Desde que se lembra, Filipa Tomás, sempre quis ser psicóloga. A fascinava a mente humana, a forma como pensamos, sentimos e nos motivamos. No entanto, a falta de resiliência e a imaturidade fizeram-na abdicar desse sonho e optar por uma licenciatura em Gestão Turística e Cultural. Embora enriquecedor, esse percurso trouxe uma grande lição: a carreira e a formação são responsabilidades pessoais, e nunca é tarde para correr atrás dos sonhos. Com o tempo, descobriu que a sua verdadeira paixão residia na liderança de equipas, no desenvolvimento pessoal e no alto rendimento. Hoje, assume o comando da sua jornada, inspirando outros a fazer o mesmo e quer dar voz a funções e pessoas que ainda não são valorizadas.
Foi assim que acabou por se licenciar em Gestão Turística e Cultural. E, embora tenha sido um percurso enriquecedor, durante muito tempo carregou a desilusão de ter desistido do sonho da Psicologia. No entanto, essa revolta tornou-se numa grande lição: percebeu que a carreira e a formação são responsabilidade própria, e que não há idade nem limite para ir atrás dos sonhos. Com o tempo, compreendeu que a sua paixão ia além da Psicologia – o que realmente a movia era a liderança de equipas, a auto liderança, o desenvolvimento pessoal e o alto rendimento. “O impacto que podemos ter nas pessoas, na forma como trabalham, crescem e superam desafios, é o que realmente me motiva. A minha missão é o desenvolvimento pessoal e alto rendimento das nossas pessoas” afirma.
Essa experiência fez-lhe perceber algo ainda mais importante: seria transformador se pudesse escolher a formação académica depois de já ter vivido o mercado de trabalho. “Como poderia eu, aos 18 anos, saber que o meu verdadeiro propósito não era apenas a Psicologia, mas sim a Psicologia aplicada à liderança?” questiona ela. Hoje, essa experiência guia as suas decisões. “Sei que os sonhos não expiram, que a paixão não se esgota e que a liderança começa dentro de nós. Cabe-nos assumir o comando e construir o nosso próprio caminho,” conclui.
O Maior Desafio
O maior desafio que encontrou na sua carreira? Manter-se fiel a si mesma. Ao longo do seu percurso, enfrentou muitos desafios não apenas por ser mulher, mas também por ser mulher. O mercado tem dupla personalidade: tanto é café quente como chávena fria. Tanto já teve habilitações a mais como se sentiu insuficiente. Tanto lhe disseram que tinha tudo para crescer como nunca lhe deram sequer a oportunidade de se apresentar numa entrevista.
E ficaram muitos “e se…” pelo caminho. “E está tudo bem,” afirma Filipa com serenidade. “O mais difícil de tudo foi aprender a filtrar as opiniões, os julgamentos, as críticas, os conselhos que chegam de todos os lados. Porque, no retalho alimentar, o barulho é constante e, às vezes, no meio desse ruído, esquecemo-nos de ouvir o mais importante: o nosso próprio coração.” Depois, se és uma mulher ambiciosa, percebes rapidamente que precisas de provar o teu talento com muito mais vigor para chegares lá. “Não sou de vitimizações, mas a verdade é esta: ainda hoje, é mais natural e fluido para um homem assumir um papel de liderança do que para uma mulher. Uma mulher a puxar paletes? Uma diretora de loja a dar um murro na mesa? O que seria! Mas é. Acontece. E há grandes mulheres líderes que, todos os dias, se impõem e fazem a diferença, de norte a sul do país, em todas as cadeias de negócio.” O maior desafio foi não se perder no meio disto tudo. E, acredite, não há desafio maior do que sermos fiéis a quem realmente somos.
Equilíbrio entre Vida Profissional e Papel de Mãe
Em primeiro lugar, esta deve ser a pergunta que mais faz mães perderem lugares de liderança no retalho. Medo. Medo interno. Pressão externa. Mas é preciso mudar a perspetiva. Não se trata de “Como é que eu vou fazer acontecer, sendo mãe?”. Trata-se de “Eu vou fazer acontecer porque sou mãe.” Tudo a que nos propomos e até os próprios objetivos estratégicos de uma empresa tornam-se mais fáceis de alcançar quando têm um propósito claro. “Os OKRs provam isso: definimos metas, medimos resultados e alcançamos objetivos. E a minha grande meta? Ser líder no retalho porque sou mãe. Porque tenho dois filhos. Porque eles são a razão, nunca a desculpa.” E atenção: não tem rede de apoio por perto. Mas a sociedade continua a apontar o dedo às mães e pais que deixam os filhos em ATL’s ou em atividades de enriquecimento curricular. Como se fosse um crime dar-lhes experiências que os fazem crescer. “O que sobra às mães? Pressão e culpa. O que eu faço? Luto contra isso. Sou mãe, sou profissional e dou o meu melhor em ambos os papéis. Peço ajuda sempre que preciso. Não sou heroína. Não uso capa. Não faço tudo sozinha. E mais: não espero que adivinhem. Digo. Peço. Delego. A parentalidade é um trabalho de equipa. Mas a equipa só funciona quando há posicionamento. Eu sou mãe. Mas também sou mulher. E também sou profissional. E não abdico de nenhum dos meus papéis. Acordo mais cedo para cuidar de mim, agilizo agenda com o meu marido quando preciso de fazer viagens de trabalho, negoceio horários quando tenho formações para fazer. Trabalho de equipa é comunicação.”
Inspirações e Mentoras
“As minhas maiores inspirações não foram necessariamente nomes conhecidos ou figuras intocáveis. Foram as pessoas reais, as que vi no terreno, as que me mostraram, na prática, o que significa ser líder.” Teve o privilégio de trabalhar com mulheres brutalmente inspiradoras. Mães com dois trabalhos. Mães solteiras. Mulheres que nunca quiseram ser mães. Mulheres que queriam ser mães, mas não conseguiram. Mulheres que sonhavam ser managers, mas não tinham coragem para o dizer. Mulheres que, quando era para fazer, davam a volta ao mundo. Mulheres com garra de leão, territoriais, incansáveis, donas de um conhecimento que enche de orgulho. Mulheres anónimas, sim, com profissões no retalho mas que merecem o nosso respeito e valorização.