- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer?
Com os avanços da era digital e o amplo uso de novas ferramentas e inovações disruptivas, o perfil, as competências e as habilidades requeridas para a maioria das profissões têm de estar adaptadas às tendências atuais e aos complexos desafios que advém da Quarta Revolução Industrial. Vivemos a era da robótica avançada, da inteligência artificial, da Internet das Coisas (IoT), do machine learning e de tantas outras ferramentas que vieram para ficar. Neste cenário, o papel do marketeer é algo que não tem de estar ligado ao género, nem etnia, ou qualquer outra variação biológica. Acima de tudo tem de ser alguém capaz de saber como atuar na resolução de problemas complexos, na gestão de pessoas, na coordenação de trabalhos, bem como saber desenvolver a sua capacidade de tomada de decisão.
A criatividade deixou de ser o fator determinante para que o profissional de marketing seja considerado um talento. Esta habilidade continua a ser de extrema relevância, porém a atual realidade possui muitas outras exigências.
Um bom (ou boa) marketeer necessita, acima de tudo, de ser um profissional focado em resultados, com ampla capacidade analítica de dados para auxiliar no processo de tomada de decisões da equipa comercial e capaz de propor retornos mensuráveis para o negócio.
2. O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser noticia?
Ainda predomina, de facto, o domínio de uma economia assente em empresas que são maioritariamente geridas por homens e, embora já se note uma evolução positiva no que toca à representatividade feminina, há ainda um longo caminho a ser percorrido. Neste sentido, é natural que cada vez que uma mulher se destaca numa posição de liderança, esse aspeto seja noticiado.
Embora a minha experiência profissional seja divergente, reconheço que ainda existem vários obstáculos que podem dificultar a progressão profissional das mulheres. Portugal ainda é marcado por uma forte cultura matriarcal e este fator torna a progressão profissional feminina mais lenta, quando comparada com a progressão de carreira dos homens. A estruturação do equilíbrio entre a componente familiar e profissional recai bastante mais sobre as mulheres, em geral. As mulheres devem lutar para que esse equilíbrio seja repartido de igual forma, mas mais uma vez, aponto aqui a necessidade de uma visão liberal pela inclusão.
O destaque noticioso sobre uma posição superior de liderança não deve ser dado pela perspetiva de género, mas sim pelo reconhecimento do talento e do mérito do indivíduo, seja ele feminino ou masculino. A sociedade portuguesa estará ao mesmo nível dos países mais inclusivos, quanto mais a nossa democracia estiver de facto comprometida com a defesa dos direitos individuais, promovendo as políticas públicas necessárias à total eliminação de quaisquer tipo de práticas discriminatórias. A bandeira pela qual devemos lutar – para que a notícia seja, exclusivamente, sobre o mérito e nunca sobre o género ou a etnia do indivíduo noticiado – deve ser a da causa justa, ou seja, aquela que defende que todos os cidadãos devem estar comprometidos com a igualdade de liberdades, direitos e oportunidades entre homens e mulheres.
3. Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios?
Pessoalmente, pela minha experiência enquanto profissional de marketing há quase 20 anos, não sinto que tenha de ter feito sacrifícios adicionais pelo facto de ser mulher. Sou mãe, sou filha, sou esposa, tenho uma vida social e familiar bastante ativa e, em paralelo, sou profissional de marketing e comunicação e há mais de 8 anos que assumo cargos de direção. O investimento que tenho feito do meu tempo, da minha disponibilidade e das minhas opções não são diferentes daqueles que o meu marido também tem feito, uma vez que também ele trabalha numa posição, igualmente, exigente.
Possuo, acima de tudo, uma visão liberal da luta pela igualdade entre homens e mulheres e não me revejo de forma nenhuma no feminismo radical, que se instalou na nossa sociedade ao longo dos últimos anos. Identifico-me com uma perspetiva de Feminismo Liberal, uma vez que, este sim, foi o pioneiro na defesa do sufrágio feminino, na afirmação da soberania política e cívica da mulher, na luta contra todas as discriminações — negativas ou positivas — e na capacitação e autonomia de todos os indivíduos. O importante, a meu ver, é a luta pela igualdade perante a lei, traduzida em direitos iguais e responsabilidades cívicas, ou “sacrifícios” – também eles – iguais, quer para mulheres, quer para homens. A visão liberal do feminismo é uma visão humanista, inclusiva, plural e universalista. O importante é conseguirmos unir a sociedade reconhecendo iguais direitos a todos – mulheres e homens – e dos quais a igualdade de oportunidades e igualdade no acesso à justiça – um dos garantes do Estado de Direito – são os melhores exemplos. Deixo aqui o meu apelo para que não se transforme nunca esta questão numa espécie de paternalismo político de homens sobre mulheres.
4. Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho?
Ainda falta, com efetividade, um longo caminho a percorrer para conseguirmos instaurar uma consciência comum de direitos e deveres iguais entre mulheres e homens. Infelizmente, ainda persistem inúmeras arbitrariedades, discriminações e injustiças no universo laboral português. As perspetivas de vida de muitas mulheres são ainda muito limitadas, originando grande disparidade de oportunidades de realização pessoal, familiar, profissional e até salarial.
Na minha experiência pessoal e profissional, felizmente, nunca senti pressão adicional pelo facto de ser mulher. Senti e sinto, como é natural, a pressão inerente ao cargo diretivo que ocupo: a pressão das tendências do mercado e do setor; a pressão dos resultados; a pressão da aprendizagem contínua.
5. Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing?
Daria o mesmo conselho a uma mulher, ou a um homem em início de carreira. Para alcançar uma posição de destaque, não basta trabalhar muito e bem. Há muitos outros aspetos a ter em conta.
Em primeiro lugar é importante ter consciência dos objetivos a alcançar. O sentimento sobre o sucesso profissional é um conceito subjetivo e as principais medidas do sucesso e da felicidade são diferentes, de indivíduo para indivíduo. Alcançar um patamar de liderança só será relevante se esse objetivo se integrar numa perspetiva holística de acordo com todos os objetivos predefinidos: pessoais, familiares, profissionais e salariais. Saber onde quer chegar é fundamental para alcançar um patamar de liderança. Há que definir com critérios objetivos as metas de curto, médio e longo prazo e trabalhar, de forma persistente, para as alcançar.
Em segundo lugar é necessário conhecer bem os pontos fortes e os aspetos a melhorar, a cada momento. É necessário realizar balanços com regularidade, reajustar os objetivos e as metas sempre que for oportuno, e até mesmo mudar o rumo se necessário.
Um profissional que chega a um cargo de destaque na área de marketing tem de estar em constante aprendizagem. Não pode parar de estudar, e sobretudo não pode parar de aprender. O seu crescimento profissional depende bastante da sua capacidade de absorver conhecimento.
Este desenvolvimento deve ser uma combinação de competências técnicas – cada vez mais exigentes – mas acima de tudo, comportamentais: agilidade, capacidade de negociação, flexibilidade, inteligência emocional, proatividade, dinamismo, entre muitas outras.
O mercado de trabalho na área de marketing e comunicação procura, cada vez mais, por profissionais altamente qualificados que possam entender e lidar com as rápidas mudanças nos comportamentos de consumo. A nossa profissão tem sido uma das que mais cresceu e mais valorizou nos últimos anos, e esse crescimento não vai parar. A todas as mulheres que entram hoje neste mercado e queiram fazer uma carreira de sucesso a minha mensagem é esta: estejam sempre atentas, conectadas, capacitadas e mantenham as mentes sempre abertas para compreenderem os porquês, as inovações, as experiências e as tendências. A área de marketing é, felizmente, uma profissão muito valorizada que pode levar a um caminho incrível de reconhecimentos e vitórias!