LIDERANÇA INTENCIONAL

Maria Tavares Leal, Coach em Liderança e Manager na pur'ple
A Maria é Manager na pur’ple, atividade que concilia com a prática de Coaching e com a missão de disponibilizar conteúdos relevantes para o desenvolvimento profissional  através do seu canal de Youtube e da sua página de Instagram.

 

Com uma licenciatura e um mestrado em Filosofia, e com um passado profissional como bailarina e professora de Tango Argentino, ao iniciar a sua vida profissional como professora e investigadora, percebeu que gostaria de experimentar o mundo das organizações.
Nesse sentido, integra a PT Contact como Técnica de Recursos Humanos onde contactou pela primeira vez com as temáticas de liderança. A vontade de aprofundar o seu conhecimento organizacional, levou a um Mestrado Executivo em Gestão no INDEG/ISCTE e a entrar no mundo da consultoria de Human Capital. É neste âmbito que passa pela Deloitte, Hay Group/ Korn Ferry e Boyden. Para solidificar a prática como Assessor e como Coach, frequenta cursos de Comunicação Não-Violenta, Mindfulness, Yoga e fez a Certificação em Coaching na Way Beyond. Com o propósito de continuar a fazer diferente, aceita o desafio da pur’ple que abraça atualmente.

LIDERANÇA INTENCIONAL

Enquanto a Liderança continuar a ser vista como uma posição dentro de uma determinada organização, estaremos a limitar o potencial do conceito, e o potencial de todos os indivíduos numa determinada sociedade. Etimologicamente, o verbo liderar está relacionado com ações como dirigir, conduzir, chefiar e, naturalmente, indivíduos que assumem essas ações perante outros acabam por ser considerados líderes.
No entanto, pela experiência empírica podemos sempre pensar em quem verdadeiramente influenciou as nossas escolhas e as nossas decisões e, certamente, nos apercebemos que nem sempre foram líderes formais que o fizeram. É nesta perspetiva de verdadeira influência que me parece importante endereçar a liderança e, para isso, é preciso que todos estejamos conscientes da influência que podemos ter uns nos outros. É um “super-poder” enorme. Parece bastante óbvio que estamos sempre a dar um exemplo com as nossas ações, com as nossas palavras, com as nossas decisões e escolhas.
O que não é tão óbvio é o facto de também darmos o exemplo com as nossas inações, com o que não dizemos, com as nossas indecisões. Tanto no que fazemos como no que não fazemos, somos o exemplo de algo. A intencionalidade vem no cuidar desse exemplo que queremos dar, na medida em que consigamos estar a ser aquilo que queremos ser.
Além disso, quer queiramos quer não, estamos sempre a ser observados, catalogados e podemos ser passivos ou ativos no que queremos e podemos influenciar.
E, por isto, todos podemos ser líderes se assim o que quisermos ser.

Curiosamente, muitos dos que gostariam de ser líderes, não tomam a decisão consciente e intencional de o ser, e outros que até estão em posições consideradas de liderança, não cuidam do papel de influência que têm. Acabam por atuar reagindo a estímulos externos, tendencialmente repetem comportamentos que em experiências anteriores lhes transmitiram segurança e não assumem o privilégio de poder influenciar os que os rodeiam. Por outro lado, há quase sempre um arrepio desconfortável quando falamos em “influência” pois muitas vezes associamos a capacidade de influência a não genuinidade, não autenticidade, às segundas intenções, mas se partirmos do ponto já referido: quer queiramos quer não estamos sempre a dar um exemplo, então por que não cuidar desse exemplo de uma forma intencional?
E para tornar esta ambição realista, a intencionalidade vê-se não só no estabelecimento de uma visão para a nossa própria vida, que pode e deve ir mudando em contextos e momentos distintos, mas sobretudo nas pequenas escolhas que fazemos no quotidiano, no dia-a-dia, vê-se na escolha de preferir falar com alguém a enviar um e-mail que até poderia resolver o tema de forma mais rápida, mas que não permite conexão, no esforço consciente de saber o nome do gato de um colega de trabalho, na decisão de abrandar o ritmo porque vemos que estamos a ficar fora de uma zona de controlo emocional, no não adiar conversas desconfortáveis, no pedir ajuda quando precisamos, vê-se na veracidade do que dizemos e do que não dizemos, entre muitos outros pequenos exemplos, porque tão importantes como as competências estratégicas são as competências de conexão que precisamos para liderar.

A intenção com que fazemos o que fazemos dá significado que pode ter repercussões muito além do que sozinhos por ação própria conseguimos alcançar. Cuidar intencionalmente do exemplo que estamos a ser, cuidar intencionalmente dos que nos rodeiam, cuidar intencionalmente dos princípios que defendemos e sermos coerentes com os mesmos, é uma intenção individual nas pequenas coisas que permite grandes feitos em comunidade. A Liderança Intencional é uma escolha, não pode ser concedido nem pedido a ninguém este papel, é uma escolha individual em querer ser uma influência positiva nos outros e, para isso, não é preciso nenhuma nomeação oficial. Não são os grandes feitos individuais ou as grandes mudanças e transformações organizacionais que enchem os Currículos que fazem os grandes líderes, é a influência intencional que deixam por onde passam. São as saudades que ficam nas equipas que gerem quando partem para novos desafios. É a referência que criam. É intangível? É! É real? Muito mais do que os resultados objetivos que gostamos de mostrar em relatórios.
Grandes líderes fazem-se nas pequenas coisas.