Sandra Silva, com 49 anos, nasceu no Barreiro e é licenciada em Gestão pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa. Exerce atualmente um cargo superior na Direção-Geral de Política do Mar e, o mais importante, na sua ótica, é ser mãe de dois filhos, o Gonçalo Duarte e a Rafaela Duarte, com 23 e 19 anos, respetivamente.
“Tudo começou quando tinha 18 anos e me candidatei ao Ensino Superior. Foi o primeiro ano da ‘bendita’ PGA (Prova Geral de Acesso) e por causa deste método de seleção não consegui entrar no ISEG (a minha primeira escolha) porque só tive 63%. Revoltou-me bastante, pois embora não fosse uma aluna brilhante, sempre obtive notas médias altas no liceu, inclusivamente desde o 10.º ao 12.º ano e por uma prova ‘aleatória’, o meu percurso académico foi prejudicado”, como recorda.
Tendo de aguardar um ano para voltar a candidatar-se, procurou uma forma de ocupar o seu tempo, tendo trabalhado como “tarefeira” para a ex-Direcção-Geral dos Recursos Naturais, dependente dos Serviços Administrativos. No seu entender, “Foi uma experiência maravilhosa iniciar uma atividade profissional numa grande casa centenária da Administração Pública, essencialmente com grande enfoque nos empreendimentos hidráulicos e que, mais tarde, daria origem ao Instituto da Água, I.P. – INAG (atualmente extinto).”
Tornou a candidatar-se ao Curso de Gestão ministrado no referido ISEG, conseguindo então ingressar no Ensino Superior. No entanto, não quis deixar de trabalhar, tendo continuado em regime de trabalhador-estudante, conciliando a sua licenciatura com a atividade profissional. Embora tenha despendido mais dois anos além dos habituais quatro nos estudos, tal não comprometeu o seu percurso profissional, dado que a simbiose entre o trabalho e o estudo seria muito importante para a sua formação académica.
Durante este período, exerceu funções administrativas e de secretariado na presidência do INAG e quando terminou a licenciatura, ambicionando trabalhar nesta organização, procurou encontrar o departamento onde aplicar os seus conhecimentos. Seria na componente da Gestão Financeira e Orçamental, bem como na coordenação dos projetos financiados por fundos comunitários (durante vários Quadros Financeiros Comunitários), sendo que, até ao final de 2008, foi adquirindo experiências e valências nestas áreas.
No final de 2008, surgiria o que Sandra Silva considerou ser o seu primeiro grande desafio: “Fui convidada para ser chefe de divisão de Administração Geral, o qual mais tarde se passou a designar Divisão de Finanças e Património, continuando a assumir as mesmas competências. Confesso que aceitei prontamente o convite, com a expetativa de que seria suportada nas minhas atribuições e responsabilidades pela minha diretora de departamento na altura, a qual tinha muita experiência e conhecimento nestas matérias, o que certamente me dava algum conforto. Na realidade, tal não aconteceu, dado que, uma semana depois de ter sido convidada, a minha diretora foi exercer um cargo de direção superior para outro organismo e aí, então, senti-me sem ‘rede’.”
Segundo nos explica, esta função obrigava a uma elevada responsabilidade de coordenação e cooperação com os departamentos técnicos e operacionais do INAG, tanto na gestão orçamental como na gestão dos projetos com financiamentos comunitários, o que envolvia elevados montantes. A título exemplificativo, tratavam-se de projetos relacionados com a monitorização dos recursos hídricos, obras de defesa costeira e de regularização fluvial, entre outros: “Considero que a executei com sucesso e com o sentido de dever cumprido, mas isso só foi possível graças à elevada confiança que a presidência depositou e acreditou em mim, bem como a todos os meus colegas que trabalhavam diretamente comigo (deixo um profundo agradecimento a todos eles).”
Durante este período surgiu um novo desafio, ao ser nomeada coordenadora do secretariado executivo integrante da Estrutura Interna do INAG, criado no âmbito do Organismo Intermédio e da Estrutura de Apoio e Coordenação (EAC), para apoio à gestão do Eixo Prioritário II – Rede Estruturante de Abastecimento de Água e Saneamento do POVT (Programa Operacional de Valorização do Território do QREN). Resumidamente, a Autoridade de Gestão do POVT delegou no INAG as competências de avaliação e seleção dos projetos financiados no âmbito do abastecimento e tratamento de águas residuais em cumprimento do PEAASAR – Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais.
Em 2011 surgiria o PREMAC – Plano de Redução e Melhoria da Administração Central do Estado, pelo que o Governo assumiria, no seu Programa, a urgência de “reduzir os custos do Estado e procurar modelos mais eficientes de funcionamento”, afirmando, nessa linha, a intenção expressa de “eliminar as estruturas sobrepostas na estrutura do Estado, reduzindo o número de organismos e entidades, mantendo a qualidade na prestação do serviço público”. Com esta reforma, foi proposta a extinção do INAG e a fusão das suas competências na atual Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Nessa mesma altura, recebeu um convite para integrar a equipa de uma nova organização – a Direção-Geral de Política do Mar (DGPM) –, enquanto chefe de divisão dos Investimentos e Ordenamento da Direção de Serviços de Programação. Aceitou prontamente, dando início a um novo ciclo: “Em jeito de brincadeira, continuaria no domínio da ‘água’, deixando as águas interiores e costeiras para as águas do ‘mar’ mais profundo!”
O maior desafio neste novo cargo foi gerir o Programa “Gestão Integradas das Águas Marinhas e Costeiras”, no âmbito do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (MFEEE) 2009-2014, mais conhecido pelos EEA Grants. Assim, a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega estabelecem o objetivo de reduzir as disparidades sociais e económicas na Europa, reforçando as relações bilaterais com os Estados beneficiários, sendo que Portugal se encontra entre eles: “Foi um grande desafio, porque, pese embora estivesse muito relacionado com a minha experiência em financiamentos comunitários, tem muitas especificidades próprias o que obrigou a uma aquisição de conhecimentos relativamente às suas regras de gestão”, reitera.
O resultado final traduziu-se numa gestão mais integrada dos recursos marinhos, no reforço da monitorização e na capacidade de avaliação e previsão do estado ambiental das águas marinhas, não esquecendo o aumento da sensibilização e do conhecimento nos domínios da gestão marinha integrada através de ações de sensibilização (literacia dos oceanos) e da formação: “Mais uma vez, considero que este excelente resultado também só foi possível pelo envolvimento de toda a equipa da DGPM, que com as suas valências individuais, permitiram dar resposta a todas as solicitações (e que foram imensas) para cumprimentos das responsabilidades de gestão de um Programa de financiamento desta natureza. A minha principal função foi a de ‘maestro’, garantindo manter a orquestra no tempo e compasso correto!”, como nos refere Sandra Silva.
Desde maio de 2016 assumiu funções como diretora de Serviços de Programação na DGPM, sendo atualmente a responsável pela gestão do novo Programa “Crescimento Azul” do EEA Grants 2014-2021 e do Fundo Azul. Ambos têm como principal objetivo o desenvolvimento da Economia do Mar, a investigação científica e tecnológica, a proteção e monitorização do meio marinho, a segurança marítima, a educação e a formação. Pretende-se aumentar a criação de valor e o crescimento sustentável na ‘economia azul’ portuguesa. Para além disso, a intenção é aumentar a investigação e promover a educação e a formação nas áreas marinhas e marítimas. A sinergia entre os negócios, a investigação e a educação traduz-se numa abordagem holística, permitindo um ‘crescimento azul’ sustentável em Portugal.
No âmbito das atribuições enquanto diretora de Serviços de Programação da DGPM também agregou encargos pelas áreas da Vigilância Marítima Integrada, nomeadamente pelos projetos no âmbito da implementação da Política Marítima Integrada (PMI) da União Europeia (UE) e dos trabalhos para a criação de um Ambiente Comum de Partilha de Informação (Common Information Sharing Environment – CISE), visando a integração de informação dos sistemas de vigilância marítima entre nós.
“Todos estes projetos têm-me proporcionado a possibilidade de viajar, conhecer novos países, novas cidades, novas culturas e novas pessoas. Participar e organizar inúmeras reuniões de trabalho, eventos internacionais e missões empresariais são, sem dúvida, experiências que me enriqueceram e contribuíram para aumentar a minha bagagem profissional”, conforme nos explica.
Contudo, Sandra Silva é perentória ao afirmar: “Considero que o mais importante numa organização são as pessoas. Em todos os meus desafios foi delas que me socorri. Procurando aproveitar as suas competências e envolvendo-as nos projetos, fazendo senti-las parte da solução e dos resultados alcançados. E este lema não o aplico apenas às pessoas que fazem parte da ‘minha equipa’, mas também a todas as pessoas da organização. Não com um sentido formal de hierarquia, mas com o sentido de entre ajuda diária e cooperação. Inclusivamente, em alguns projetos, esta cooperação revela-se ao nível institucional no contexto de parcerias com outros organismos.”
Por fim, e segundo nos elucida Sandra Silva, “atualmente, o meu principal objetivo é poder contribuir para ajudar a Economia do Mar (através das formas de financiamento pela qual sou responsável), essencialmente as empresas que atuam neste setor, que tal como em outros setores da economia, estão a passar por momentos muito complicados gerados pela pandemia. Mesmo que seja ‘uma gota no oceano’, acredito que pode ajudar a fazer a diferença! Por fim, posso dizer que me sinto realizada e que gosto muito do que faço, adoro o tema ‘mar’ e isso também se aplica em termos pessoais, adoro navegar e mergulhar! E claro, a minha maior realização é ser Mãe.”