O poder do marketing e o repto de trabalhar em diferentes áreas de negócio

Do setor automóvel a produtos de piscina e outdoor, bebidas espirituosas, setor alimentar e IT, Andreia Agostinho deixou a sua marca como marketeer. Hoje, assume um cargo de liderança na Frutorra – o de diretora comercial & marketing – e afirma que está a trabalhar na área de negócio que mais a apaixona (FMGC).

Andreia Agostinho perdeu uma grande carreira como psicóloga, mas ganhou-a como marketeer. Tendo quase ingressado no curso de Psicologia, uma área que sempre a fascinou, Andreia optou pelo curso de Marketing no Politécnico de Coimbra. Foi no mesmo que entendeu que a Psicologia também está presente no trabalho de uma marketeer, uma vez que esta tem que saber um pouco de “psicologia do consumidor e compreender comportamentos de compra”. Andreia juntou assim o útil ao agradável e pode dizer que não se arrependeu da sua escolha.

“Sabia que teria de estar ligada a algo dinâmico, com criatividade, mas que me permitisse metodologia, e, no final, ver as coisas acontece”

Depois de se licenciar, a marketeer ainda tirou uma pós-graduação em gestão de empresas na Coimbra Business School. A mesma surge na necessidade de complementar o trabalho de Marketing de “dentro e para as organizações”, afirma. Andreia sente que a sua formação lhe deu conhecimento que a ajuda, atualmente, em “tomadas de decisão e mediação das suas implicações no universo global da organização”. A diretor de marketing sempre trabalhou na área organizacional e empresarial, mas ao longo do seu percurso foi conhecendo várias áreas de atividade e negócio que a desafiavam e motivavam ao mesmo tempo.

A marketeer começou a sua carreira profissional como Marketing Assistant na Litocar, uma empresa de distribuição automóvel. Ao fim de dois anos, aceitou o desafio de ser Marketing Manager da SCP Distributors, “uma rede do maior distribuidor de produtos de piscina e outdoor living do mundo”, explica Andreia. Em 2015 juntou-se à Companhia Espirituosa, uma distribuidora de marcas de bebidas (Exemplos: Licor Beirão, Bushmills, Amarguinha) como Brand Manager. No ano seguinte foi promovida ao cargo de Trade Marketing Executive do Licor Beirão e mais tarde ainda assumiu o desafio de Brand Manager da Lusiaves (empresa do setor avícola) e ainda passou pela área de IT, como Head of Marketing Communications da Wit Software (setor das telecomunicações).

Andreia tornou-se numa verdadeira marketeer, uma capacidade que a diretora comercial foi descobrindo e considera que a mesma se aprende e desenvolve-se continuamente. Isto é, durante a experiência profissional que se vai ganhando.

“Ser marketeer é ter cá dentro um ́bichinho inquieto ́! Não é necessariamente algo com que se nasce, mas algo que descobrimos e que dificilmente conseguimos dissociar do nosso dia a dia”

Para Andreia, as características de uma boa marketeer são a humildade, resiliência e ambição e acredita que a combinação destas três permite alcançar os objetivos previamente definidos. Contudo, se o grande objetivo passa por ser um profissional de destaque no mercado competitivo em que se vive, tem de se somar às características mencionadas a “criatividade, o pensar fora da caixa e o querer fazer melhor”, acrescenta.

Como se pode constatar, Andreia já passou por várias áreas de negócio – desde o mercado automóvel, a produtos de piscina e outdoor, bebidas espirituosas, setor alimentar e IT. Experiência em mercado não lhe falta, mas a área que mais a apaixona é a FMGC – “Fast-moving consumer goods” (Em português: “bens de grande consumo”) e foi por isso, que em 2020, aceitou o desafio de ser Marketing Manager da Frutorra – uma marca de aperitivos, legumes e frutos secos. Em 2021, Andreia é promovida a Diretora Comercial & Marketing, cargo que exerce atualmente.

A marketeer considera que o grupo Frutorra se diferencia pela sua natureza próxima, em que os seus colaboradores lutam para o mesmo lado, partilhando os mesmos valores e objetivos, e principalmente, tem uma grande “sede de vencer”, apesar de manter sempre a humildade. Andreia confessa que é raro falarem dos seus concorrentes, uma vez que têm em mente que o mercado é livre e todos lutam por mais. Contudo, a diferenciação é o grande objetivo, para que consigam ser “competitivos, eficientes e estratégicos”. O foco estará sempre no cliente, em dar-lhe qualidade nos produtos e fornecer-lhes um bom serviço, para além de querer trespassar confiança nas decisões que tomam. Tudo isto irá acrescentar valor à Frutorra.

Andreia entrou para a Frutorra no ano em que a Covid-19 veio alterar toda a realidade até aí conhecida, o que fez com muitos negócios passassem por grandes dificuldades ou até declarassem falência. E agora, estando quase ultrapassada a pandemia, as marcas também sentem alguma dificuldade em conseguir prosperar, tendo que fazer grandes esforços para voltar a ser o que era. Contudo, não é o caso do grupo em que trabalha Andreia – “continuámos a crescer a dois dígitos”, revela. Isto porque desenvolveram uma estratégia de segmentação, fizeram um “rebranding total” à marca, criaram um “plano de lançamentos de inovação” e reforçaram a sua distribuição numérica.

O crescimento do retalho alimentar também contribuiu para que a Frutorra tivesse números bastante positivos, sendo estes até acima do total do mercado. Atualmente, devido também à inflação, as vendas na área da alimentação têm crescido exponencialmente e, de acordo com o Dinheiro Vivo, no último ano houve um crescimento de 9,6%. Em fevereiro, a Frutorra foi eleita, mais uma vez, como escolha do consumidor na categoria de frutos secos, o que comprova que a aposta da marca está a dar frutos e os portugueses escolhem o seu produto. Desde a sua fundação que o posicionamento da marca se foca na qualidade e processo de transformação dos seus produtos, possuindo as certificações HACCP e IFS.

De acordo com a revista Grande Consumo, a Frutorra é a marca líder de mercado e cresceu, em 2022, 13% em vendas, alcançando, pela primeira vez, um volume de faturação de 30 milhões de euros. Foi no mesmo ano, que a marca se juntou ao “Too Good To Go”, um movimento que contraria o desperdício alimentar ao vender produtos mais baratos por se encontrarem no final da data de validade ou por serem do dia anterior.

A diretora comercial confessa que o maior desafio profissional é o atual, ou seja, o cargo que desempenha na Frutorra. Andreia Agostinho refere que desenvolveu uma relação emocional com a marca, uma vez que trabalhou, desde o início, no seu “rebranding” e na construção da sua estratégia de marketing. No entanto, o maior aspeto desafiante é a gestão das pessoas, uma vez que a marketeer considera ser uma grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, gratificante. Apesar dos inúmeros desafios que já lhe surgiram, nos diferentes cargos que já desempenhou, o maior vai ser aquele que vai de encontro à sua valorização profissional e valores pessoais.

“Algo muda quando nos sentimos realmente parte de algo, numa empresa onde somos valorizados pelo contributo que o nosso trabalho oferece e que tem uma cultura alinhada com os nossos valores pessoais”

Atualmente, Andreia é vista como uma líder, mas a mesma nunca ambicionou alcançar esta posição e tudo acabou por acontecer naturalmente. A marketeer afirma que não se deve trabalhar para alcançar uma posição de destaque, mas sim “focar-nos no que estamos a construir e desfrutar dessa viagem”. É um dos conselhos que Andreia deixa a mulheres em início de carreira, mas não é único. A mesma considera que é bom ter ambições e objetivos, mas, independentemente disso, cada uma deverá dar o melhor de si todos os dias, tornando o crescimento mais autêntico e natural – “assente em pequenas conquistas e em alguns fracassos que nos ajudam a evoluir pelo caminho”, acrescenta.

Andreia Agostinho não considera que existem líderes perfeitos, mas a característica que mais defende num é a “capacidade de sermos justos, connosco e com os outros”. Isto porque um líder também erra e tem de ter a capacidade de assumir os seus erros, para além de assumir uma atitude transparente e empática, de modo que possam estar rodeados “de pessoas igualmente empenhadas”, afirma.

“Um líder sem nada ou ninguém para liderar perde o seu propósito”

As pessoas são o ponto central de qualquer mudança ou crescimento, estando incluído o caminho que se faz para alcançar uma maior igualdade de género. Hoje, uma mulher em posição de destaque ainda é considera notícia, mas, para Andreia isso é uma coisa positiva e já se estão a verificar algumas mudanças – como, por exemplo, “na disparidade salarial entre homens e mulheres, para posições equivalentes”.

“Mais do que nos focarmos em impor a diversidade e inclusão nos cargos de chefia, devemos cumprir o nosso papel na sensibilização”, afirma a diretora comercial e de marketing. Este papel de sensibilização passa por demonstrar que existem grandes vantagens numa liderança feminina, em que a nova realidade passa por adotar um sistema meritocrático (valorizar unicamente o mérito para alcançar cargos de topo).

Já existem empresas a praticar este sistema e, por isso, o caminho já está a ser percorrido, mas o mesmo ainda se demonstra longo até à meta, uma vez que existem muitas outras que não apresentam uma posição inclusiva e de valorização do mérito como pessoa e não como homem ou mulher.