Os rostos da Liderança Feminina no projeto Living Lab da Brisa

Três mulheres que dirigem o projeto de Living Lab que investiga materiais inovadores para pavimentos, Daniela Domingues, Maria João Rato e Sónia Santos Santiago.

O desafio foi lançado pela gestão do Grupo Brisa a todas as empresas do Grupo: reduzir as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera e promover a economia circular. O plano estratégico do Grupo Brisa, o Vision28, pretende que a sustentabilidade seja uma das alavancas de transformação das várias empresas do grupo e visa também promover uma organização orientada por um propósito ESG, ancorando a cultura e o modelo de negócios do Grupo na sustentabilidade.

Os objetivos do Grupo para a área ambiental são por isso ambiciosos. O Grupo Brisa quer reduzir em 60% as emissões de carbono de âmbito 1 e 2 até 2030, face a 2021, e ser Net Zero até 2040 e definiu um plano de ação para a Economia Circular com quatro níveis de desempenho em função do grau de execução de ações. Atualmente no nível 1, o Grupo pretende chegar ao nível 3 até 2028, um salto quantitativo e qualitativo que vai levar a uma profunda mu- dança na gestão dos resíduos da atividade, de empreitadas e abandonados.

São objetivos desafiantes para a Brisa Concessão Rodoviária, a maior empresa do Grupo, que abrange a “espinha dorsal” do sistema rodoviário português, com um total de 11 autoestradas em operação.

Foi com base nestas metas que começámos a olhar para os resíduos da Brisa Autoestradas e para a melhor forma de os valorizar. Rapidamente percebemos que só será possível cumprir estas metas com soluções inovado- ras que garantam uma redução significativa das emissões e um aproveitamento de resíduos sem comprometer a segurança e a eficiência das nossas autoestradas.

Os padrões de qualidade têm por isso de ser elevados. Olhámos para o estado da arte, em Portugal e no estrangeiro, e decidimos aliar-nos ao ISEL – Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.

Criámos em conjunto um Living Lab para investigar materiais inovadores para pavimentos que permitam reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e aumentar a eficiência no uso de recursos naturais nos trabalhos de conservação da rede de autoestradas.

Já desenvolvemos seis testes-piloto para pavimentos mais sustentáveis, numa extensão de quase 10 quilómetros na A3, a autoestrada que liga o Porto a Valença, e na A6, que liga a Marateca a Caia.

As soluções que testámos têm o potencial de diminuir em 600 toneladas as emissões de CO2, o equivalente a 23 mil viagens de automóvel entre Lisboa e Porto, e de reduzir 19 mil toneladas de resíduos.

Nos testes têm sido aplicados vários materiais e tecnologias inovadoras, como plásticos reciclados, grafeno, que tem o potencial de aumentar a durabilidade dos pavimentos, e borracha proveniente de pneus em fim de vida. Neste caso, testámos uma nova tecnologia inédita na Europa, que consiste na digestão completa da borracha reciclada de pneus em fim de vida no betume, permitindo a alteração das suas características físicas e químicas, incrementando a durabilidade e resiliência dos pavimentos e potenciando ainda a utilização de misturas betuminosas recuperadas.

Os pavimentos das autoestradas são de elevada qualidade para suportarem a passagem de todo o tipo de veículos, dos mais pesados aos mais leves. Os pavimentos constituídos por uma mistura de agregados (provenientes da exploração de pedreiras) e betume (ligante proveniente da destilação do petróleo no processo de produção de combustíveis), têm várias camadas e a camada superficial, a chamada camada de desgaste, quando esgota a vida útil, por efeito do tráfego e das condições climatéricas, tem de ser renovada. Isto significa demolir esta camada com uma máquina, que fragmenta o pavimento, originado um material, conhecido como fresados, que mantém ainda um elevado potencial para ser reutilizado novamente na construção de novas camadas de desgaste. Isto é, constitui um material de elevada qualidade, e cujo processamento origina as designadas misturas betuminosas recuperadas (RA) que pretendemos aproveitar.

É precisamente na utilização destas misturas betuminosas recuperadas que estão os resultados mais entusiasmantes dos testes-piloto. Testámos, com sucesso e pela primeira vez, a utilização destas misturas betuminosas recuperadas em camadas de desgaste com uma incorporação percentual de 20% e 30%.

Esta experiência permitiu-nos desenvolver as especificações técnicas para a produção industrial e aplicação na autoestrada destas misturas betuminosas que incorporam RA, temos já contratada uma empreitada para a beneficiação do pavimento do sublanço da autoestrada A3 – Águas Santas / Maia -, que prevê a incorporação de 20% de RA, proveniente da camada de desgaste que irá ser demolida, promovendo de forma direta a circularidade, a redução no consumo de materiais virgens (agregados e betume) e a redução da produção de resíduos.

O nosso projeto não para aqui. O Living Lab vai continuar a investigar estas e outras solu- ções de que são exemplo, os dois trechos piloto realizados também no sublanço da autoestrada A6- Évora Nascente / Estremoz, onde se aplicaram misturas betuminosas temperadas, produzidas e aplicadas a temperaturas inferiores às misturas betuminosas convencionais, sendo que num dos trechos adicionalmente à diminuição da temperatura de produção se adicionou 20% de RA. Com estas soluções pretende-se reduzir o consumo de combustíveis e a emissão de gases com efeito de estufa, e quando incorporamos RA captamos os benefícios atrás descritos de redução de consumo de novas materiais virgens e de produção de resíduos.

O Living Lab é já um projeto de sucesso, e se começou com uma parceria entre a Brisa Concessão Rodoviária e o ISEL, hoje é um projeto aberto a vários parceiros e fornecedores, que congrega empresas parceiras como a Cepsa, JRS Rettenmaier, Polyco e a Iterchimica e fornecedores como a Sirplaste, Gabriel Couto, Mota Engil, Alves Ribeiro, Tecnovia.

Estamos a trabalhar para avaliar diferentes soluções promotoras da circularidade, que reduzam a emissão de gases com efeito de estufa, ou que aportem novas funcionalidades aos pavimentos, mas sempre garantindo qualidade e durabilidade idêntica ou superior aos padrões das misturas betuminosas convencionais que têm até agora sido aplicadas pela Brisa.