também e me permite de não perder o rumo nem a motivação, mesmo quando tudo parece ir mal: conseguirmos ir colocando sementes de mudança ética e positiva, inspirando as pessoas à nossa volta (filh@s, colegas, hierarquias, comunidades…) para tomarem essa consciência e adotarem esse papel de “positive change makers”. A pessoa que organiza um painel e vai buscar um grupo de intervenientes de géneros, raças e backgrounds diferentes; o pai que aprende a importância de partilhar 50% do trabalho em casa; a jovem mulher que ultrapassa a medo e “se atreve” a pedir um aumento merecido ou a ir falar em público; a profissional que estuda e investe na sua carreira e não se deixa desmotivar pela idade que tem ou “pelo que dizem os outros”; o CEO que compreende a importância de liderar pelo exemplo e que promove uma cultura de “zero tolerância com sexismo, racismo e outras formas de descriminação”; e tantos mais exemplos…
As vezes custa tão pouco…e deixa-nos a sentir bem melhor, porque sentimos que fazemos parte de um mundo em mudança. Um mundo que só ficará melhor quando nos decidirmos a agir nesse sentido, deixando no passado desculpas tipo “não faço (xxx), porque o meu vizinho também não faz”.
Como define a liderança no feminino?
Como dizemos no livro, não acredito muito em generalizações simplistas sobre as diferenças baseadas em género: mulheres e homens não são dois grupos homogéneos separados e há tanta diversidade dentro do género quanto entre os sexos. Há muitos elementos que contribuem para a nossa identidade, como a cultura, a educação, o background familiar, social, etc. Claro que há elementos de generalização, que penso são mais ligados aos séculos de “formatação cultural” que tivemos do que a diferenças per se.
Para mim, o que mais importa na liderança de hoje é a soma harmoniosa de diferentes elementos: personalidade individual; a capacidade de superar as “caixas tradicionais de gênero” e combinar os atributos convencionais “masculinos” e “femininos”; e as habilidades que nos permitem ser versáteis, autênticos e conscientes do contexto cultural, social e profissional específico.
Neste “meu” tipo de liderança é a pessoa inteira –homem ou mulher- que vem para o trabalho. Uma pessoa que sabe que ser líder começa por aprender e ter a humildade de aprender a vida inteira – hoje sabe-se que ser líder é um “life-long-learning process”. Uma pessoa que consegue ser autoconfiante sem ser arrogante; determinada mas predominantemente colaborativa; empática mas assertiva; inclusiva e democrática, mas capaz de tomar decisões difíceis nos momentos de necessidade; emocionalmente inteligente e auto-regulada; consensual mas capaz de se orientar para resultados rápidos – e com a capacidade de assumir riscos, preservando a sustentabilidade a médio e longo prazo. Ou seja, pessoas que conseguem desenvolver um equilíbrio entre o tradicionalmente considerado “feminino” e “masculino”, integrando carreira e vida familiar da forma que lhe for mais conveniente – também aqui não há “one formula fits all”…;-)
Este é o tipo de trabalho que fazemos na Redscope: acompanhar pessoas e organizações; lideres, equipas e companhias; a desenvolver gradualmente este tipo de liderança e de culturas de vida/trabalho.