Uma carreira à procura da Felicidade

Sofia Manso, CEO da Academia da Felicidade
Sofia Manso, CEO da Academia da Felicidade, foi uma das convidadas para a mesa-redonda do Congresso RH 2023 onde se discutiram as consequências da felicidade e de uma liderança humanizada para a cultura organizacional das empresas. À Liderança no Feminino, media partner do evento que ocorreu no Pestana Palácio do Freixo, no Porto, a líder contou um pouco da sua vida e carreira construídas sobre o espírito da intervenção, empatia e dor.

Motivada pelas histórias sobre o 25 de Abril que o pai lhe contava e pela mentoria de um professor, que lhe ensinava História fora de horas, no tempo do liceu, Sofia foi inspirada a dedicar-se à política. Bastante envolvida, desde cedo, nas associações de estudantes, decidiu estudar ciência política já com alguma experiência em campanhas eleitorais e na liderança de uma juventude partidária.

Por esta altura, ambicionava com um cargo na diplomacia, sobretudo pelo impacto, pela importância da responsabilidade social e pelo contacto com as pessoas. Hoje, Sofia ainda se revê nesta jovem com vontade de fazer a diferença, de aprender com os outros e com o espírito de sacrifício que a faziam aceitar qualquer projeto que envolvesse voluntariado.

Este, mais do que qualquer outra ocupação, ganhou tanto espaço na vida de Sofia que, a certa altura, numa entrevista de emprego, o recrutador aconselhou-a a dedicar uma página do seu curriculum só a descrever o trabalho não remunerado.

Para a líder, à semelhança do voluntariado, a política serve de caminho para criar impacto “não enquanto ser individual, mas para os outros”, esclarece. Essencialmente, criar uma relação de confiança, demonstrar valores e disciplina e, sobretudo, “procurar soluções para as pessoas” acrescenta. Por isso, quando o desafio político, na direção de uma campanha local, se sobrepôs aos seus valores, Sofia acabou por escolher sair.

Ainda que a líder não tenha seguido carreira na política, o seu percurso permitiu-lhe sedimentar valores que a líder carregaria consigo contra todos os desafios que lhe apareceram. Hoje, tanto na vida pessoal como profissional, Sofia acredita que a confiança é uma troca bilateral – “queremos confiar, temos que ser de confiança” – nem sempre recebida ou retribuída com a atenção que gostaríamos.

Na política, como em qualquer outra profissão, considera importante perceber que a motivação sem disciplina é “um pavio curto de uma vela”.

Ao rumo da sua carreira, Sofia não pensava que, 6 meses depois de ter feito a primeira entrevista, seria assistente de bordo da TAP, durante quase uma década.

A ironia de fazer o primeiro voo no dia 1 de maio, o Dia do Trabalhador, depois de conquistar o lugar, entre 3000 candidaturas e dos meses de entrevistas, exames e formações, que considera terem sido “as mais desafiantes provas de pressão psicológica”.

Para além do glamour, do contacto com os passageiros, a profissão de assistente exigiu de Sofia muita inteligência emocional. Com a senioridade, outras responsabilidades foram acrescentadas, mas o trabalho baseia-se em gerir conflitos, incidentes e, inclusive, uma situação de morte a bordo.

Contudo, apesar de ser desgastante, e tendo como máxima “a fazer, fazer bem” o quer que seja na vida, nunca perdeu o brio e orgulho.

“Não sei trabalhar para o medíocre, não me sinto confortável na média e acima de tudo, não gosto de competitividade no ambiente de trabalho.”

Anos a bordo permitiram a Sofia reconhecer padrões comportamentais, perceber a importância da conciliação da vida pessoal e da vida profissional e reconhecer o contributo de cada colaborador para o ambiente de trabalho. A par da experiência na TAP, manteve sempre o interesse por alcançar novos conhecimentos, fosse por formações, cursos, ou livros, que adora, “a minha mãe diz que a minha herança está na quantidade de livros que comprei”, afirma. Durante esse período dedicou-se ao autoconhecimento e ao trabalho de coach, mais tarde, uma vez que, ainda na companhia, já se interessava pela cultura organizacional, pelo desenvolvimento pessoal e pela alta performance.

Numa das decisões mais felizes da sua vida, saiu da TAP, ainda antes da pandemia da COVID-19, de licença de maternidade, para poder ter o filho Pedro.

Sofia sempre sonhou em ser mãe, sempre achou ter “nascido para ser mãe”, confessa, dedicando-se a causas que envolvessem crianças, inclusive, na TAP os voos no Dia da Criança, “e tudo o que meta o som mais belo do mundo que é um sorriso de uma criança”.

Nada fazia esperar que o colo lhe ficasse vazio.

“Movida pelo motor do amor”, apesar da ausência, e da dor, Sofia criou a Academia P Estrelinha, dedicada a ajudar crianças. Ainda nesse ano, movida pela vontade de mudar, incoformada pela situação política do país,  integrou a comunicação de uma campanha política. Ao invés de sobreviver, decidiu “superviver”, em homenagem a todos os desejos e planos que não conseguiu pôr em prática com o Pedro. Direccionou os desejos para a ambições, sempre presente, de impactar, não para que “se lembrem” dela, mas para ajudar outras pessoas.

 

Em 2022, movida pelo mesmo amor, envolveu-se na Missão Ucrânia onde, entre outras funções, transportava ucranianos para as casas de acolhimento em Portugal.

Numa dessas viagens, entre o Fundão, Leiria e Lisboa, Sofia estava já a caminho para poder aceitar uma proposta de trabalho numa empresa voltada para o segmento infantil quando decidiu realizar uma chamada telefónica. Do outro lado recebeu uma proposta para criar algo do zero, que iria ser direcionado para pessoas, só que em vez de no sul, a norte, no Porto.

A proposta de construir algo que pudesse dar o cunho pessoal era aliciante, sobretudo depois de tantos anos de cursos e formações, de se ter reconhecido como “uma eterna, audaz, aprendiz da Felicidade”, comenta, e reconstruído apesar da dor.

Antes da Academia da Felicidade, da qual é a CEO, Sofia mudou-se para o Norte e criou um projeto direcionado para a alta performance, de raiz. As semanas de estudo e de leitura que deram origem a este projeto bem compensaram o esforço de mudar de cidade, de emprego e de vida – uma visão que a líder confessa ter, partindo da perspetiva que prefere ver o “copo meio cheio”.

A convite, e em conjunto com Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, Sofia criou a Academia da Felicidade (AF) em menos de 15 dias com a “missão de construir e partilhar Felicidade”, acrescenta.

É uma empresa estruturada com base em formação e certificação para empresas, focada na Felicidade, na cultura e ambiente organizacionais e na liderança humanizada. Para Sofia, a AF é um negócio sem concorrência, porque não existe concorrência para a felicidade e, mesmo que houvesse, considera-os como parceiros de missão. A Academia da Felicidade Club, por sua vez, é a oportunidade para as pessoas, que não façam parte de uma empresa, possam ter acesso à AF através de formações, webinares, acesso a parceiros e descontos. O que considera ser a “verdadeira democratização da felicidade”.

“As pessoas precisam ser inspiradas pela comunicação de mensagens com conteúdo, capacitando-as de competências que de outra forma não teriam acesso.”

O acolhimento massivo que a Academia da Felicidade recebeu (mais de 1000 visualizações na primeira hora, mais de 800 mensagens) confirmou que estavam na direção certa – “envolver pessoas e criar impacto através da Felicidade”, remata. No novo paradigma, que teve início após a pandemia, “são as pessoas que escolhem as empresas, e não as empresas que escolhem as pessoas”, diz.

 

A COVID deixou que os colaboradores tomassem consciência que existe alternativa a ambientes tóxicos, que a felicidade pode ser alcançada também no local de trabalho e que este pode ser mais do que “um meio para adquirir materialmente algo que nos faça felizes”, termina.

 

Para poder chegar a mais gente, Sofia e a AF trabalham em parceria com profissionais especializados – os Super Agentes da Felicidade – que colmatam problemas ou situações específicas.

 

De acordo com Sofia, “atingir uma cultura organizacional feliz é função da liderança, que deve estar comprometida em criar e manter condições” como um ambiente de trabalho feliz, as necessidades emocionais, físicas e psicológicas dos colaboradores, o equilíbrio e conciliação entre o trabalho e a vida pessoal – oferecendo flexibilidade, suporte e comunicação eficaz.  A manutenção da cultura organizacional positiva implica a fomentação de otimismo e transparência, valores alinhados, reconhecimento e apreciação, oportunidades de crescimentos, etc..

 

Parte dessa cultura organizacional deve estar atenta às questões de igualdade e equidade.

A liderança feminina é um farol de diversidade, empatia e força resiliente. Em cada decisão tomada e em cada equipa que lideram, mulheres líderes, tecem a fibra da inclusão e da perspectiva ampla que desafia o status quo.

 

Às mulheres líderes, Sofia pede que valorizem as experiências únicas e utilizem-nas para enriquecer o tecido da liderança global. Ao fazer isso, diz “vamos não apenas abrir portas para outras mulheres, mas elevar o padrão de liderança para todos, criando um legado que transcende as barreiras de género e inspire um futuro onde cada líder é valorizado pela sua contribuição única e indispensável”.

 

“Continuem a liderar com a convicção de que o equilíbrio de género é mais do que uma métrica, é um catalisador para a inovação e a excelência.”