Com um currículo escolar internacional, nunca planeou viver em Portugal. Mas a vida não segue planos. Responsável pelas empresas da holding familiar, contactou com diversas áreas e aprendeu com todas. Apaixonada pela escrita e o ensino, fez parte da fundação do 1º think thank liberal português e da EPIS, uma associação de combate ao abandono escolar.
Teresa Roque, devido ao percurso de vida dos pais, teve um percurso académico muito internacional. Tirou a licenciatura em Política, Filosofia e Economia na Universidade de Oxford, no Reino Unido e fez o mestrado em Economia e Política Europeia na Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Por isso mesmo, nunca sonhou viver em Portugal, mas a vida não obedece a nenhum plano. O seu trajeto profissional foi tudo menos linear, explorando diversas áreas. Foi consultora, deu aulas, exerceu vários cargos executivos e não executivos nas empresas da Holding Familiar, desde o setor financeiro ao imobiliário. Foi membro fundador do Instituto Mais Liberdade, o primeiro think thank liberal em Portugal, mas atribui todo o mérito aos restantes fundadores – Carlos Guimarães Pinto, Carlos Moreira da Silva e Adolfo Mesquita Nunes, “os grandes impulsionadores da ideia.”
Para além disso, foi ainda uma das fundadoras da Empresários Para a Inclusão Social (EPIS), em 2002, que se dedica ao combate ao abandono escolar. Em 1990, o abandono escolar precoce em Portugal rondava os 50%. Atualmente está nos 10,6%. O contacto com vários setores permitiu alargar os seus conhecimentos e aprender a trabalhar com pessoas de várias áreas e a vários ritmos. “Habituei-me à mudança e às surpresas que a vida nos traz.”
De momento, acompanha as empresas da holding familiar. Faz também parte do Conselho de Administração St Julian’s, que frequentou no liceu. Integra os comités de Estratégia, Alumni, Fund-Raising e Estruturas. É ainda colunista dos jornais Observador e ECO. Adora escrever sobre política, assuntos sociais e económicos , já que tem “opiniões muito vincadas”.
Adorar o que faz é o segredo para conseguir conciliar tudo, admite Teresa. “Não sou uma super-mulher. Não sou de todo. Faço o que gosto.” Teresa sempre adorou estudar, escrever e aprender mais – “quando via uma lacuna na minha formação, tentava colmatá-la.” Conta até que passou um ano a estudar matemática e estatística porque planeava fazer um doutoramento em Economia. “Foi o ano mais miserável da minha vida… mas aprendi”, confessa.
“Na minha geração já não havia empregos para a vida – só no setor público. Na geração dos nossos filhos essa tendência irá acentuar-se cada vez mais. Com as mudanças tecnológicas cada vez mais acentuadas, num mundo cada vez mais globalizado e competitivo, futuras gerações vão ter que se habituar a viver com mudanças. ‘Life-long learning’, ‘reskilling’ e ‘upskilling’ vão estar na ordem do dia”, explica Teresa.
No entanto, a escola não ensina tudo. “A vida é a grande escola, como o meu Pai costumava dizer.” É necessário aprender constantemente, ter espírito crítico, saber trabalhar em equipa e “saber tirar partido das oportunidades que vão surgindo.” Nunca fez planos muito detalhados para o futuro, mas sempre pensou que iria dar aulas ou acabar na política. Estava inscrita no doutoramento em Ciências Políticas no Instituto de Ciências Políticas, na Universidade Católica, quase a iniciar a tese de Doutoramento, quando o seu pai faleceu e teve de assumir responsabilidades nas empresas.
Nessa altura, admite que sabia pouco sobre a Banca “ e ainda menos de Seguros. O que me ajudou foi a minha formação, a minha autoconfiança e a facilidade que tenho em adquirir novos conhecimentos.” Teve ainda “uma excelente equipa” a acompanhá-la, que a ajudou no percurso. Assumir os novos cargos foi um desafio: “Encontrei uma gestão já no seu terceiro mandato, muito enraizada na forma de fazer as coisas e que achava as minhas perguntas incómodas. Tinha a sensação de que me ‘aturavam’ porque tinha que ser”, conta. Não sabia se era apenas por ser mulher ou por ser bastante jovem. O setor financeiro é particularmente conservador e principalmente dominado por homens. Em Portugal, ainda existe culturalmente muito machismo, para o qual Teresa diz não ter paciência nenhuma.
Na sua turma de MBA para executivos em Oxford, que tirou em 2017, apenas 12% eram mulheres – “fiquei chocada quando lá cheguei.” Acrescenta ainda mais alguns números: apenas 41 mulheres lideram empresas que integram o índice Fortune 500 nos EUA, o que representa 8%; só 29 mulheres são chefes de Estado ou de Governo, num universo de 195 países; globalmente só existem 25% de mulheres no parlamento, quando metade da população mundial são mulheres. “ Não são números muito animadores.”
Apesar disso, Teresa questiona se o Dia Internacional da Mulher vale a pena. Prefere ações práticas e resultados concretos. “Continua a existir muito machismo, como existe racismo, homofobia etc.
Provavelmente, nunca iremos erradicar por completo estes sentimentos de mentes pequenas e menos elucidadas, mas temos que as combater diariamente. “ Assim, mais do que o dia em si, Teresa apela à melhoria das condições que existem para a mulher, de forma a conciliar o papel familiar com o trabalho, que ainda é “ um grande entrave para as mulheres aceitarem lugares de maior responsabilidade” ou até mesmo serem promovidas. “ Geralmente a maternidade é um momento muito disruptivo na carreira das mulheres. Conciliar os dois papéis não é fácil”. Teresa admite que nunca ocupou um lugar executivo nas maiores empresas do Holding Familiar por esse mesmo motivo – “um bom gestor ou empreendedor tem que estar disponível 24/7. Gosto de chegar a casa cedo e jantar com os meus filhos. Gosto de ter os meus fins de semana livres.” Acrescenta ainda que odiaria estar à frente de uma empresa no Índice Fortune 500, ressalta que os 8% mencionados anteriormente não são, de todo, um número representativo. Um lugar de topo depende da perspetiva de cada um e dos seus objetivos pessoais: “não devemos alimentar estereótipos’‘, afirma. É necessário não só valorizar as administradoras de grandes empresas, chefes de estado ou governo, mas também as mulheres que todos os dias se sacrificam para melhorar a vida dos outros”, como professoras primárias que mudam a vida dos alunos ou médicas que salvam vidas diariamente, sem nos esquecermos ainda das mães dedicadas.
É essa ideia que tenta transmitir à sua própria filha, quando lhe diz: “não penses no lugar que queres atingir, mas no que gostavas de fazer.” A chave é sonhar, ambicionar e investir no conhecimento e no autoconhecimento de si própria. Saber o que queremos implica tentar e errar, a perfeição não é o objetivo, o resto virá por acréscimo: “Não tenhas receio de pedir ajuda. Procura ser confiante e resiliente. Ajuda quem puderes. Cuida de ti. Procura ter uma vida equilibrada. Mas, acima de tudo, procura ser feliz.” É esse o conselho que deixa também para todas as mulheres.