Sónia Almeida: uma dedicação apaixonada ao Parque Nacional da Peneda-Gerês

Sónia Almeida, Administradora Delegada do Parque Nacional da Peneda-Gerês
Sendo administradora delegada da ADERE-Peneda-Gerês há cerca de 10 anos, Sónia Almeida começou aqui as suas funções como técnica e prosseguiu até alcançar um cargo de chefia. Durante mais de 20 anos de carreira trabalhou sempre em prol da conservação do Parque Nacional e das pessoas residentes nos vários concelhos abrangidos pelo mesmo Parque.

Com apenas dois anos, já caminhava pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), então acompanhada pelo seu pai. Desde sempre foi fascinada pelos programas televisivos relacionados com o ambiente, tal como as expedições de Jacques-Yves Cousteau e as reportagens de David Attenborough: “Imaginava-me a fazer o que eles faziam”, recorda com saudade.

Licenciou-se em Engenharia Florestal e escolheu o Parque como primeira opção para o seu estágio no curso de Gestão de Formação. Começaria, então, como técnica na ADERE-Peneda-Gerês (PG) e chegou a administradora delegada, onde permanece há 10 anos. A ADERE-PG é, portanto, uma organização privada sem fins lucrativos e possui atividades nos cinco concelhos circunscritos pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, integrando igualmente a Comissão de Cogestão do Parque Nacional.

Ao longo dos mais de 20 anos de trabalho afincado, a sua ligação com o Parque fortaleceu-se progressivamente: “Comecei a olhar para o Parque Nacional com outros olhos que não os de quem vem passar umas férias”, conforme nos explica. Esta paixão estende-se além da floresta e da natureza, sendo também um gosto pelo mundo rural e as pessoas naturais desta zona: “Estar em contacto com as pessoas que aqui residem, conhecer os seus problemas, poder contribuir para a resolução de alguns, sentir as dificuldades de quem reside no Parque. Tudo isto nos faz sentir parte do Parque.”

O PNPG foi a primeira área protegida criada em Portugal, sendo o único com o estatuto de «Parque Nacional», reconhecido internacionalmente com tal classificação e, naturalmente, em cerca de meio século muitas foram as transformações: “No início não se olhava para o Parque Nacional como um produto turístico, pois ainda hoje há quem não goste de o ver como tal, com receio do mal que possa advir pelo facto de tanta gente querer visitar esta área protegida.” Contudo, em boa verdade, o nosso Parque Nacional é cada vez mais procurado por amantes da natureza, tanto portugueses como estrangeiros. Nesse sentido, surgiram ofertas e novas organizações de serviços, tais como alojamentos turísticos, restaurantes e hotéis, os quais, até então, não existiam, não descurando as melhorias nas condições de acessibilidade.

Como consequência da pandemia e demais restrições às viagens, muitos turistas optaram por procurar atividades ao ar livre e em espaços verdes, pelo que Sónia Almeida, enquanto administradora delegada, assegura que os empresários turísticos da região estarão preparados e “de portas abertas” para receber todos os turistas com segurança.

Uma associação de desenvolvimento não está autorizada, por lei, a promover pacotes ou serviços turísticos, mas, não obstante, a ADERE-PG “vende” o território do PNPG há muitos anos. Ou seja, por outras palavras, a organização sugere várias propostas de visitas e atividades, mas tem de reencaminhar os turistas para cada um desses serviços externos. Para colmatar essa lacuna, há cinco anos foi encetado um concurso de ideias pela Associação Empresarial de Portugal. Entre vários candidatos e propostas, foram selecionados alguns planos de negócios, entre os quais a Go2Nature, uma agência turística especializada em Turismo da Natureza, a operar no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e da qual Sónia Almeida é o respetivo CEO. Ao colaborar intimamente com as empresas desta área protegida, um dos objetivos paralelos da ADERE-PG, esta parceria ambiciona aumentar o rendimento das empresas envolventes.

Consciência ambiental e educacional para a preservação ecológica

O nosso país possui 13 parques naturais, todos classificados pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e, no que se refere à consciencialização para a sustentabilidade e a preservação da natureza, Sónia Almeida está em crer que Portugal evoluiu bastante nos últimos anos, mas ainda existe um longo caminho a percorrer. É necessário uma cooperação e uma formação mais articulada entre o Estado, os municípios, as escolas e os tecidos empresariais, de modo a que exista uma participação global nos mesmos propósitos.

Por outro lado, a ADERE-PG tem contribuído para a defesa da natureza no universo escolar. Em 2018 elaborou o projeto «Gnómon – Escolas na Biosfera», o qual foi dirigido aos alunos dos cinco municípios do PNPG, “para lhes dar a conhecer um bocadinho mais do único Parque Nacional do país e da área onde eles residem: a Reserva da Biosfera Gerês-Xurés.” De modo a ser mais interativo, todos os materiais produzidos – vídeos, documentários, manuais e bandas desenhadas –, foram criados exclusivamente pelos alunos.

Consequentemente, o feedback foi tão positivo que outros municípios e escolas pediram informações detalhadas sobre este projeto, com vista à sua replicação, pelo que a ADERE decidiu alargar os seus próprios horizontes. Um pouco mais adiante, está a ser divulgado o «Eco-Passaporte», um novo projeto destinado a trazer os jovens  da área metropolitana do Porto até ao Parque Nacional, convidando-os a participarem em atividades ambientais e culturais. Infelizmente, a situação atual da pandemia alterou estas previsões, mas mantêm-se tais desideratos tanto para as crianças como os próprios pais.

Apesar dos contratempos provocados pelas condições sanitárias vigentes, as quais obrigaram ao cancelamento de formações e o adiamento de vários programas, os objetivos da ADERE-PG mantêm-se.  De momento, a aposta tem sido na «GR50 – Grande Rota do Parque Nacional», a qual que permite percorrer o parque por trilhos pedestres. Para ajudar a percorrer as etapas da GR50 existe uma app com informações úteis, salientando os pontos de interesse e locais para comer ou pernoitar, por exemplo.

Competência e confiança para liderar

 

Enquanto pessoa e profissional, a vida de Sónia Almeida foi influenciada pelo seu trabalho, o qual tenta desempenhar da melhor forma possível. Quando foi nomeada para gerir uma equipa decidiu investir em formação na área comportamental e gestão de pessoas – possui uma certificação de coaching e gestão de equipas, assim como uma pós-graduação em gestão de projetos em parceria. Toda esta aprendizagem ajudou-a a nível profissional, mas também noutros níveis, pois enquanto mãe de 3 filhos, teve de aprender a conciliar a sua carreira profissional com a vida familiar. Mas, atendendo à paixão pela sua função e aos princípios pelos quais se rege – respeitar a natureza, as pessoas e principalmente o tempo de cada um –, “na natureza não podemos (não devemos) apressar as coisas, tudo tem um momento para acontecer, um tempo certo.”

Quando se referem os cargos de chefia, estes permanecem amiúde associados ao sexo masculino. Sónia Almeida acredita que os estereótipos associados ao estilo de liderança feminina e masculina são frutos da prevalência dos homens durante longo tempo nesses cargos: “Quando uma mulher ocupava o cargo tinha de o fazer de forma em que não corresse o risco de falhar, sob pena de se associar o falhanço ao facto de ser mulher. Daí a maior cautela e ponderação. Hoje em dia, as diferenças estão mais esbatidas e penso que cada vez mais se avalia uma mulher num cargo de liderança pela sua competência, independentemente do estilo com que lidera”, explica-nos.

Nos primeiros anos enquanto administradora delegada, apesar de tudo, confessa ter sentido um tratamento diferente. Talvez por ser mulher, mas também pela sua inexperiência e insegurança iniciais. O conselho de administração é composto por cinco presidentes da câmara e “por vezes, não é fácil tomar decisões que possam ‘contrariar’ as decisões políticas. (…) Com o passar dos anos, essa diferença foi-se esbatendo e hoje sinto-me muito bem ao apresentar o meu ponto de vista, a debater ideias. E gosto quando percebo que contribui para que um determinado projeto comum fosse para a frente”, confesso, com um merecido sentido de orgulho.