Sendo filha de médicos, o ambiente de consultório e hospital foi sempre uma constante nas memórias de Isabel Lima. Assim, não admira que o fascínio pela área a tenha conduzido às ciências farmacêuticas. Atualmente, é CEO da Clínica Digital, um projeto que une a saúde ao marketing, as suas duas grandes paixões.
“A saúde sempre fez parte da minha vida”, revela Isabel Lima. Ao contrário da maioria das crianças, a ida ao senhor doutor nunca foi motivo de ansiedade. Cresceu rodeada por estetoscópios e batas, mas, contrariamente às expectativas, medicina nunca foi uma opção. Era boa aluna, só que alguns aspetos, como “o sangue, o toque no corpo humano doente” e as “visualizações do sofrimento” determinaram a decisão de não querer seguir as pisadas dos pais. Isabel Lima resolveu, então, trilhar o próprio caminho, ingressando na licenciatura em ciências farmacêuticas. Além de fascinada por “saber mais sobre os medicamentos e entender como contribuem para a saúde”, a líder tinha o sonho de abrir a sua própria farmácia. Todavia, como nem tudo são rosas, ao concluir o curso, a falta de capitais próprios e de concursos para obter um novo alvará impediu a concretização desta ambição.
Quando uma porta se fecha, às vezes abre-se uma janela, e foi isso mesmo que aconteceu a Isabel. Surgiu a oportunidade de se dedicar à formação profissional de farmacêuticos e técnicos de farmácia, que agarrou afincadamente. Lá se aventurou nesta experiência, que se traduziu na descoberta de uma paixão, que já vinha sendo alimentada pelas vezes em que servia de “professora” das irmãs mais novas.
“Percebi que podia contribuir para que outros pudessem crescer como profissionais”
Ao longo do tempo, foi assimilando que “vender em farmácia é mais do que a simples transação de um produto”. É necessário reconhecer as necessidades de quem procura um produto, sendo fulcral “destacar os seus benefícios e vantagens para o cliente”, afirma Isabel Lima. Ora, com esta visão, não admira que o marketing tenha surgido na sua vida num piscar de olhos. Desde logo percebeu que obter conhecimentos e aplicá-los nas farmácias era algo que adorava, como, por exemplo, tratar da comunicação das campanhas promocionais e o destaque nas montras.
Dado que Isabel se manteve envolvida na formação profissional, achou que fazia sentido aprimorar os estudos, para ser uma melhor profissional e ensinar de forma mais eficaz. Foi desta forma que realizou a pós-graduação em Marketing Digital, no Instituto Português de Administração de Marketing. Contudo, como a sede por conhecimento não cessou por aí, a líder lançou-se ao mestrado em Gestão de Marketing, que concluiu com sucesso.
Esta busca incessante por se manter informada e atualizada é algo que tenta apelar às próprias equipas com quem trabalha. “Acredito ser essencial estarmos atentos às mudanças e antecipar os próximos passos”, diz. No entanto, salienta que “liderar uma equipa, mesmo que pequena, apresenta sempre desafios”, e “não é a formação académica por si só que nos fornece as ferramentas necessárias”. É por isso que, aliado às técnicas e teorias lecionadas, Isabel Lima tenta também transmitir alguns valores aos seus formandos. Incentiva a que não se contentem com o básico, pois “o básico, qualquer um faz”. Apela sim a um “trabalho acima da média”, pautado pela “responsabilidade e profissionalismo”. Olhando para todo o seu percurso até então, a líder confidencia que, quando se formou em ciências farmacêuticas, a ideia de conciliar marketing e saúde parecia “estranha”. No entanto, com o tempo, rapidamente compreendeu que “a saúde não pode prescindir do marketing”. Desde então, dedica-se “de corpo e alma” ao que faz, demonstrando que é possível dois campos tão opostos encontrarem um espaço em comum, coexistindo de forma harmoniosa.
“O marketing pode contribuir para o crescimento das instituições de saúde, sobretudo num mercado cada vez mais global”
Aos seus olhos, é imprescindível “tornar acessível o conhecimento em saúde”, apostando no potencial do digital para chegar aos mais novos e mais velhos, tendo sempre o cuidado em adequar o discurso ao público-alvo. Isabel Lima vai ainda mais longe, defendendo a presença da literacia em saúde desde o Ensino Básico, adaptando a cada ciclo de aprendizagem escolar.
Há uma década que Isabel Lima abraçou um projeto pessoal, a Clínica Digital, onde desempenha as funções de CEO. A ideia nasceu da perceção de um fato simples: apesar da crescente proliferação de agências de comunicação e marketing, sentiu que “existia um nicho de mercado carente de um trabalho específico e especializado”, sendo, no caso, a saúde. Além disso, acreditava que o marketing digital iria desempenhar um papel crucial no sucesso do modelo de negócio das farmácias e das clínicas.
Na Clínica Digital, há valores inegociáveis sobre os quais assenta todo o profissionalismo: “experiência, ética e rigor” são alguns deles. A equipa é composta por profissionais com uma vasta experiência em saúde e marketing, sendo essa ligação entre as duas vertentes que Isabel considera ser o que os distingue do resto do mercado. Rodeiam-se também de profissionais com competências diferenciadoras em setores distintos, e continuam a colaborar com especialistas da área da saúde.
A Clínica Digital garante que a integridade dos profissionais nunca seja comprometida, seguindo criteriosamente os princípios éticos que regem o setor da saúde. O objetivo primordial é que “o nosso utente adira à terapêutica recomendada pela Clínica Digital, sem esquecer a importância da monitorização constante”, assegura Isabel Lima.
Trabalhar com pessoas proporciona a oportunidade de vivenciar diversas experiências. Este ambiente representa um desafio constante, que Isabel crê que a impulsiona, assim como aos seus colaboradores, a “aprimorar constantemente as competências, profissionalismo e conhecimento”. Reconhece que a ausência de filhos permite dedicar o seu tempo inteiramente à empresa e à equipa, tornando-os uma “prioridade”. “Costumo afirmar, de forma sincera, que a ambição que deposito na Clínica Digital visa não apenas o seu crescimento, mas também o desenvolvimento pessoal e profissional de cada um dos membros da equipa. Acredito que todos devem ser devidamente recompensados pelo seu esforço e dedicação. Essa é a minha ambição: alcançar sempre mais. Para mim e, sobretudo, para a equipa”, declara.
Quando questionada sobre o maior desafio da sua carreira, Isabel Lima não nega: “o maior desafio deve ser sempre o próximo”, quer seja “o próximo cliente, o próximo projeto, a próxima ação de comunicação”. Acorda todos os dias com o pensamento que “hoje tenho de ser melhor do que ontem”, e é por essa razão que tem em vista o lançamento de novos projetos, a criação de mais empresas e a exploração de novas áreas de atuação.
“O mundo evoluiu, e a comunicação não pode ser realizada como era há 20 anos, nem mesmo há cinco. Quem não compreender esta realidade está condenado à mediocridade”
Enquanto mulher num cargo de liderança, a CEO sente que a sua capacidade nunca foi posta em causa, embora “essa realidade” tenha incomodado “algumas pessoas”. Graças à forma leve de encarar a vida, a líder transformou o desconforto em combustível para “servir de motivação para fazer mais e melhor”. É da opinião de que, apesar de se registar uma evolução significativa no papel da mulher em posições de topo e liderança nas empresas, “frequentemente, a presença de uma mulher como interlocutora ainda provoca desconfiança em alguns clientes”.
Crê que esta é “uma realidade que persiste na sociedade portuguesa”, ainda que, nas suas colaborações, afirme que “o género nunca foi um problema”, até porque “o mundo farmacêutico é dominado pelo sexo feminino”. Para si, é simples: “ser ou não mulher nunca foi preocupação para mim enquanto profissional e enquanto recrutadora! O essencial é ser um exemplo para quem trabalha comigo diariamente (…)”. Diz aos seus colaboradores que “liberdade é igual a responsabilidade”, não concordando que a rigidez esteja associada ao aumento de produtividade. É, sim, fulcral frisar que esta liberdade traz consigo uma responsabilidade acrescida, seja para com a empresa, os colegas ou os clientes. Isabel Lima assegura que tudo isso é realizado sem se preocupar com a igualdade de género, pois é “irrelevante no dia a dia”. Para a CEO, uma líder ideal guia pelo exemplo, trabalho e capacidade de cativar e motivar os colaboradores. Sublinha que, “quem tenta impor a autoridade nunca será verdadeiramente um líder; pode ser seguida por medo, mas nunca por respeito ou admiração”. Deste modo, prefere apostar numa liderança que “inspira e incute confiança na equipa”, promovendo “um ambiente de colaboração e respeito mútuo”. Isabel Lima destaca ainda outras componentes que julga serem fundamentais, tais como a empatia, integridade e capacidade para escutar e valorizar as opiniões dos colaboradores.