Paula Teles é CEO da empresa Mpt® – Mobilidade e Planeamento do Território. Conheça a empresa da empreendedora, com reconhecida experiência profissional.
Empreendedora e com uma visão de futuro que atravessa todas as fronteiras, Paula Teles assume o papel de liderança da Mpt® ao lado dos seus colaboradores de forma a otimizar as cidades sem descurar a mobilidade dos que lá trabalham, residem e visitam.
Natural de Alvarenga, concelho de Arouca, termina o curso de Engenheira Civil – Planeamento do Território na FEUP e prossegue os estudos de Pós-Graduação em Estratégias e Metodologias da Gestão Urbanística. Finaliza o percurso académico com mestrado em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano (FEUP/FAUP), com Tese de Mestrado sobre “Os Territórios (sociais) da Mobilidade.”
Inicia o percurso profissional na Câmara Municipal de Matosinhos, exercendo funções de Técnica Superior na Divisão de Trânsito e Mobilidade, na qual integrou a equipa do projeto europeu PROACESS (1994-1996), primeiro projeto europeu de abordagem sobre a humanização das cidades. Em 2004 decide dar um passo que se revelou decisivo para a sua carreira como profissional e líder empresarial e cria a Mpt®, empresa de planeamento urbano e gestão da mobilidade que, dez anos depois alarga a sua área de atuação ao Brasil, abrindo escritório em São Paulo e, recentemente, já está com projetos também em Africa. Com uma visão nunca antes abordada em Portugal (re)pensa a mobilidade urbana, introduzindo a mobilidade àqueles que têm mais dificuldades, designada de mobilidade inclusiva e torna-se Consultora Autárquica nesta área, em largas dezenas de municípios, colabora, pontualmente, com diversas entidades do Governo Português e ainda leciona, como professora convidada, em várias universidades públicas portuguesas.
Paula Teles, CEO da Mpt®, que apenas gostava de fazer desenhos, nunca planeou ser engenheira, mas na altura em que teria que escolher a sua arte, a família convenceu-a a tentar ultrapassar os desafios da engenharia e a não enveredar pela arquitetura já que, naquela altura, ainda muito ligada às Artes, esta seria uma área com poucas garantias profissionais. Oriunda de uma família de comerciantes, que sempre se habitou a lutar para vencer, Paula Teles considera que o empreendedorismo faz parte do seu ADN. Segundo nos confessa, “gosto do ritmo agitado, da relação com o cliente, de realizar e idealizar novos projetos e abraçar desafios que, à primeira vista, parecem impossíveis de concretizar”.
Como consultora autárquica, Paula Teles ganhou a capacidade de lidar com grandes projetos e o seu grande objetivo é, precisamente, continuar a trabalhar e ser parte integrante de uma sociedade com maior qualidade de vida. Descobriu de forma inovadora a relação inequívoca da área social com o território e, esta perspetiva, trouxe um novo patamar de exigência a todos que projetavam as cidades.
E esta entrevistada revela mesmo isso, evidenciando que a engenharia clássica não é, de todo, a base do seu trabalho: “Eu revejo-me como uma realizadora de projetos integrados. Tento humanizar as cidades, introduzindo aquilo que é a abordagem das cidades nas diferentes escalas e dando-lhe o toque de design na sua funcionalidade. O meu papel é incorporar a Pessoa como peça central do projeto. Tento sempre questionar-me sobre a importância de cada projeto para a melhoria do bem comum.”, avança.
Durante dez anos, Paula Teles fez parte da Divisão de Trânsito da Câmara Municipal de Matosinhos e foi aí que teve a perceção que havia muito a fazer em todo o país, ao nível do Urbanismo e da Mobilidade. Tira então o Mestrado de Planeamento do Ambiente Urbano com grande enfoque na mobilidade urbana para aumentar o seu conhecimento. Ao se dedicar a esta área específica, a engenheira percebeu que circular no meio urbano pode ser uma tarefa árdua para quem circula numa cadeira de rodas ou simplesmente com um carrinho de bebé e, portanto, segue à risca a sua máxima, trabalhando no terreno para que estas questões fossem ultrapassadas. Daí até ao próximo passo foi apenas uma questão de encontrar o espaço certo: Numa conferência, na Alfandega do Porto, realiza uma abordagem sobre a perspetiva da mobilidade muito aplaudida. “Passado pouco tempo, Alberto Santos, Presidente da Câmara de Penafiel, convidou-me para ser sua assessora em matéria de mobilidade e planeamento urbano e, rapidamente, percebi que este seria o caminho que queria percorrer”. Assim surge a Mpt®, uma empresa que trabalha para as autarquias com vista à melhoria dos estacionamentos, a alterações de trânsito, introdução de condições de acessibilidade, preparação dos municípios para a inclusão da deficiência ou seja, para todos. Começou a encarar os municípios como laboratórios vivos, percebendo que não obstante os conceitos gerais terem de ser os mesmos, cada um tinha de ser tratado no seu local. E desta forma, Paula Teles tem trabalhado em prol da melhoria das acessibilidades, dos transportes e de mobilidade de uma forma geral, contribuindo grandemente para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, com uma visão holística, incluindo nos seus projetos as áreas da arquitetura e do design, do urbanismo, do planeamento do território e mesmo da sociologia urbana.
A empresa foi então crescendo e hoje conta com quase 15 anos de sucesso no terreno. Mas a nossa entrevistada lembra que esse sucesso se deve ao forte investimento feito nas pessoas e na própria empresa. Na Mpt® faz-se um investimento constante na formação e dá-se espaço aos colaboradores para crescerem enquanto profissionais e assim, como todo o espaço físico tende a confundir- se com um ambiente familiar, fatores, relevantes na marca da empresa.
É importante também perceber que a Mpt® foi uma empresa que surgiu quase como uma atividade paralela de Paula Teles já que o seu rendimento principal advinha das profissões de professora universitária e de assessora técnica. Esta visão tripartida mas necessária entre o mundo académico, o terreno e os estudos/ projetos, acompanhou o crescendo sustentado da empresa, que solidificou a sua marca de forma gradual, marcando paulatinamente a sua presença no mercado. Esta postura, conforme nos adianta a nossa interlocutora, transmitiu confiança e segurança e, aliado a isso, a qualidade e o rigor com que todos os projetos são feitos, permitiu que os principais intervenientes das questões da mobilidade e urbanismo olhassem para a Mpt® como a parceira ideal.
Atualmente, a Mpt® tem cerca de 70 projetos a decorrer em simultâneo e o único objetivo, em todos eles, continua a ser o que esteve na génese da criação da empresa: Eliminar barreiras, dar funcionalidade às ruas e às cidades, humanizando-as, e ao mesmo tempo, incluir todas as pessoas nas suas diferenças de mobilidade. No fundo, e após conversar um pouco com a empresária, percebemos que Paula Teles é, de facto, uma consultora de qualidade de vida na área urbana e ficamos sem saber exatamente o limite do seu trabalho. Porque podemos dizer isto? Fácil, refere que quando um cliente procura a Mpt®, há a necessidade de fazer um levantamento de necessidades. Imaginemos um caso concreto, “estamos neste momento a trabalhar também com a autarquia de Sines e para conseguir apresentar uma proposta inicial de projeto, foi necessário estar no concelho durante uns dias. Depois de percebermos quais eram os pontos fortes e fracos, traçamos um projeto que envolve as mais variadas vertentes, desde os espaços verdes até aos estacionamentos, ao mobiliário urbano, à iluminação, etc., etc. O mesmo acontece em Amarante onde temos vindo a trabalhar, há dez anos, fazendo um diagnóstico rigoroso da cidade para a podermos transformar esta pérola preciosa num espaço urbano que conjunge funcionalidade, design, arte e história. Cada projeto tem a sua funcionalidade e todos têm diferentes soluções, nenhum se repete: as cores, a aplicabilidade, o design, a paisagem onde se insere, o respeito pela traça da região, tudo tem de se criado para aquele efeito. Se podermos associar à cidade um pouco de design, o espaço fica mais agradável. Há quem faça decoração de interior, eu faço decoração de exteriores. Se conseguir introduzir nos meus projetos a capacidade de poder viver muitos anos no local intervencionado de forma mais autónoma, um espaço que acompanhe o envelhecimento da população de forma amigável, quase que interpretando o ciclo de vida humana de forma natural, terei grande parte do meu sonho realizado. Penso que esta abordagem humana do espaço físico, é o que diferencia os nossos projetos”.
É certo que a empresa cresceu, não há dúvidas, mas isso aconteceu à custa do empenho e do trabalho desta empreendedora que, muitas vezes, travou sozinha esta guerra: “Há cerca de quinze anos, ninguém falava de acessibilidades, eu fazia uma conferência aparecia um número reduzidos de pessoas. Hoje, temos aulas na universidade, inúmeras conferências, trabalhos ligado à investigação, projetos para turismo, porque a área de mobilidade e planeamento do território devem ser inclusivas, para todas as pessoas. As políticas públicas também absorveram e muito bem estas ideias e temos dado saltos muito significativos em Portugal. “As áreas urbana têm de estar preparadas para todos, têm de existir rampas ou outras soluções, equipamentos para pessoas cegas, surdas, com problemas cognitivos, etc. por forma a poderem viver com mais qualidade no seu espaço”. E qual é o papel de Paula Teles? “O meu papel é encontrar soluções adequadas para cada caso, enquadrando essa funcionalidade no património existente, e cada espaço é um desafio à nossa criatividade, dando muito trabalho, pelo detalhe que é necessário estudar de forma pormenorizada, e esse é o grande desafio. Tendo a noção que as pessoas com dificuldade de mobilidade têm o mesmo direito a desfrutar do património histórico ou natural que os territórios contêm”. Atualmente, a Mpt® realiza e acompanha todo o projeto: “desde o planeamento, ao projeto, design, comunicação e mesmo fiscalização da obra. Só não realizamos a empreitada. Mas somos a única empresa no país que faz este tipo de projetos incluindo toda a cadeia da produção até à obra física ”.
Aqui, na Mpt®, faz-se o cruzamento entre a necessidade à utilidade do espaço urbano juntando o design e mobiliário urbano mais atrativo que se enquadre na arquitetura local. “Isto é uma conceção desenhada ao pormenor. A Baixa de Vilamoura tem sido totalmente planeada na mobilidade e requalificada urbanisticamente pela Mpt®, sendo o único lugar em Portugal que tem passeios com guias para portadores de deficiência visual, e está a ser toda desenhada à cota zero. O nosso objetivo é criar “Smart Cities”, cidades mais informadas para os seus utilizadores”, explica.
Neste momento, “estamos a trabalhar com projetos na área do turismo e uma das lacunas nos restaurantes, por exemplo, é não terem casas se banho para deficientes motores ou ementas em braille. Aos poucos implantamos essas correções, pequenas coisas que fazem toda a diferença na escolha do destino. E podemos ainda não escolher todos as cidades onde habitamos, mas escolhemos as que visitamos”.
A Mpt® investiu também na área de modelação dos transportes públicos: “Perante um determinado território analisam- se as linhas das carreiras, fazemos a sua contabilização de modo a saber se são suficientes ou não, e ajustamos à nova legislação. Por exemplo, a partir de 2019 não pode existir nenhum aglomerado urbano com mais de quarenta habitantes, que não seja servido duas vezes ao dia por transportes públicos”. Neste sentido, foi criado recentemente um novo departamento na empresa, para apoiar as autarquias e as CIMs a se constituírem como Autoridades de Transportes nestes próximos meses, integrando este trabalho no planeamento da mobilidade desejado para cada município.
Em síntese, esta equipa multidisciplinar de engenheiros, arquitetos, urbanistas, designes e arquitetos paisagistas têm de estar em total sintonia com os planeadores de território, geógrafos, sociólogos e engenheiros do ambiente que constituem parte da equipa do planeamento do espaço urbano, que é integrado com as diversas áreas de forma a criar cidades inclusivas, amigas, seguras e bonitas”, finaliza a nossa entrevista relembrando que a Mpt® é uma empresa com uma visão holística do território e tem tido um papel relevante em Portugal ao nível da mobilidade urbana.