GERIR O TEMPO PARA “VIVER EM VEZ DE SOBREVIVER”

Joana Rei Duque, Dentista e Coach
Joana Duque é médica dentista há mais de 15 anos, casada e mãe de três filhos. Quando a vida lhe mostrou que pode ser efémera, decidiu aproveitar cada dia da melhor forma e ajudar todos à sua volta a fazer o mesmo, tornando-se formadora e coach.

 

Sempre foi uma mulher ativa, que fazia “1001 coisas e atividades”. É médica dentista há mais de 15 anos e quando era jovem sonhava seguir medicina na faculdade – duas décimas mudaram o seu percurso. Depois de assistir a consultas dos alunos de 6-º ano de medicina dentária apaixonou-se pela profissão. “Percebi que é uma ocupação em que somos médicos, psicólogos, engenheiros, artistas e que podemos mudar a vida de uma pessoa”, diz.
Em 2014, descobriu que tinha um tumor na cabeça. Esta nova realidade fê-la repensar a vida e na postura perante o tempo que lhe sobrava. “Todos sabemos que não somos eternos, mas só quando essa realidade se torna presente é que realmente despertamos”, conta. A partir daí, definiu como prioridade gerir melhor o seu tempo, de forma a aproveitar a existência ao máximo. Leu sobre coaching, gestão de tempo e produtividade e percebeu que muito do que aprendeu já colocava em prática.

Em 2018, decidiu partilhar o seu conhecimento e começou a dar formação de forma independente. Tem atualmente disponível vários cursos online e ebooks sobre temáticas de produtividade e gestão de tempo. Joana acredita que uma boa gestão de tempo pode mudar por completo a forma de viver o mundo: “Passamos a viver em vez de sobreviver”, afirma.

Médica dentista, formadora, coach, casada e mãe de três filhos, tem de colocar em prática o que ensina para gerir o seu próprio tempo. O segredo: não ser perfecionista. É também essencial aceitarmos que não conseguimos ser perfeitas a toda a hora – “quando sou mãe, sou mãe, quando sou dentista, sou dentista e quando sou formadora, sou formadora. E falho algumas vezes, mas aceito isso sem culpas. É o que é”,
admite a formadora.

Este conselho é dirigido principalmente para as mulheres que têm de desempenhar vários papéis ao longo do dia. Joana revela que muitas das suas alunas e clientes se remetem para último lugar, quase sempre inconscientemente, o que se torna perigoso.
Nos dias de hoje, em que o quotidiano se desenvolve a um ritmo frenético e exaustivo, é complicado gerir o dia-a-dia para conseguir fazer tudo. Segundo Joana, um dos principais erros na gestão de tempo do quotidiano é a falta de clareza para assimilar que o que fazemos de uma forma automática, sem pensar, não precisa de ser feito da mesma forma e deve ser alterado caso não nos faça bem.
Por outro lado, muitas vezes também não refletimos o suficiente para sabermos o que gostamos de fazer, quais são os nossos objetivos e com o que devemos preencher o nosso dia. Por fim, um grande erro é achar que é impositivo ser perfeita. “Não sou, nem quero ser supermulher”, e acrescenta que ninguém deveria tentar ser. Todas estas falhas combinadas perturbam a nossa clareza para definir prioridades. Não ter tempo para nós próprios, a falta de autocuidado, pode ter também consequências graves.

Atualmente, um possível inimigo da produtividade é o telemóvel. O scroll infinito pelas redes sociais ou o desperdício de tempo com conteúdo frívolo tornou-se parte do dia-a-dia de muitos. “O problema surge quando o usamos de uma forma incessante e quando não sabemos parar. “O telemóvel deve ser utilizado como um ajudante da produtividade”, e para isso devem-se adotar alguns hábitos saudáveis, como por exemplo não o não utilizar nos 30 minutos antes de ir dormir. Ficar longe dos ecrãs tornou-se uma tarefa mais complicada com o teletrabalho. O escritório invadiu a nossa casa e dividir a vida pessoal da profissional representa um desafio. Reconhecendo essa adversidade, Joana criou um programa online dedicado a essa temática.

Segundo a formadora, o mais importante é criar rotinas com horários a cumprir– definir horas para começar e terminar o trabalho, fazer pausas para o almoço e o lanche. Pode também implicar criar rituais de transição, como continuar a beber um café antes de começar a trabalhar, mesmo que se não saia de casa. É também importante separar fisicamente o trabalho indoor, mesmo que não exista uma divisão específica que sirva como escritório, deve-se guardar as coisas de trabalho quando terminar. “Todos estes aspetos são essenciais para dizermos ao nosso cérebro quando estamos em modo trabalho e em modo casa”, conclui Joana.

No final de contas, para cada pessoa existe uma estratégia diferente que funciona. É necessário experimentar e perceber qual se encaixa na sua vida. Forçar estratégias erradas é predeterminar o fracasso. A internet está repleta de métodos e planos de rotinas produtivas, que qualquer um pode experimentar. Umas mais fáceis que as outras – há quem aconselhe acordar às cinco da manhã para ter um dia verdadeiramente produtivo. Para Joana Duque, o essencial é ativar a mente e o corpo, seja com meditação, exercício físico ou apenas ler. “Não acredito em fórmulas mágicas que funcionam para todos”.