Com mais de duas décadas dedicadas à reinvenção de marcas, unidades de negócio e culturas organizacionais, Marta Mota prova que liderar pode (e deve) ser um ato de empatia, estratégia e paixão. Head of Brand & Business Unit Director num dos grupos de referência em retalho e FMCG, partilha connosco um percurso feito de desafios, conquistas e decisões que continuam a moldar o futuro.
O percurso profissional de Marta Mota começou no setor do retalho, onde rapidamente se destacou pela forma como coordenava equipas e geria operações. Foi desafiada a assumir funções de direção, aplicando uma abordagem estratégica, orientada para resultados e sempre com foco no impacto positivo.“Sempre que me foi dado um projeto complexo, vi ali uma oportunidade de fazer diferente, de entregar mais e melhor, sempre com propósito.”
Entre os momentos mais marcantes destaca-se a criação de novas unidades de negócio na Zippy. A transformação do conceito, produto e organização interna trouxe resultados extraordinários e um crescimento exponencial da marca. Outro exemplo inspirador foi a liderança de um programa global de SAP que envolveu mais de 100 colaboradores na estrutura central. A sua gestão centrada nas pessoas promoveu uma transição fluida e empática, reforçando a importância de cuidar e orientar equipas ao longo da mudança.
“Gerar impacto positivo com energia e coração — é isso que me move.”
Mudança organizacional: pessoas no centro
A sua experiência em transformação global evidenciou que o verdadeiro desafio não está nos processos ou sistemas, mas nas pessoas. Cada colaborador deve sentir-se parte ativa da mudança. Segundo a entrevistada, tudo começa pela escuta ativa e pela comunicação clara e empática. “Quando ouvimos com atenção, explicamos com empatia e mostramos o propósito maior… a resistência transforma-se em colaboração.” No projeto P2P, a sua liderança permitiu reduzir o tempo de estabilização de três meses para apenas um, graças ao planeamento rigoroso, à escuta sensível das equipas e à construção de cenários realistas adaptados ao ADN de cada marca envolvida. “Criei pontes e ambientes de confiança — é aí que nasce o verdadeiro compromisso.”
Gerir B2B e B2C: escuta, análise e empatia
Trabalhar simultaneamente em mercados B2B e B2C exige uma abordagem estratégica diferenciada. No B2C, o foco recai sobre a experiência emocional do consumidor; no B2B, a atenção está na rentabilidade, agilidade e construção de relações sólidas. “No B2C, precisamos tocar o coração do consumidor. No B2B, é um jogo de empatia e escuta.” A observação em loja torna-se uma ferramenta rica: entender como o cliente se movimenta e interage permite ajustar a proposta de valor com precisão. A estratégia nasce da escuta e da análise de comportamento, tendências e números reais. “Quando todos se sentem ouvidos, as soluções ganham corpo com mais fluidez.”
Liderança com intenção: criar espaços para o brilho coletivo
Liderar equipas exige mais do que conhecimento técnico: exige paixão por pessoas. A executiva defende uma liderança com propósito, onde o talento emerge num ambiente de clareza, flexibilidade e alegria. “Lidero com o coração e com a intenção clara de fazer os outros brilhar.” Conta que a sua primeira experiência como líder foi desafiante — era chefe das ex-colegas. Aprendeu, cresceu e hoje investe fortemente no desenvolvimento pessoal. Celebra conquistas, escuta com presença e motiva com autenticidade. “Equipas felizes fazem marcas fortes. É essa vibração que cultivo todos os dias.”
Liderança feminina: autenticidade e coragem
Ser mulher num setor exigente é, ainda hoje, sinónimo de desafios particulares. Depois de ser mãe, regressou à empresa e descobriu que não tinha departamento. Foi um momento difícil, mas também um ponto de viragem. “Não tinha lugar… mas lutei, entreguei como nunca e reconquistei o meu espaço.” Reconhece que muitas vezes são as próprias mulheres que duvidam do seu estilo de liderança, catalogando negativamente características que admiram nos homens. Mas aprendeu a confiar na sua forma empática, intuitiva e assertiva de liderar. “Acredito que o mundo está mais preparado para abraçar lideranças mais humanas e conectadas.” Integra o movimento G100, que promove a presença feminina em lugares de liderança e defende que abandonar o modelo “comando e controlo” foi uma das maiores transformações da sua vida como líder. “Liderar com alma é possível. Ser autêntica é a maior força que temos.”
Marcas com alma: relevância cultural, comercial e emocional
Como Head of Brand, acredita que marcas fortes nascem de dentro — têm alma, coerência e propósito. Redesenhou a loja CODE de Valongo para refletir simplicidade, proximidade e autenticidade, o que resultou num crescimento de 70 pontos percentuais face às restantes lojas logo nos primeiros dois meses. “Uma marca relevante conecta-se com a vida real das pessoas, escuta, evolui e permanece autêntica.”
Para Marta, o paradigma tradicional — produto certo, preço certo, quantidade certa — já não é suficiente. É preciso sentir o momento, sentir o público e alinhar a energia da marca com a sua essência para que a conexão aconteça de forma natural. “A marca tem de ser um organismo vivo, sempre relevante e conectado.”
Vida profissional e pessoal: equilíbrio é presença
Liderar projetos globais exige disciplina e foco, mas também espaço para o lado pessoal. Para esta mulher, equilíbrio não significa dividir tempo de forma matemática, mas estar presente com verdade e intenção em cada momento. “Sou mãe, líder e mulher. Adoro os meus papéis e não abdico de nenhuma dessas dimensões.” Protege o seu tempo, cuida da sua saúde física e emocional e estabelece limites claros. Partilha um episódio marcante: interromper uma reunião de board para atender uma chamada urgente do filho. “Não me cobrar e comunicar os meus inegociáveis tem sido uma das máximas que funciona comigo.”
Às mulheres que lideram — ou sonham liderar — deixa uma mensagem poderosa: “Define o teu sucesso, não te compares. Cuidar de ti é um ato de liderança. E não tenhas medo de brilhar.”
