A Susana Torres foi um grande contributo para a grande vitória da Seleção de Portugal, no Europeu de França. Após um ano, recorde-nos esse dia….
Foi um dos melhores dias da minha vida, pois foi o culminar de um intensivo trabalho com o Eder e o alcançar do terceiro objetivo que trabalhámos…marcar o golo na final do Europeu.
No dia da final viajei para Paris bem cedo, fui falando com o Eder durante o dia, ele estava ansioso por este momento, pois acreditava que algo grandioso lhe estava reservado. O ambiente era fantástico, o estádio estava cheio de portugueses, e eu também sentia que tinha chegado o momento de fazer história.
Durante todo o jogo também estava um pouco nervosa, os acontecimentos indicavam que estávamos perante um dia diferente, as traças, o facto de termos perdido o Cristiano tão cedo, mas por outro lado termos ganho um líder fora das quatro linhas, a bola ao poste, e o Rui Patrício que insistia em não permitir que a bola entrasse na nossa baliza… tudo indicava que aquela vitória estava destinada a ser nossa.
Para mim, o melhor momento do jogo, foi quando o Eder entrou em campo. Nesse momento consegui relaxar e usufruir daquele momento, até que, no minuto 109 acabámos por marcar e foi a loucura no estádio. Há emoções que não se explicam, e esta é uma delas…
Logo a seguir ao golo, o meu telefone tocou, do outro lado estava o Sérgio Conceição, disse-me que estava muito feliz, o Ederzito tinha marcado e ninguém merecia mais do que ele aquele momento. Para mim foi muito importante este telefonema, pois foi graças ao Sérgio que todo este processo de mudança se iniciou, talvez se o Eder nunca tivesse trabalhado com o Sérgio, nada disto tivesse acontecido.
Como é que saiu do setor bancário e apostou no mental coach de alta performance?
Ser coach de Alta Performance era algo que eu queria há bastante tempo, no entanto acreditava que para exercer esta profissão e ser levada a sério, teria que preencher alguns requisitos. Talvez fosse importante ter uma carreira de sucesso, ser casada, ter filhos, e ter para cima de 30 anos. No fundo, era apenas um conjunto de crenças que eu tinha, e que me faziam acreditar que para trabalhar ao mais alto nível, com CEO´s de empresas e atletas de alta competição, teria de deixar de parecer uma “miúda” e mostrar alguma credibilidade. A verdade é que estas crenças acabaram por me condicionar o percurso profissional, e acabei por casar, ter três filhos, ser subdiretora na banca, e ganhar assim a preparação necessária para abraçar o meu sonho de transformar a vida das outras pessoas.
Para quem não conhece, o que significa ser mental coach?
Aquilo que eu faço, enquanto coach de Alta Performance, é ajudar as pessoas a atingir os seus objetivos.
A Alta Performance é o segredo dos empreendedores. Significa excelência e sucesso, acima das normas padrão de forma consistente a longo prazo.
Traduz-se no sentimento de “engagement”, alegria e confiança que vem de viver consistentemente com base em todo o nosso potencial, sendo por isso o resultado de níveis elevados e sustentados de clareza, energia, coragem, produtividade e influência.
Com base em ferramentas de Coaching e técnicas de Programação Neurolinguística, ensino quem trabalha comigo a dominar áreas como a produtividade, a persuasão, a psicologia, a fisiologia, a presença e o propósito.
Quem são as pessoas que a procuram?
As pessoas que me procuram surgem das mais variadas áreas e fazem-no por diversos motivos.
Por vezes, são pessoas pretendem atingir novos resultados nas suas vidas, melhorar as suas relações pessoais ou profissionais, evoluir, lançar novos projetos, crescer profissionalmente, obter maior influência enquanto líderes, ou simplesmente obter melhor performance nas suas vidas. Outras vezes são pais que procuram impulsionar a vida dos seus filhos e procuram o Coaching de Alta Performance como uma via para atingir esse objetivo. Uma grande parte procura-me porque quer atingir a excelência naquilo que faz, normalmente empresários que pretendem elevar a sua performance, traduzindo-a depois numa melhor liderança e nos resultados das suas empresas.
E depois, os atletas de alta competição, que já sabem que esta é uma das minhas especialidades e que encontram neste trabalho, uma forma de potenciarem as suas competências e atingirem resultados excelentes.
Existe sempre uma característica comum em todas estas pessoas, são normalmente pessoas que entendem o poder da mente, e o quanto ela influencia os nossos comportamentos e a nossa performance, como a devem treinar, da mesma forma que treinam outras partes do corpo e desenvolvem outras competências ao longo da vida.
Conhecemos bem a nossa mente? Ou é mais complexa do que aquilo que pensamos?
Acredito que há muito por conhecer, e se há algumas pessoas que procuram entender e conhecer os processos neurológicos que ocorrem na mente e que condicionam toda a nossa vida, também há outras pessoas que ainda não aprenderam como tudo isto funciona, de que forma se produzem os nossos pensamentos e como eles geram os estados emocionais, estados esses que condicionam o nosso comportamento, que por sua vez se traduz em resultados.
A mente é sem dúvida complexa, o que não invalida, que possamos usar a imensa informação disponível sobre ela para aprender e assim melhorar a nossa vida.
Também trabalha com o mundo empresarial. Saber gerir os recursos humanos implica adquirir inúmeras ferramentas, em prol do desenvolvimento da empresa. Quem está nos lugares de topo reconhece a importância do conceito de “mindfulness”?
Mais do que adquirir e dominar inúmeras ferramentas, para gerir recursos humanos é preciso ser apaixonado por pessoas. Quando estar com pessoas, acreditar nas pessoas, querer desenvolver competências nos outros, criar impacto positivo na vida dos outros, é a nossa missão, as ferramentas são só uma preciosa ajuda que nos vai facilitar este processo.
Hoje em dia, quem gere recursos humanos sabe que, o sucesso das ferramentas depende do rapport que somos capazes de criar com as pessoas a nossa volta, do nível de influência positiva que conseguimos exercer sobre elas e do quanto as conseguimos inspirar, sendo certo que, na base de tudo isto tem de estar uma grande habilidade para comunicar.
Não posso afirmar que quem está nos lugares de topo reconhece a importância de conceitos como o “mindfulness”, pois não conheço todas as realidades, mas é cada vez mais comum encontrar empresas que evoluem nesse sentido, que usam os vários recursos disponíveis para desenvolver competências e performance dentro da organização.
Uma das coisas que muitas vezes observo, é que existe uma grande preocupação com utilização de ferramentas de Coaching, que leva por vezes as pessoas a procurar cursos nestas áreas, e que depois não traduzem necessariamente uma aprendizagem clara e eficaz no uso dessas mesmas ferramentas, com resultados.
Como eu sou uma pessoa muito focada em resultados e curiosa para aprender com os melhores nestas áreas, decidi recentemente dar resposta a esta questão, e depois de viajar para Londres e para os EUA e estudar com o maior mestre, o cocriador da Programação Neurolinguística e com o melhor coach do mundo em Alta Performance, Brendon Burchard, decidi então trazer para Portugal o primeiro “Curso Internacional de Alta Performance”, destinado a pessoas que queiram não só aprender as melhores práticas utilizadas por Brendon com personalidades influentes como Oprah Winfrey , jogadores da NBA e NFL, bem como utilizar ferramentas de alto impacto para desenvolver a sua performance e a das suas equipas.
Vivemos num mundo tão agitado, em que a pressão do fazer bem num curto espaço de tempo, nos leva ao desgaste psicológico. Que recursos podemos e devemos utilizar para evitar esse colapso, esse descontrolo?
A pressão de fazer bem num curto espaço de tempo, é o dia-a-dia de um atleta de alta competição. Isto não é mais do que ser eficaz naquilo que fazemos, procurar a excelência dos nossos resultados. Quando falamos de desporto, isto parece algo normal e fácil de entender, mas quando falamos das empresas, já não é assim tão simples. É precisamente por isto que eu acho que o desporto tem muito a ensinar às empresas, há comportamentos que os atletas adotam quem lhes permite operar em alta competição, sendo certo que, se todos nós tivéssemos esse “mindset”, não seria assim tão difícil atingir maiores níveis de eficácia e maior capacidade para lidar com a pressão e evitar assim o descontrolo.
Algumas das lições que podemos retirar do desporto e que podemos aplicar nas empresas são por exemplo, grandes níveis de autodisciplina, treino diário de competências, análise das competências e fragilidades dos adversários, estratégia de jogo, tática, alimentação adequada, descanso adequado, interajuda e trabalho em equipa, objetivos para treinos, objetivos para jogos, objetivos para a época, meritocracia, superação, resiliência, foco no resultado. O que seria das empresas, se tudo isto estivesse presente em cada funcionário, em cada departamento, em cada líder?
Os filtros de defesa são importantes para o nosso bem estar. São esses “muros” que nos permitem encarar as adversidades, dos objetivos traçados, com mais segurança?
Sim, por um lado criar filtros que me permitam sentir protegida face a algumas adversidades pode ser útil, bem como, libertar-me dessas amarras, arriscar e assumir riscos pode ser a forma de alcançar resultados incríveis. Quando eu quero trazer demasiada segurança à minha vida, muitas vezes abdico do risco. Tudo depende da forma como quero viver e do tipo de objetivos que quero traçar na minha vida, não existe certo ou errado aqui, cada um faz da forma que sente que é melhor para si.
O seu sucesso ficou mediatizado pela vitória de Portugal no Euro 2016. Quais as maiores dificuldades em ser coach de alta performance, na área do futebol, dominada por homens?
Os maiores desafios que sinto, não tem tanto a ver com o facto de ser mulher num mundo de homens, mas mais com o facto de este trabalho ter sido até há pouco tempo desconhecido de uma grande parte dos intervenientes nesta área.
A minha experiência, enquanto coach de alta performance, com equipas de futebol é fantástica, em momento algum senti desrespeito ou descrédito por parte de alguém num clube, muito pelo contrário. Este é um trabalho de alto impacto, com resultados imediatos e talvez por isso seja tão aliciante fazê-lo com futebolistas. Aqueles que possuem experiência internacional, já estão habituados, pois no estrageiro o Coaching é algo normal e faz parte da vida dos atletas, sendo que muitos clubes integram um coach no próprio clube, para os restantes acaba por ser uma novidade, que gera bastante curiosidade. Mais importante do que ser homem ou mulher nesta função, acaba por ser a capacidade de ganhar a confiança dos jogadores, fazer um bom trabalho e atingir resultados.
O homem e a mulher, têm diferentes formas de reagir. A pressão de ser mulher implica um esforço acrescido na tomada de decisões?
Os mecanismos de defesa que anteriormente falávamos, são muitas vezes criados, porque de alguma forma sentimos que pode haver alguma ameaça no contexto, e por isso os acionamos.
No início, quando trabalhei com a primeira equipa de futebol, na época de 2014/2015, não tinha muita experiência em trabalhar com grandes grupos de futebolistas, por isso também ativei os meus mecanismos de defesa, gerados por essa espectativa, de que esse contexto poderia conter algumas ameaças. Acontece que é só a nossa experiência, as nossas crenças e a informação à qual acedemos a condicionar-nos, e a gerar dentro de nós perceções e expectativas face ao que vamos encontrar pela frente. A minha experiência foi incrível, com excelentes resultados e com muita aceitação e carinho por parte da equipa técnica liderada pelo Sérgio Conceição e dos jogadores. Isso levou-me a acreditar que, a pressão de ser mulher é algo que não existe, somos nós que criamos estes conceitos, e a prova disso é que existem imensos exemplos de mulheres que se destacam e têm excelentes resultados em contextos normalmente dominados por homens. Eu diria que há de tudo, nós é que escolhemos colocar a atenção mais numa coisa do que noutra.
Muitas mulheres, se abandonassem as crenças que as levam a sentir que são vistas como inferiores relativamente aos homens, amanhã estariam a dar passos muito diferentes rumo aos seus objetivos.
Deixe-nos uma mensagem do que é ser líder no feminino.
Ser líder no feminino é ter a sensibilidade, a coragem, a visão e a ambição necessárias para impulsionar positivamente a vida das outras pessoas, inspirando-as e desenvolvendo a sua performance, com base no potencial de cada uma.
Um bom líder não olha para as competências que as pessoas possuem, mas sim para o potencial que elas podem desenvolver.