Rita foi jornalista durante uma década, mas foi na comunicação empresarial que encontrou a sua vocação. Ceo da AMP Associates conta-nos como ajudou os seus clientes a lidar com a crise sanitária e revela alguns conselhos para o sucesso do futuro do tecido empresarial português pós-covid.
Rita foi jornalista da SIC por mais de uma década. Passou pelos papeis de coordenadora e diretora editorial de vários programas televisivos. Foi nessa estação televisiva que descobriu o gosto pela comunicação, enquanto ainda tirava a licenciatura em marketing e publicidade. Quando terminou o curso, viajou para Nova York para aprofundar os seus co- nhecimentos em televisão e broadcast com uma pós-graduação.
Após anos a trabalhar na área, percebeu que o seu caminho não estava no jornalismo, mas sim na comunicação empresarial, onde poderia trabalhar em temas de maior interesse como estratégia, gestão de crise e desenvolvimento de competências de líderes.
Apesar da mudança de rumo, a escrita foi-se adaptando às diferentes fases profissionais. É algo que sempre lhe deu muito gosto e que não pretende abandonar. “Quem sabe chegue um dia a vez de um romance …”, sonha Rita.
Depois do jornalismo trabalhou na área da comunicação empresarial e institucional. Em 2011, tornou-se conselheira de comunicação do ministério da economia. Uma missão complicada, tendo em conta a situação socioeconómica que estava a ser ultrapassada, mas que Rita se orgulha bastante. “Poder contribuir para que os governantes pudessem da melhor forma informar sobre questões estruturais que impactam a vida de muitas pessoas, nem sempre fáceis de explicar e acolher, é um enorme desafio e uma enorme responsabilidade”, afirma.
Em 2015, saiu do cargo e tornou-se uma das sócias fundadoras da AMP Associates, empresa da qual é atualmente CEO. A AMP, acrónimo de ampliar e amplificar, foi criada no seguimento da crise de 2011-2015 e pretendia corrigir os erros das inúmeras empresas que não sobreviveram à crise e dar respostas às que procuravam a solução nos mercados externos. “Percebi que essas empresas não tinham nenhuma organização a apoiá-las na comunicação internacional e que isso era fundamental para se darem a conhecer e gerarem negócio”, explica a CEO.
Fruto de experiências profissionais anteriores, percebeu também que se perdia por “ineficácia e desajustamento dos gestores e empresários face às estratégias de comunicação das suas organizaões”. Nesse sentido, prepararam simultaneamente um programa com o objetivo de desenvolver competências nos líderes para dar uma resposta mais humana e mais eficaz ao mercado. Hoje os líderes estão mais preparados, sabem que têm de ser presentes no mundo digital, de manter proximidade com os colaboradores e estarem aptos a comunicar para qualquer media ou mercado internacional. O treino de competências foi muito importante a este nível. “A competitividade deixou de ter fronteiras e quem pensar o contrário rapidamente compreenderá que o seu negócio está a prazo, porque alguém se posicionará para ocupar esse lugar”, garante Rita Serrabulho.
Embora seja Ceo, continua muito focada na operação – mantém proximidade com os clientes e esforça-se para estar junto dos media e de stakeholders que acrescentem valor de comunicação aos seus negócios. As relações institucionais, o pensamento e desenvolvimento estratégico, bem como o trabalho de desenvolvimento de competência de líderes é responsabilidade sua – “é um trabalho de relação e confiança que não se pode delegar.”
Com o surgimento do COVID-19, Portugal teve de enfrentar uma nova crise. De acordo com Rita, a crise sanitária abalou muitos dos pilares principais do ser humano: a confiança, a segurança, a liberdade e a família. “Ora, quando os nossos valores vitais – e neste caso são vários ao mesmo tempo – são postos em causa, as pessoas e organizações destabilizam”, ilustra.
De um momento para o outro, fomos privados da nossa realidade habitual, ficamos confinados, impedidos de trabalhar e muitas vezes de receber salários. Em muito casos, perdemos pessoas importantes da nossa vida e tudo isto aconteceu com muitas incertezas para o futuro o que resultou numa perda de confiança, motivação e esperança. Por isso mesmo, Rita acredita que a comunicação tem um papel fundamental na gestão de crise. “É a bússola que gera a informação para podermos gerir e agir dentro de cada universo, e com isso fazer escolhas e tomar decisões.”
É necessário que qualquer líder, seja familiar, empresarial ou até do país, disponibilize a informação de forma honesta, realística e acessível. “Mesmo que esta seja muito difícil e não haja uma solução, é preciso explicar cenários e as razões das escolhas efetuadas”, realça.
A AMP Associates está habituada a lidar com a gestão de crise, o que facilitou a navegação no contexto pandémico. Para além disso, o facto de Portugal ter sido dos últimos países da Europa a ser afetado ofereceu uma margem para antever cenários e preparar os clientes para a crise.
Prioritariamente acionaram os gabinetes e planos de crise e definiram novas estratégias de comunicação para os seus clientes – a aproximação dos líderes aos colaboradores através da comunicação interna e uma comunicação estratégica permanente com os stakeholders-chave. “O trabalho foi muito de manter uma comunicação viva e ativa no mercado”, diz Rita. “A valorização do capital humano foi, na minha opinião, crucial para ultrapassar desafios e manter vivas as organizações.”
Foi um período de aprendizagem para todos, incluindo Rita. “Mais do que nunca as empresas tiveram que arranjar estratégicas para dizerem aos consumidores que estavam disponíveis para dar respostas às suas necessidades”, explica. Uma tarefa desafiante, já que o espaço mediático estava inundado por Covid e as pessoas estavam fechadas em casa. “Quem o soube fazer, não será esquecido”, garante.
Agora que a pandemia parece controlada, que as restrições foram retiradas e que começamos a viver perto da realidade pós-pandemia, Rita está muito otimista. “Admito que vamos passar um processo de adaptação, com muitas alterações ao nível da ges- tão de recursos humanos e modelos de negócio que implicarão a morte de algumas empresas e o nascimento de outras, mas conseguiremos recuperar a médio prazo”, prevê.
A CEO espera que esta crise tenha ensinado às empresas portuguesas que vivemos num mercado global e que para tal precisamos obrigatoriamente de ser mais competitivos. Cada produto ou serviço que se disponibiliza concorre com todo o mundo e não só com o que se faz no país. Esta realidade, que cresceu ainda mais através da digitalização, aumenta a competitividade, mas também o potencial de venda, e por isso a comunicação internacional é fundamental para o sucesso.
Por acreditar tanto no sucesso possível das empresas portugueses, fez parte da criação do livro O Futuro é Hoje, onde deixou conselhos para um Portugal pós-pandemia. A crise sanitária veio expor severamente as fragilidades das empresas que já existiam, na medida em que muitas não tinham mercados alternativos internacionais, não tinham uma organização processual e metódica para fazer face a uma crise e mantinham uma relação distante dos seus colaboradores, o que dificultou o trabalho quando mais precisaram deles.
Assim, Rita salienta que a comunicação internacional, a estruturação de gabinetes e manuais de crise e uma forte comunicação interna de proximidade e motivação dos colaboradores devem ser práticas prioritárias na gestão de todas as empresas.